Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize criam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, patrocinada pela Academia Brasileira de Ciências. Inaugurada em 20 de abril.
Inauguração do Edifício Joseph Gire, conhecido como A Noite, na Praça Mauá.
Criação do Departamento Oficial de Propaganda (DOP);
Decreto 20.047 regula as radiocomunicações da exclusiva competência da União.
Decreto 21.111 aprova o regulamento para a execução dos serviços de radiocomunicação no território nacional.
Em 18 de maio é constituída a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional.
DOP é substituído pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural(DPDC).
Em 22 de julho estreia o radiofônico Programa Nacional.
Roquette-Pinto doa a Rádio Sociedade ao então Ministério da Saúde e Educação. Nasce a Rádio MEC.
Inauguração da Rádio Nacional do Rio de Janeiro em 12 de setembro.
Criação da Agência Nacional por Getúlio Vargas.
DPDC é transformado em Departamento Nacional de Propaganda (DNP).
Estreia em 3 de janeiro A Hora do Brasil, em cadeia nacional.
Decreto-lei 1.915 - DNP vira Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) com um DEIP em cada estado.
Decreto 5.007 aprova o regimento interno e o Decreto-lei 1.949 regulamenta o DIP.
Rádio Nacional é incorporada à União.
Decreto-lei 2.073 incorpora Rádio Nacional ao patrimônio da União.
A redação da AN tinha 220 pessoas. No ano foram produzidos 13 mil notícias e 48 mil fotografias.
Estreia do Radioteatro Colgate em 5 de junho, com Em busca da Felicidade. Em 28 de agosto estreia o Repórter Esso.
Inauguração de três estações de ondas curtas direcionadas para EUA, Europa, Ásia e parte da África. Transmitiu programa para os pracinhas brasileiros na guerra.
Decreto-lei 7.582 extingue o DIP e cria o Departamento Nacional de Informações (DNI).
Decreto-lei 8.356 acaba com a censura prévia na imprensa e na radiodifusão.
Com a extinção do DNI, a AN é subordinada ao Ministério da Justiça e passa a produzir cinejornais.
Realizou os primeiros testes para a implantação da televisão no Brasil, com o programa Rua 42.
Lançada a Revista do Rádio.
Década do auge das radionovelas.
A redação de notícias foi mobilizada por 6 meses na campanha nacionalista do petróleo.
Lei 2.083 regula a liberdade de imprensa.
Presidente Juscelino Kubistschek acena com a criação da TV Nacional, mas desiste.
Decreto 42.943 outorga às Empresas Incorporadas ao Patrimônio na União a concessão para estabelecer uma estação de radiotelevisão.
Criação da Rádio Nacional de Brasília.
Com a hegemonia da televisão, adota programação de música gravada, esporte e notícias.
Instalada a rede Telex no Brasil, estrutura de distribuição de notícias das agências para as redações.
TV Nacional Brasília vai ao ar experimental em 21 de abril e definitiva em 4 de junho.
Decreto 49.259 cria a Campanha Nacional de Radiodifusão Educativa para promover teleducação.
Decreto 50.840 conferiu à AN o poder de convocar cadeia de rádio e televisão e cuidar de sua execução técnica.
Lei 4.117 - Código Brasileiro de Comunicações.
Lei 5.198 cria a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTV/MEC).
Decreto 60.349 integra a Agência Nacional ao Gabinete Civil da Presidência da República.
Decreto-lei nº 236 modifica o CBT, cria televisão educativa de caráter não-comercial.
Última transmissão do Repórter Esso, em 31 de dezembro.
TV Educativa do Maranhão vai ao ar no dia 1 de dezembro.
Decreto 65.239 - Estrutura para fazer o Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais, incluindo rádio, televisão e outros meios.
Decreto 67.611 - Sistema de Comunicação Social do Poder Executivo, vincula Assessoria Especial de Relações Púbicas da Presidência da República.
Portaria 408 - Obrigatoriedade de conteúdo educativo nas TVs.
Decreto 70.066 - Plano Nacional de Teleducação (Prontel) e Projeto Minerva.
Rádio Nacional de Brasília AM passa a transmitir com 600 kw de potência à noite, alcançando todo o Brasil.
Entra no ar em 5 de novembro a TVE RJ.
Lei 6.301 - Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás), vinculado ao Ministério das Comunicações.
Entra no ar a Rádio Nacional FM, primeira FM de Brasília.
Decreto 77.698 constitui a Radiobrás.
Inauguração da Rádio Nacional da Amazônia em ondas curtas.
Lei 6.650 cria a Secom, à qual é vinculada a Radiobrás.
Agência Nacional transformada em Empresa Brasileira de Notícias (EBN),
Decreto 83.993 constitui a Empresa Brasileira de Notícias (EBN), vinculada à Secom.
Criação do Sistema Nacional de Televisão Educativa (Sinted).
Estreia do programa Viva Maria.
SECOM é extinta e as funções incorporadas à chefia da Casa Civil. Radiobrás volta ao Ministério das Comunicações e a EBN ao Ministério da Justiça.
Criação da Rádio MEC FM em 10 de maio, com foco na música clássica.
MEC cria Sistema Nacional de Radiofusão Educativa.
Federalização da TV Educativa do Maranhão.
Reformas editoriais e cooperação com a TASS da União Soviética.
TVE transmitida via satélite Brasil SAT.
EBN é extinta e o serviço informativo passa para a Radiobrás.
Decreto 96.212, de 22 de junho incorpora a EBN à Radiobrás, que passa a se chamar Empresa Brasileira de Comunicação.
Constituição Federal estabelece a complementariedade entre sistemas estatal, público e privado (artigo 223).
Decreto 95.955 autoriza a Radiobrás a alienar emissoras de rádio e televisão.
Com a fusão da EBN com a Radiobrás, a Rádio Nacional passa a ser a geradora da Voz do Brasil e das Redes Obrigatórias de Rádio.
FCBTV vira Fundação Roquette-Pinto.
Criação da Agência Brasil na Radiobrás, mas subordinado ao Ministério da Justiça. Notícias governamentais para abastecer os veículos de comunicação e Voz do Brasil.
Decreto 99.244 muda a Radiobrás do Ministério das Comunicações para o da Justiça.
Lei 8.389 institui Conselho de Comunicação Social.
Secom recriada.
Lei do Cabo institui a obrigatoriedade um canal educativo-cultural.
Lançamento do site da Agência Brasil, que distribuía também discursos do presidente.
Lei 9.637 - extinção da FRP e criação da Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (Acerp).
Criação da TV Naciona Brasil - NBR, a TV do Governo Federal.
Lei 9.612 institui serviço de radiodifusão comunitária.
Distribuição só pela internet, passa de estatal para agência de informação pública com foco no Governo Federal.
Decreto 4.454 vincula a Radiobrás à Secom.
Convênio com a Petrobrás compra novos transmissores e equipamentos para a Nacional do Rio de Janeiro. Recuperação dos estúdios e auditório.
Bucci remodela a ABr para fins jornalísticos.
Encontro O Desafio da TV Pública, promovido pela TVE Rede Brasil.
Em 2 de julho é reinaugurada a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A programação é renovada.
Em 11 de outubro é lançada a Radioagência Nacional.
Ampliação da grade e novos programas na TV Nacional.
TV Brasil - Canal Integración.
Decreto 5.371 institui as Retransmissoras Institucionais.
Rádio Mesorregional do Alto Solimões.
Página institucional da Radiobrás separada do conteúdo jornalístico. ABr publica texto, fotos, áudio, livro e infográficos. Creative Commons 2.5.
I Fórum Nacional das TVs públicas.
MP 398 cria a EBC, convertida na Lei 11.652/2008. Incorpora os serviços e bens da Radiobrás e da Acerp
Participação Social - Ouvidoria e Conselho Curador.
TV Brasil entra no ar em 2 de dezembro no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e São Luís.
ABr entra como uma página dentro do website da EBC.
TV Brasil Integracional sucede Canal Integración.
Lançamento do Portal EBC.
Lei 12.485, do acesso condicionado.
Manual de Jornalismo da EBC.
Edifício A Noite é tombado como patrimônio histórico e artístico pelo Iphan.
Retomada tradução e páginas em inglês e espanhol.
Acerp volta a ser vinculada ao MEC. Não tem mais controle sobre a Rádio MEC.
Central de Conteúdo.
Canais do Poder Executivo na multiprogramação da TV Brasil Digital.
Seminário modelo Institucional da EBC: balanços e perspectivas.
Correspondentes nacionais.
MP 744, convertida na lei 13.417 de 2017, retira dispositivos de comunicação pública da EBC.
Campanha Fica EBC.
Aplicativo EBC Rádios.
Fim da TV Brasil Internacional.
Rádio Nacional Amazônia fora do ar.
Aplicativo EBC Play.
Plano de Demissão Voluntária
Dossiê da Censura
Lançada nova logo na TV Brasil. Programação unificada com a NBR.
Portaria 216 da EBC unifica programação da TV Brasil com a NBR governamental.
Fechamento da praça da EBC no Maranhão
Leilão do Edifício A Noite.
Recriação do Ministério das Comunicações, ao qual é vinculada a EBC.
Qualificação da EBC para o PPI.
Lançamento da Ouvidoria Cidadã da EBC.
Entrada da EBC no Programa Nacional de Desestatização (PND).
Rádios Nacional AM ganham espaço na banda estendida da FM.
Rádio MEC FM chega a Brasília na banda estendida.
Nascido em 25 de setembro de 1884, data na qual posteriormente se passou a comemorar no Brasil o Dia do Rádio, Edgard Roquette-Pinto foi um dos principais defensores da divulgação científica e da radiodifusão educativa no Brasil. Formado em Medicina, foi professor na Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional, onde foi também diretor.
Participou da expedição Rondon, no Mato Grosso, e foi professor de História Natural, atuando no movimento de renovação educacional no Brasil. Um dos idealizadores da Sociedade Brasileira de Ciências (atual Academia Brasileira de Ciências), criada em 1916, trabalhou intensamente com divulgação científica, usando estratégias e meios de comunicação como livros, exposições, cinema e rádio.
Roquette-Pinto defendia que o Museu Nacional deveria ser uma instituição com caráter também educativo e, como idealizador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, utilizou as ondas eletromagnéticas para veicular, além de música e notícias, cursos dos mais diversos temas. Fundou também, em 1934, a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, emissora que hoje leva seu nome e pertence ao governo do estado.
Escreveu para jornais como A Manhã, A Noite, Diário Carioca e Jornal do Brasil sobre temas que incluíam a questão educativa e de radiodifusão, além da valorização do homem brasileiro, pesquisa básica, ciência e arte, literatura, populações indígenas e tendências da medicina moderna. Roquette-Pinto também foi editor das revistas de divulgação científica Radio – Revista de Divulgação Científica Geral, Electron e Revista Nacional de Educação e diretor do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE).
Imortal da Academia Brasileira de Letras, foi eleito para a cadeira 17 em 20 de outubro de 1927, tomando posse em março de 1928. Roquette-Pinto morreu no dia 18 de outubro de 1954.
Fonte: Academia Brasileira de Letras e Fiocruz
Francês naturalizado brasileiro, Henrique Morize nasceu no dia 31 de dezembro de 1860 em Beaune. Astrônomo e engenheiro, foi um dos grandes nomes da divulgação científica do Brasil na virada do século 19 para o 20.
Foi diretor do Imperial Observatório do Rio de Janeiro e fundador e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Ciências, que atualmente se chama Academia Brasileira de Ciências. Além de colaborar ativamente para a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, também foi presidente da instituição.
Escreveu para publicações como Revista do Observatório, Revista da Sociedade Brasileira de Ciências, Revista da Escola Polytechnica, Jornal do Commercio, A Noite e Correio da Manhã. Como professor da Escola Politécnica do RJ, chefiou em 1919 a missão brasileira para a observação do eclipse solar total em Sobral (CE).
Morize iniciou os estudos de sismologia no Brasil, instalando em 1905, no Observatório do Castelo, instrumentos que permitiam registrar terremotos, e contribuiu com a organização de rede nacional de estações meteorológicas. Como divulgador da física experimental no ensino superior, estimulou diversos estudantes, entre eles Edgard Roquette-Pinto.
Como cientista, defendia o apoio e a vontade política dos governantes para o desenvolvimento científico do país, além de atuar na consolidação e desenvolvimento da pesquisa básica e da ciência pura, sem necessariamente visar atender a objetivos práticos imediatos.
Morreu em 19 de março de 1930, aos 69 anos.
Fonte: Fiocruz
Após a primeira experiência de transmissão de rádio feita no Brasil, para comemorar o centenário da independência do país, no dia 7 de setembro de 1922, a primeira rádio brasileira nasceu como um instrumento educativo e de difusão da ciência e da cultura. A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi ao ar no dia 20 de abril de 1923, criada por Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize e patrocinada pela Academia Brasileira de Ciências, da qual ambos eram membros.
A programação incluía música clássica, informativos, cursos – como os de inglês, francês, história do Brasil, literatura portuguesa, literatura francesa, radiotelefonia e telegrafia – e palestras de divulgação científica. A rádio recebeu a visita do físico Albert Einstein em 1925 e transmitiu as palestras da cientista prêmio Nobel Marie Curie durante sua estada no Brasil, em 1926.
Laurindo Leal Filho destaca que os objetivos defendidos por Roquette-Pinto para a primeira emissora do país eram as mesmas da BBC de Londres, que estava sendo fundada na mesma época por John Reith, apesar de não haver evidências de que os dois tenham tido qualquer contato.
“Roquette-Pinto dizia que todos os lares espalhados pelo imenso território brasileiro receberiam conforto moral da ciência e da arte pelo rádio; na Inglaterra, John Reith afirmava que o objetivo do rádio era o de levar para dentro do maior número possível de lares tudo o que de melhor existia em cada parte do esforço e da realização humana. Ou seja, essas eram as missões do rádio, que, no caso da BBC, se transferiu também para a televisão”.
Escute aqui uma fala de Edgard Roquette-Pinto sobre a visita de Einstein à Rádio Sociedade:
A Rádio Sociedade funcionou até 1936. Em 2005, a Fundação Oswaldo Cruz recuperou e digitalizou o acervo disponível, catalogando e disponibilizando no site do projeto "Memória da Rádio Sociedade" cerca de 4 mil documentos, entre fotos, áudios, programação e, principalmente, cartas de ouvintes. O material pode ser acessado clicando aqui.
Ouça uma reportagem de arquivo da Rádio MEC sobre a estreia da Rádio Sociedade. O áudio histórico, com o depoimento de Roquete Pinto, foi veiculado no quadro Rádio Memória, do programa Rádio Sociedade, que estreou na Rádio MEC no dia 22 de setembro de 2019.
Fonte: Fiocruz e Carmona (2003)
Com imponentes 102,5 metros de altura, divididos em 22 andares com pé direito alto, o Edifício Joseph Gire, conhecido como Edifício A Noite, nome do jornal que o construiu, chamava a atenção de quem desembarcava no Porto do Rio na década de 1930, fechando a Praça Mauá em frente à Baía da Guanabara e rodeado de sobrados e pequenos prédios.
A obra começou em 1927, no local onde ficava o Liceu Literário Português. O prédio número 7 da Praça Mauá foi inaugurado com muita festividade no dia 7 de setembro de 1929, na época o maior arranha-céu da América do Sul e primeiro do Brasil. Poucos anos mais tarde, o local passaria a sediar a Rádio Nacional. O projeto foi feito em colaboração entre os arquitetos Joseph Gire, autor também de construções memoráveis como o Copacabana Palace, o Hotel Glória e o Palácio Laranjeiras, e Eliziário da Cunha Bahiana, responsável pelo Viaduto do Chá, além do calculista Henrique Baumgart, que também fez o Palácio Capanema. A empresa Gusmão, Dourado e Baldassini executou a obra.
A construção foi tocada com o empenho do diretor do jornal A Noite, Geraldo Rocha, porém, devido ao grande custo do empreendimento, ele acabou endividado e pediu demissão em 1931, entregando todos os bens do jornal, inclusive o edifício, para a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, do empreendedor norte-americano Percival Farquhar.
Marco da utilização do concreto armado no país e símbolo da modernidade, o prédio tem o estilo Art Decó, que marcou a arquitetura de vários países das décadas de 1920 a 1940. Endereço do mais alto status na época, o A Noite sediou também empresas como Philips e Pan Am, as agências de notícias La Prensa e United Press Association e os consulados dos Estados Unidos e Canadá.
Fonte: Iphan
Confira a carta enviada pelo ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema, para Roquette-Pinto, sobre a doação da emissora.
Clique aqui para ser direcionado ao PDF
Fonte: Fiocruz
O investidor Percival Farquhar decide ampliar os negócios do jornal A Noite e institui a Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional 18 de maio de 1933.
É inaugurada em 12 de setembro, um sábado, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, pelo jornal A Noite, em ondas médias, prefixo PRE-8, com a música Luar do Sertão, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. As notas foram ouvidas logo após a transmissão obrigatória do Programa Nacional.
Ouça a música que inaugurou a Rádio Nacional, na voz de Paraguassu.
No domingo, dia 13 de setembro, a Rádio Nacional fez a primeira transmissão esportiva, de Flamengo x Fluminense, com narração de Oduvaldo Cozzi.
Ouça a narração de Oduvaldo Cozzi para o gol de Zagallo na Copa de 1962, no Chile, contra o México.
Programa de rádio de transmissão obrigatória pelas emissoras, produzido pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) para divulgar os atos do governo. A primeira transmissão ocorreu no dia 22 de julho de 1935.
Fonte: CPDOC/FGV
Levado por motivações políticas, econômicas e tecnológicas, o governo de Getúlio Vargas criou uma agência de notícias estatal, de alcance nacional, para atender ao projeto modernista de integração nacional por meio da circulação doméstica de notícias e também difundir os discursos do regime. Nascia assim, em 1º de março de 1937, a Agência Nacional (AN), subordinada ao Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, alinhada ao objetivo de divulgar os atos do governo.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
Quando o DPDC foi transformado no Departamento Nacional de Propaganda (DNP), em 1938, inaugurou-se o programa "Hora do Brasil", transmitido diariamente por todas as estações de rádio, com duração de uma hora, visando à divulgação dos principais acontecimentos da vida nacional.
Ouça a música tema da Hora do Brasil, O Guarani, de Carlos Gomes.
Fonte: CPDOC/FGV
Criado em 1931 como Departamento Oficial de Publicidade e substituído em 1934 pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), a intenção do governo com o órgão foi o de implantar uma política de controle da informação transmitida pelo rádio e pela imprensa. Entre as iniciativas está a criação do radiofônico Programa Nacional e da Agência Nacional, ambos para divulgar as iniciativas do governo.
Fonte: CPDOC/FGV
Com a implantação do Estado Novo, o DPDC vira Departamento Nacional de Propaganda (DNP) em 1938 , passando a exercer funções de “educação nacional”, controle da imprensa e censura, bem como a promoção do Brasil no exterior, com o lançamento de jornalistas e escritores nacionais em jornais estrangeiros e a criação do Boletim de Informações, editado em quatro idiomas e distribuído em hotéis, consulados, embaixadas e navios. Ainda em 1938, o DNP lança o programa A Hora do Brasil, em substituição ao Programa Nacional, com estreia em 3 de janeiro e transmissão em cadeia nacional.
Fonte: CPDOC/FGV
O Departamento de Imprensa e Propaganda foi criado pelo Decreto-lei 1.915, de 27 de dezembro de 1939, com o regimento interno aprovado pelo Decreto 5.077, de 29 de dezembro, e teve o exercício regulamentado pelo Decreto-lei 1.949, de 30 de dezembro. O texto determina a entrada em funcionamento no dia 1º de janeiro de 1940.
Em plena vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas, o DIP, que sucedeu o DNP, foi criado com o objetivo de difundir a ideologia do governo e promover o chefe do governo e as realizações do poder executivo, sendo um porta-voz oficial do regime.
O texto legal coloca o DIP diretamente subordinado ao Presidente da República, com a função de “elucidação da opinião nacional sobre diretrizes doutrinárias do regime, em defesa da cultura, da unidade espiritual e da civilização brasileiras”, bem como “organizar e dirigir o programa de rádio-difusão oficial do Governo”.
O departamento tinha divisões de divulgação, radiodifusão, cinema e teatro, turismo e imprensa, além de filmoteca, biblioteca e discoteca. Entre as funções estava a organização de eventos e a censura prévia a publicações e espetáculos.
Aguiar e Lisboa destacam que “a configuração getulista para a comunicação estatal subordinou a uma mesma estrutura burocrática tanto a censura quanto a distribuição de informações”, já que o DIP era responsável pela Hora do Brasil e também pela Agência Nacional.
De acordo com Jambeiro et al (2004), o DIP foi responsável pela “transformação da estrutura da comunicação de massa no País”.
“A partir dele, até o final do século XX, a atividade regulatória, sempre centralizada no Poder Executivo federal, deixou de ter função exclusivamente técnica, assumindo um caráter político que incluiu, em vários momentos a censura e a perseguição aos jornalistas, proprietários de órgãos de imprensa e concessionários de radiodifusão”.
O autor destaca que o DIP foi utilizado para a autopromoção do governante e para disseminar a ideologia do Estado Novo, por meio de controle de jornais, revistas, rádios, editoras, espetáculos e festas, inclusive religiosas e o carnaval. Além disso, também teve papel importante na consolidação do rádio como veículo de comunicação de massa, fazendo a apuração dos concursos musicais promovidos pela Rádio Nacional.
Links:
Fonte: CPDOC/FGV, Aguiar e Lisboa (2016) e Jambeiro et al (2004)
A década de 1940 foi o ano do florescimento da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 1940 a emissora é incorporada à União, por meio do Decreto-lei nº 2.073, de 8 de março, que passou para o Patrimônio Nacional as propriedades da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. O texto lista a incorporação de “toda a rêde ferroviária de propriedade da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande ou a ela arrendada”; “todo o acervo das Sociedades ‘A Noite’, ‘Rio Editora’ e ‘Rádio Nacional’”; e terras nos estados do Paraná e de Santa Catarina que pertenciam à empresa.
Segundo relata Claudia Pinheiro no livro A Rádio Nacional, por dificuldades financeiras o grupo A Noite, dono da rádio, pertencia a um conglomerado estrangeiro, a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Na época, o governo federal queria uma rádio poderosa para enfrentar as agressões nazi-fascistas na Europa, então a intervenção foi balizada na lei que proibia grupos estrangeiros de controlar meios de comunicação, além do grupo estar em dívida com o União.
No levantamento Sistemas públicos de comunicação no mundo: experiências de doze países e o caso brasileiro, do Intervozes, os autores colocam que a incorporação da Rádio Nacional foi uma parte fundamental da “estratégia de fortalecimento dos instrumentos de difusão ideológica vinculados ao projeto do Estado Novo”. Porém, a emissora foi mantida como um veículo comercial, tanto na programação como no financiamento por anúncios publicitários. “Tal opção foi motivada pela necessidade de o presidente Vargas de compor com as forças sociais existentes, especialmente os empresários envolvidos e interessados no setor de radiodifusão”, segundo os autores.
Com isso, a emissora continuaria operando como uma rádio comercial, mantida por verbas publicitárias e reinvestindo os lucros na expansão. Segundo Pinheiro, a Nacional alcançou o primeiro lugar em audiência e faturamento, chegando a ter fila para patrocinar novelas ou programas.
Links:
Fonte: Pinheiro (2005), Azevedo et al (2009) e Legislação
A primeira radionovela transmitida pela Rádio Nacional foi a história cubana Em Busca da Felicidade, de Leandro Blanco, com adaptação de Gilberto Martins. A estreia ocorreu no dia 5 de junho de 1941 e a novela ficou em cartaz até 1943. O elenco contava com Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo Mayer, Ísis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint-Clair Lopes e Brandão Filho, entre outros. Os capítulos iam ao ar às segundas, quartas e sextas-feiras às 10h30 da manhã. Em outubro de 2018, o conjunto dos roteiros da novela recebeu o título de Memória do Mundo, programa do Unesco para preservação do patrimônio documental da memória cultural dos povos. A EBC guarda seis dos nove volumes do roteiro.
Ouça aqui a abertura.
Fonte: EBC e CPDOC/FGV
Referência no radiojornalismo brasileiro, o Repórter Esso estreou no dia 28 de agosto de 1941, pela Rádio Nacional, com o lema “o primeiro a dar as últimas”. O noticiário era preparado pela agência United Press International (UPI) e seguia o modelo radiofônico norte-americano. Também foi transmitido pelas rádios Globo e Tupi no Rio de Janeiro, Record de São Paulo, Inconfidência de Belo Horizonte, Farroupilha de Porto Alegre e Rádio Clube de Pernambuco.
O Repórter Esso da Nacional se consagrou na voz de Heron Domingues, que a partir de 1944 se tornou o locutor exclusivo do boletim noticiário, com o slogan “testemunha ocular da história”. Eram três transmissões diárias regulares e edições extraordinárias, em caso de necessidade. O programa permaneceu 27 anos no ar. O marcante prefixo foi composto pelo maestro Carioca e gravado por Luciano Perrone na bateria, o próprio Carioca no trombone e nos pistons Francisco Sergi e Marino Pissiani.
Ouça o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial na voz de Heron Domingues, que simula o fim do combate para o Repórter Esso.
Fonte: EBC, CPDOC/FGV e Pinheiro (2005)
Em 1942 foram inauguradas três estações de ondas curtas direcionadas para EUA, Europa e Ásia, pegando também parte da África, com os prefixos PRL-7, PRL-8 e PRL-9. No início dos anos 1940, foi a principal emissora da América Latina e uma das cinco mais potentes do mundo. As transmissões em ondas médias e curtas integraram as regiões mais distantes do território nacional. Nessa época, a Rádio também criou um programa voltado para os soldados brasileiros que lutavam na Itália, transmitindo mensagens das mães, esposas e filhos dos pracinhas, com forte apelo emocional.
Fonte: Pinheiro (2005)
A Rádio Nacional realizou, em 1946, os primeiros testes na América do Sul para a implantação da televisão, transmitindo o programa Rua 42, produzido pelo humorista, roteirista, escritor e diretor Max Nunes e animado pelo radialista Manoel Barcelos.
Fonte: Pinheiro (2005)
Em abril de 1948 foi lançada pelo jornalista Anselmo Domingos a Revista do Rádio, impulsionando o nascimento da cultura de massa no país e a ascensão da Era do Rádio. A publicação teve extremo sucesso e durou 22 anos com circulação nacional, levando ao público curiosidades e fotos dos artistas. Ao todo, foram mais mil edições até o ano de 1970, quando já se chamava Revista do Rádio e TV.
Encarnando os bastidores do rádio no país, em especial da Rádio Nacional, a revista levava ao público a vida profissional e também um pouco da intimidade do elenco que antes era conhecido apenas por suas vozes, entre cantoras e cantores, animadores de auditório, locutores, humoristas, atores e atrizes.
Com a publicação, ganharam destaque os ídolos populares e grandes estrelas do país, como Carmem Miranda, que foi capa da primeira edição, Dircinha Batista, Sylvio Caldas, Jorge Veiga, Francisco Alves e Linda Batista. Os artistas que apareceram mais vezes na Revista do Rádio foram Emilinha Borba, Marlene, Angela Maria, Cauby Peixoto, César de Alencar e Ivon Curi.
A revista tratava também de ídolos do cinema e do teatro mas, especializada em rádio, passou a reunir as notícias sobre o veículo, antes publicadas de forma irregular pelos jornais. Além de informações gerais sobre a vida pessoal dos artistas e celebridades, a fórmula da revista incluia manchetes apelativas e fuxicos.
No começo, a publicação era mensal, mas passou a semanal em março de 1950. Entre as seções fixas, a revista trazia “A pergunta da Semana”, com opiniões de artistas sobre algum tema; piadas; lançamentos de discos; teatro, cinema e, a partir de meados da década de 50, também sobre TV; perguntas dos fãs; atualidades do rádio; fofocas sobre os artistas; entrevistas; e fotos das casas dos astros.
A revista também fazia promoções e premiava os artistas de rádio, como o concurso anual “A Rainha e o Rei do Rádio”. Temas sérios relativos ao rádio eram tratados no editorial, escrito por Anselmo Domingos.
A influência da TV no país pode ser percebida a partir da edição 502 da Revista do Rádio, de 2 de maio de 1959, quando abaixo do título passou a figurar a frase “A primeira em rádio e televisão”. A partir da edição 532, de 28 de novembro de 1959, o título da publicação passou a ser Revista do Rádio e TV, incluindo na publicação a grade de programação das emissoras.
A publicação foi extinta em 1970, poucos meses depois da morte de seu criador.
A hemeroteca da Biblioteca Nacional digitalizou o acervo da Revista do Rádio, disponibilizando quase todos os números até 1965. A partir de 1966, estão disponíveis poucas edições, até a número 1.073, lançada em 1970 já com o nome de Revista do Rádio e TV.
Confira aqui o acervo da Revista do Rádio!
Fonte: Biblioteca Nacional
No ano de 1941, a redação da Agência Nacional tinha 220 pessoas e produziu 13 mil notícias e 48 mil fotografias, além de informes, comunicados e telegramas expedidos. Em 1944 a estrutura tinha imprensa local, imprensa do interior, imprensa estrangeira (traduções), recortes de jornais, documentação, copyright, redação especializada, radiotelegrafia, expedição, estatística, arquivo fotográfico, laboratório fotográfico, administrativo e taquigrafia.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
O DNI foi extinto em 1946 pelo decreto-Lei 9.788, assinado por Eurico Gaspar Dutra no dia 6 de setembro. O texto mantém a Agência Nacional, que passa a ser subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores e com uma função “meramente informativa das atividades nacionais em todos os setores competindo-lhe ministrar ao público, aos particulares, às associações e à imprensa tôda sorte de informações sôbre assuntos de interêsse da nação, ligados à sua vida econômica, industrial, agrícola, social, cultural e artística”. A agência também fica com a obrigação de “manter o jornal cinematográfico de caráter noticioso e o boletim informativo radiofônico de irradiação para todo o país”.
Segundo Aguiar e Lisboa (2016), no período a órgão passa a enfatizar a produção audiovisual, vindo a produzir um total de 958 cinejornais entre as décadas de 1940 e 1970, com filmetes curtos de atos oficiais e minidocumentários sobre temas de interesse do governo.
Links:
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016) e Legislação
Em 1945, o DIP é sucedido pelo Departamento Nacional de Informações (DNI), subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, por meio do Decreto-Lei nº 7.582, do dia 25 de maio, assinado ainda por Getúlio Vargas, já perto de sua saída do governo, o que ocorreu no dia 29 de outubro.
O decreto vincula a Agência Nacional ao diretor-geral do DNI e mantém o órgão com a função de fazer a “distribuição de noticiário e serviço fotográfico, em caráter meramente informativo, à imprensa da Capital e dos Estados”. Entre as funções do DNI estava também “organizar e dirigir os programas de radiodifusão do Govêrno”. O decreto-lei determina, ainda que os Departamentos Estaduais de Imprensa e Propaganda (DEIPs) passam a chamar Departamentos Estaduais de Informações.
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Com o fim do Estado Novo, o Decreto-Lei 8.356, de 12 de dezembro de 1945, acaba com a censura prévia na imprensa e na radiodifusão.
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Fonte: Legislação
O DNI foi extinto em 1946 pelo decreto-Lei 9.788, assinado por Eurico Gaspar Dutra no dia 6 de setembro. O texto mantém a Agência Nacional, que passa a ser subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores e com uma função “meramente informativa das atividades nacionais em todos os setores competindo-lhe ministrar ao público, aos particulares, às associações e à imprensa tôda sorte de informações sôbre assuntos de interêsse da nação, ligados à sua vida econômica, industrial, agrícola, social, cultural e artística”. A agência também fica com a obrigação de “manter o jornal cinematográfico de caráter noticioso e o boletim informativo radiofônico de irradiação para todo o país”.
Segundo Aguiar e Lisboa (2016), no período a órgão passa a enfatizar a produção audiovisual, vindo a produzir um total de 958 cinejornais entre as décadas de 1940 e 1970, com filmetes curtos de atos oficiais e minidocumentários sobre temas de interesse do governo.
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A década de 1950 vivenciou o auge das radionovelas, com destaque para títulos como O Direito de Nascer, história do escritor cubano Félix Caignet adaptado por Eurico Silva. A trama estreou no dia 8 de setembro de 1951 e ficou no ar até setembro de 1952, chegando a alcançar a marca de 73% de audiência. No elenco, nomes como Paulo Gracindo, Yara Salles, Isis de Oliveira e Mário Lago.
Ainda na década de 1940 foram ao ar as radionovelas noturnas Predestinada, Fatalidade e Maldição, todas de Oduvaldo Viana. Até meados da década de 1960, as radionovelas ocuparam boa parte da grade e foram as campeãs de audiência da Rádio Nacional. Segundo o CPDOC/FGV, durante o ano de 1943 foram transmitidas 19 radionovelas e em dez anos os títulos chegaram a 75.
Ouça aqui a abertura de O Direito de Nascer:
Fonte: EBC, Pinheiro (2005) e CPDOC/FGV
No final da década de 1940 e início dos anos 1950, diversos setores da sociedade brasileira se mobilizaram em torno da campanha para defender a exploração do petróleo no país como um monopólio estatal. O movimento começou em 1948, após o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra apresentar o projeto do Estatuto do Petróleo, que considerava a nacionalização impossível por falta de verbas e técnicos capacitados para a exploração do óleo no país.
Uma reunião no Clube Militar iniciou a campanha, articulada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, que depois mudou de nome para Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN). O projeto acabou arquivado na Câmara dos Deputados ainda em 1948.
Quando Getúlio Vargas retorna à presidência, em janeiro de 1951, ele envia ao congresso o projeto de lei para criar a empresa Petróleo Brasileiro S.A., a Petrobras, de economia mista com controle majoritário da União e permitindo que até um décimo das ações ficassem sob controle de estrangeiros. Outros projetos foram apresentados, sugerindo outras formas jurídicas para a exploração de óleo.
Com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o CEDPEN nas ruas com a palavra de ordem “O petróleo é nosso”, Vargas optou pelo monopólio estatal e autorizou a abertura das negociações no Congresso. Após muita discussão e emendas na Câmara e no Senado, a lei número 2.004 foi sancionada no dia 3 de outubro de 1953, criando a Petróleo Brasileiro S. A – Petrobras, com propriedade e controle totalmente nacionais e participação majoritária da União, que ficou encarregada de explorar como monopólio, diretamente ou por subsidiárias, todas as etapas da indústria petrolífera no país, com exceção da distribuição.
Um dos grandes nomes do movimento O Petróleo é Nosso foi o escritor Monteiro Lobato, que publicou os livros O Escândalo do Petróleo, em 1936, e Poço do Visconde, direcionado ao público infantil, em 1937, em que defendia a existência do óleo no território nacional, ao contrário do que diziam os relatórios oficiais da época. Ele também montou uma empresa para perfurar poços em busca de petróleo no Brasil.
A famosa foto de Getúlio Vargas com as mãos sujas de petróleo foi feita em Mataripe, na Bahia, em 1952, um ano antes da criação da Petrobras. Em sua carta-testamento, de 24 de agosto de 1954, Vargas cita os interesses internacionais sobre as riquezas brasileiras, em especial ao petróleo, como um dos motivos para seu suicídio:
“Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma”.
Fonte: Petrobras e CPDOC/FGV
Com o início da construção de Brasília, em 1958 foi criada a Rádio Nacional de Brasília, para apoiar a construção da cidade e ser o meio de comunicação dos trabalhadores que foram construir a nova capital. A estreia ocorreu no dia 31 de maio, tendo como marca a oferta de informação e a prestação de serviços.
No discurso de inauguração da emissora, o presidente Juscelino Kubitschek destacou a importância da Nacional de Brasília para manter o país informado sobre as obras no Planalto Central.
“Das vertentes amazônicas às coxilhas gaúchas, e dos contra-fortes andinos ao litoral atlântico, Brasília fará ouvir a sua voz, a partir deste momento, graças aos possantes transmissores da Rádio Nacional, que ora inauguramos. Milhões de lares disseminados nos mais recôndidos recessos do nosso território participarão, assim, de ora em diante, da presença física e da convivência de Brasília, e reconhecerão a fisionomia familiar desta nova metrópole. Na mensagem diária da tenacidade e do arrojo dos que estão travando esta grande batalha patriótica no Planalto Central, brasileiros de todos os quadrantes recolherão o eco das emissões cotidianas da Rádio Nacional de Brasília, como um apelo ao seu patriotismo e ao seu entusiasmo cívico(...) A Rádio Nacional de Brasília, ora inaugurada, terá a responsabilidade de atuar como traço de união entre o Brasil atual e o Brasil do futuro, criando condições propícias para a convivência e para o intercâmbio cultural das nossas comunidades regionais”.
O auditório da Rádio Nacional de Brasília foi instalado em um galpão na quadra 507 sul, onde recebeu diversos eventos, grandes nomes da MPB e talentos da música regional. No ano de 1960, as instalações da emissora foram transferidas para o Setor de Rádio e Televisão Sul, na quadra 701 sul, quando também passou a transmitir em rede com a Nacional do Rio de Janeiro.
No livro É bom viver Nacional: vidas sintonizadas em 980 kHz, resultado do projeto final de graduação em Jornalismo de Nathália Mendes e Yvna Sousa, as autoras destacam que na hora do almoço os trabalhadores paravam ao lado dos rádios de pilha para ouvir as crônicas de Clemente Luz sobre a construção da cidade.
“Por alguns minutos, Brasília parava para ouvir histórias sobre ela própria. Na Rádio Nacional, o radialista falava sobre o trabalho dos pioneiros, os prédios que eram erguidos e a dinâmica da cidade que surgia e misturava à realidade difícil, um pouco de poesia e fantasia”.
Segundo elas, nos primeiros anos da nova capital, a Rádio Nacional de Brasília foi marcada pela integração, com os serviços de recado dos candangos para os familiares nos recantos do país, e pelo entretenimento, revivendo a Época de Ouro do rádio com os programas de auditório, até criar sua própria identidade.
“O entretenimento era pautado pelos programas de auditório, que reacendiam na nova capital a cultura da década de ouro do rádio. Passaram pelos estúdios da Nacional de Brasília de artistas de renome aos desafinados calouros, aclamados por um auditório apinhado de gente. Eram programas que se estendiam por horas e colocavam o povo simples para impostar sua voz no rádio”.
O radialista Clemente Drago (in Mendes e Sousa) lembra que a Nacional era a única opção de lazer na cidade em construção.
“Na Nacional antiga, nós tínhamos programas de auditório. As portas eram abertas, ninguém pagava nada. Enchia que ficava gente do lado de fora. E com aquelas caixas acústicas enormes, lá da W3 a gente ouvia. E as pessoas vinham de Taguatinga, Gama, Planaltina, Formosa, Sobradinho, Núcleo Bandeirante. Vinham para se divertir, participar, pelos prêmios, para cantar nos concursos de calouros. A Nacional era a única alegria que o brasiliense tinha naquela época. Porque não tinha Parque da Cidade, nada. Tinha obra, construção, prédio, “esqueleto”, assento de chão, só”.
Segundo o cantor Fernando Lopes (in Mendes e Sousa), os músicos da Nacional também iam até o acampamento dos trabalhadores, animar o “candango” com transmissões ao vivo.
“Quando dava o sábado de manhã, a gente ia com esse trio no caminhão para o acampamento Pacheco Fernandes, por exemplo, fazer lá a Rádio Nacional no Seu Acampamento, com o artista mexicano Fernando Lopes, a cantora Glória Maria, a rumbeira Selma Costa, o palhaço Cacareco... E a rádio transmitia. Tinha equipamento para fazer transmissão. E lá nós entregávamos mais uma vez o microfone para o pessoal. “Fala, candango!”, e ele falava, recitava uma poesia”.
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Fonte: EBC e Mendes e Sousa (2010)
A década de 1950 também verificou a primeira tentativa de criação de uma TV de serviço público. Em um despacho de 18 de julho de 1956, o presidente Juscelino Kubitschek acenou com a criação da TV Nacional, mas desiste da ideia, sob influência de Assis Chateaubriand, e entrega a concessão do canal 4 do Rio de Janeiro ao jornalista Marinho, por meio do Decreto nº 42.940, de 30 de dezembro de 1957.
Segundo Laurindo Lalo Leal Filho (2018), a iniciativa de criar a TV Nacional foi anterior a JK, com Getúlio Vargas.
“O presidente Vargas, até que tentou em seu segundo governo, criar a TV Nacional, outorgando um canal para a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O suicídio interrompeu o plano, retomado mais tarde por Juscelino Kubitscheck impedido, no entanto, de levá-lo à frente diante das ameaças de derrubá-lo feitas por Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados. O canal 4 do Rio, que era para ser da Nacional, acabou ficando com a Globo. Acabou também aí o sonho de uma televisão pública nacional. Em seu lugar surgiram as TVs educativas voltadas para suprir as deficiências do ensino formal, a maioria dotada de poucos recursos e instrumentadas pelos governos” (LEAL FILHO, 2018, p. 50).
Acentuou-se nessa época a migração de patrocinadores, artistas e verbas publicitárias do rádio para a televisão). Jambeiro destaca que o rádio consolidou o modelo industrial de comunicação de massa adotado pela televisão no país.
Links:
Fonte: Pinheiro (2005), Leal Filho (2018) e Jambeiro (2002)
O Decreto nº 42.943, de 30 de dezembro de 1957, outorga à Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, que controlava a Rádio Nacional, a concessão para estabelecer uma “estação de radiotelevisão nesta capital”.
Na história da Rádio MEC, em 1967 é criado o Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTV/MEC), pela Lei 5.198, uma fundação com autonomia administrativa e financeira e personalidade jurídica que passa a administrar a emissora. A fundação teve o estatuto definido pelo Decreto nº 60.596 e contava em sua administração com um Conselho Curador, encarregado de aprovar o orçamento e acompanhar a execução financeira.
A FCBTV/MEC tem como finalidade “a produção, aquisição e distribuição de material audio-visual destinado à radiodifusão educativa” e fica responsável pela produção de conteúdos educativos usados por diversas emissoras do país, inclusive comerciais. Esses conteúdos eram usados “como forma de cumprimento da cota destinada à programação educativa na TV”, obrigatoriedade que consta no Decreto 236, que modificou o Código Brasileiro de Telecomunicações, e foi regulamentada pela Portaria 408 de 1970 do Ministério da Educação e Cultura, tornando obrigatório às emissoras de televisão a veiculação de cinco horas semanais de programas educativos.
Vale destacar que a atuação do governo como produtor de conteúdo audiovisual educativo é mais antiga, data de 1936, com a criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) dentro do Ministério da Educação e Saúde. De acordo com a Cinemateca Brasileira, o INCE funcionou até 1966, produzindo filmes com o objetivo de “formação popular através da divulgação de conhecimentos técnicos e científicos, e à promoção de uma identidade nacional com assuntos históricos, culturais e artísticos”, alinhados à ideologia do Estado Novo. Atualmente, 218 dos mais de 400 títulos produzidos e distribuídos pelo INCE podem ser vistos on-line no site do Banco de Conteúdos Culturais (bcc.org.br). A criação do INCE foi baseado no Decreto nº 21.240, de 4 de abril de 1932, que instituiu a censura prévia dos filmes do país.
Links:
Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira
Fonte: Azevedo et al (2009), Pieranti (2018), Valente (2009) e Cinemateca Brasileira
Com a hegemonia da televisão a partir da década de 1960, a Rádio Nacional adota programação de música gravada, esporte e notícias. Pieranti (2018) também assinala que a ditadura militar impôs limitações à emissora nas décadas de 1960 e 1970.
“A saga da radiodifusão educativa, contudo, não se restringiu, à época, às expectativas sobre a nova fase. Enquanto o Ministério das Comunicações planejava a expansão da infraestrutura no país, a opressão, a violência e a tortura impunham-se à margem da construção do Brasil Grande. A Rádio Nacional vivenciou, à época, um expurgo de profissionais supostamente identificados com a oposição ao regime militar”, segundo relata Pieranti.
De acordo com Pinheiro (2005), foram afastados no período 36 profissionais denunciados como “subversivos”, além de 81 investigados. Na lista dos afastados aparecem nomes como Gerdal dos Santos, Dinah Silveira de Queiroz, Heitor dos Prazeres, Oduvaldo Viana, Mário Lago, Dias Gomes, Nora Ney, Jorge Goulart e Gracindo Júnior, demitidos pelo Ato Institucional nº 1.
A Rádio Nacional de Brasília também sofreu impactos, como relata o radialista Meira Filho (in MENDES e SOUSA).
“Eu cheguei para trabalhar de manhã no dia em que estourou a revolução e o Brasil inteiro ouvia por aí [os rumores]. E eu abri o programa falando: “Hoje nós estamos trabalhando aqui com absoluta segurança. Porque do meu lado, tem um sargento com uma metralhadora, e ali, com o operador, temos dois soldados, cada um com um fuzil. Então, nós estamos seguros e muito bem protegidos”. Nesta altura, o Brasil inteiro tomou conhecimento que a Rádio Nacional estava ocupada pelos militares. Eu sabia conviver com este pessoal porque eu fui soldado e tive uma carreira militar brilhante, cheguei a ser cabo do Exército Brasileiro. Eu tinha que passar tranquilidade para as pessoas, o que que você ia fazer?”
O radialista Mascarenhas de Morais (in MENDES e SOUSA) lembra que a Nacional de Brasília também sofreu a censura comum nos meios de comunicação na época. “Durante a ditadura, eu trabalhei muitas vezes com pessoas do meu lado, um tipo de censor. Aqui teve uma época que veio um sargento mandar na gente. Eu ia ler uma carta e não podia, ele tinha que ler a carta antes”.
A programação musical também foi afetada pela censura, como explica o radialista Carlos Senna (in MENDES e SOUSA).
“Tinha uma lista de músicas proibidas. A maioria delas, o disco já chegava na rádio sem as músicas e a gente sabia porque era informado. Outros discos vinham com a faixa riscada, parecia que tinham passado um prego para que ela não pudesse rodar. E na maioria eram discos do Chico Buarque. Uma das músicas que eu me lembro bem, porque morria de curiosidade para saber como é que era e por que tinha sido proibida, era Apesar de Você. Outra era a famosa Para Não Dizer que Não Falei de Flores, do Geraldo Vandré, que era de 1968, mas até o começo dos anos 1980 não existia esse disco na rádio e as pessoas que tinham esse disco escondiam, não mostravam. E esse disco foi reeditado e distribuído para as rádios logo depois da ditadura”.
Fonte: Pinheiro (2005), Pieranti (2018) e Mendes e Sousa (2010)
No dia 31 de dezembro de 1968 ocorre a última transmissão do consagrado programa de radiojornalismo Repórter Esso. Na última edição, o locutor Roberto Figueiredo se emociona ao ler um resumo das principais notícias divulgadas ao longo dos 27 anos de história do programa.
Ouça aqui o último programa:
Em 1960 foi instalada a rede Telex no Brasil, criando a estrutura de distribuição de notícias das agências para as redações dos jornais e rádios. A tecnologia foi um intermediário entre o telégrafo, criado em 1838 por Samuel Morse, e o fax, que teve sua primeira rede instalada em 1949 no Japão, se popularizando em todo o mundo a partir de 1973.
Enquanto o telégrafo utilizava pulso elétrico para transmitir mensagens em um código binário de pontos e traços, chamado de código Morse, o telex e o fax utilizavam a rede telefônica para enviar e receber informações. No telex, a mensagem era escrita em um aparelho similar a uma máquina de escrever, que perfurava uma fita de papel para ser transmitida em seguida. Já com o fax era possível transmitir mensagens escritas em papel.
Operadora de telex na Agência Nacional/EBN/Radiobrás, Maria da Glória, conhecida como Glorinha, que ingressou na empresa em 1979 e atualmente trabalha na produção da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, explica que os aparelhos funcionaram até o início da década de 1990, quando foram todos recolhidos.
“Entrei como operadora de telex, tinha que ter curso de datilografia, basicamente o nosso trabalho era de digitação”.
Ouça a conversa com Glorinha sobre como funcionava o telex, a internet da época:
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016), Glorinha e Wikipedia
Em 1961 o presidente Jânio Quadros conferiu à Agência Nacional o poder de convocar cadeia de rádio e televisão, cuidando da sua execução técnica, por meio do decreto nº 50.840.
Nesse período, a Agência Nacional permaneceu estreitamente orientada pela direção político-ideológica do governo da vez, mantendo e reforçando o papel de fornecedora de conteúdo para a mídia nacional, sem ônus nem cobranças financeiras. Parte do conteúdo era traduzida e redistribuída para outros países por agências estrangeiras.
Em 1963 o decreto nº 51.872, de João Goulart, cria a Secretaria de Imprensa, vinculada ao Gabinete Civil da Presidência da República, que tinha entre as funções “distribuir todo o noticiário referente às atividades da Presidência da República” e “preparar sinopses do noticiário diário”, serviço prestado atualmente pelo Monitoramento e Análise de Mídias da EBC. Em 1965 o decreto nº 56.596, de Humberto Castelo Branco, confere à Secretaria de Imprensa a função de “selecionar, para divulgação na Agência Nacional e órgãos congêneros, as informações e atos do Govêrno, discriminados, inclusive, por ordem alfabética dos Estados e Territórios, os assuntos de interêsse imediato dessas unidades da Federação”.
Com o golpe de 1964, a Agência Nacional mudou bruscamente a linha editorial e seu papel no sistema brasileiro de informação, passando a ser vista pelo regime militar como órgão de divulgação oficial. Em 1967, a Agência Nacional foi transferida para o Gabinete Civil da Presidência da República, o que situou a divulgação governamental em alto nível.
Isso se deu pelo decreto nº 60.349, que integra a Agência Nacional ao Gabinete Civil da Presidência da República. Com isso, a Agência passa a ter a finalidade de “colaborar com os órgãos públicos, associações privadas, imprensa, rádio, televisão, agências noticiosas e público em geral, mediante a divulgação de assuntos de interêsse do país, ligados a sua vida administrativa, política, financeira, social, cultural, cívica e artística”. Definição um tanto confusa entre funções governamentais, públicas e comerciais.
No artigo 58 do decreto, está definido que a Agência Nacional tem, entre outros setores, Serviço de Sucursais e Correspondentes; Serviço de Imprensa com redação dividida em turnos; Seção de Imprensa do Exterior; Reportagem Especial para rádio e TV; seções de fotografia e de filmagem, Serviço de Cinema; Laboratório; Serviço de Radiodifusão com redação, estúdio e Seção de Televisão; Serviço de Telecomunicações; Seção de Rádio-comunicações; e Serviço de Documentação com os setores de Arquivo e Estatística, Biografias e Pesquisas, Sinopses e Recortes, biblioteca e turma de impressão.
Em 1968 o decreto nº 62.119, do governo Costa e Silva, cria a Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República (AERP), “com a finalidade de assessorar o Presidente da República nos assuntos de comunicação social”, segundo o texto legal. A AERP foi sucedida pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), órgão ao qual se sucederam as vinculações das estruturas de comunicação do governo, inclusive a experiência pública da EBC.
Ainda em 1968, o decreto nº 62.989 assegura autonomia administrativa e financeira à Agência Nacional, como órgão autônomo da Administração Direta, “sem prejuízo de sua subordinação ao Gabinete Civil da Presidência da República”. A regulamentação veio pelo Decreto-Lei nº 592, de 1969, que determina à Agência Nacional a finalidade de “exercer atribuições informativas, cabendo-lhe noticiar, fotografar, filmar, gravar, irradiar, televisionar e publicar atos e fatos da vida oficial brasileira, bem como acontecimentos cuja focalização interesse à divulgação do Brasil e sirva à cultura nacional”. Mais uma vez, um misto de funções governamentais com públicas. O órgão era composto por Direção Geral, Divisão de Informações, Divisão de Telecomunicações, Divisão Audio-Visual e Divisão de Administração, sendo que o Diretor-Geral e o Diretor da Divisão de Informações “serão jornalistas profissionais de livre escolha e nomeação do Presidente República”.
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Fonte: Aguiar e Lisboa (2016) e Legislação
O golpe cívico-militar de 1964 “mudou bruscamente não só a linha editorial, mas o próprio papel da Agência Nacional no sistema brasileiro de informação”, segundo Aguiar e Lisboa (2016). De acordo com eles, no lugar de uma empresa jornalística com autonomia relativa, a Agência Nacional “passou a ser vista pelo regime militar como ‘órgão de divulgação oficial’”.
“Dentro dessa perspectiva, já em 17 de abril daquele ano, a direção-geral da agência foi entregue ao general Otávio Alves Velho, então vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas. Os governos ditatoriais de Castelo Branco, Costa e Silva e Médici reaparelharam o órgão. Em 1967, houve a transferência da AN para o Gabinete Civil da Presidência da República, o que, nas palavras de outro diretor-geral, Arnaldo Lacombe, situou a divulgação governamental ‘no nível alto em que é preciso mantê-la’”.
Isso se deu pelo decreto nº 60.349 , de 9 de março de 1967. Assim, a Agência passa a ter a finalidade de “colaborar com os órgãos públicos, associações privadas, imprensa, rádio, televisão, agências noticiosas e público em geral, mediante a divulgação de assuntos de interêsse do país, ligados a sua vida administrativa, política, financeira, social, cultural, cívica e artística” (artigo 57, caput). Definição um tanto confusa entre funções governamentais, públicas e comerciais, além de assessoria de imprensa.
No artigo 58 do decreto, está definido que a Agência Nacional tem, entre outros setores, Serviço de Sucursais e Correspondentes; Serviço de Imprensa com redação dividida em turnos; Seção de Imprensa do Exterior; Reportagem Especial para rádio e TV; seções de fotografia e de filmagem; Serviço de Cinema; Laboratório; Serviço de Radiodifusão com redação, estúdio e Seção de Televisão; Serviço de Telecomunicações; Seção de Rádio-comunicações; e Serviço de Documentação com os setores de Arquivo e Estatística, Biografias e Pesquisas, Sinopses e Recortes, biblioteca e turma de impressão. Ou seja, uma verdadeira máquina de comunicação, abarcando praticamente todos os tipos de mídia e tecnologias da época.
Em 1968, o decreto nº 62.989 assegura autonomia administrativa e financeira à Agência Nacional, como órgão autônomo da Administração Direta, “sem prejuízo de sua subordinação ao Gabinete Civil da Presidência da República” (artigo 1º, caput). A regulamentação veio pelo Decreto-Lei nº 592, de 1969, que determina à Agência Nacional a finalidade de “exercer atribuições informativas, cabendo-lhe noticiar, fotografar, filmar, gravar, irradiar, televisionar e publicar atos e fatos da vida oficial brasileira, bem como acontecimentos cuja focalização interesse à divulgação do Brasil e sirva à cultura nacional” (artigo 1º, caput). A ênfase aqui é nas funções governamentais, mas a comunicação pública aparece em “sirva à cultura nacional”. O órgão era composto por Direção Geral, Divisão de Informações, Divisão de Telecomunicações, Divisão Audio-Visual e Divisão de Administração (artigo 2º, incisos I a V), sendo que o Diretor-Geral e o Diretor da Divisão de Informações “serão jornalistas profissionais de livre escolha e nomeação do Presidente República” (artigo 3º, caput).
Links:
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016) e Legislação
A história da TV pública no Brasil começa com o Decreto nº 42.943, de 30 de dezembro de 1957, que outorga à Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, que controlava a Rádio Nacional, a concessão para estabelecer uma “estação de radiotelevisão nesta capital”. Com isso, foi inaugurada a TV Nacional Brasília, em 1960, que vai ao ar de forma experimental em 21 de abril e definitiva em 4 de junho. A emissora operava como estação retransmissora para redes não-comerciais, como a TV Cultura de São Paulo e a TVE do Rio de Janeiro, e como geradora de discursos oficiais do presidente e de seus ministros.
Links:
Fonte: Jambeiro (2002)
Em 1969 é inaugurada a TV Educativa do Maranhão, criada pelo governo do estado, tendo como governador José Sarney, pela Lei nº 3.016, de 1 de dezembro, vinculada à Secretaria de Educação e Cultura. A finalidade era minimizar situações como deficiências na qualidade de ensino, redução na quantidade de vagas reclamadas e urgência em atender à demanda por educação no estado. O texto legal explicita que a Fundação Maranhense de Televisão Educativa terá automonia administrativa e financeira e personalidade jurídica. Foi criado, no ano anterior, o Centro Educacional do Maranhão (Cema), que seria a sede da TVE-MA e funcionou como projeto piloto em uma escola com alunos da quinta série, que recebia as transmissões em circuito fechado de TV.
No ano seguinte, 1970, a TVE-MA passou transmitir em circuito aberto, através do canal 2, expandindo-o na capital e na periferia urbana, chegando, em 1972, até a oitava série com 12.169 alunos atendidos. As escolas que desenvolviam o sistema de educação através da televisão educativa com a presença de um professor polivalente, chamado de orientador de aprendizagem, eram chamadas de Cema.
Portanto, o canal do Maranhão foi criado com objetivos totalmente voltados para o ensino formal, com a programação recebida em instituições de ensino e assistida pelos alunos acompanhados por monitores, seguindo à risca as expectativas da metodologia de “teleducação”.
O sistema chegou a abranger 27 municípios maranhanses, chegando a atender 1.224 salas de aulas de 108 escolas em todo o estado no ano de 2002, quando o sistema já começava a apresentar queda na adesão. O ápice ocorreu no ano 2000, quando foram atendidos pela TVE-MA 47.977 alunos de 5ª a 8ª séries.
Fonte: Pieranti (2018) e Passinho (2008)
Na regulamentação do campo público de comunicação, a década de 1960 teve muitos marcos, principalmente dentro da discussão da TV como instrumento de educação. Esta agenda política foi incentivada como instrumento do Estado para responder à demanda de massificação da educação, frente às necessidades dos capitais nacionais e internacionais por mão-de-obra mais qualificada, ou minimamente instruída, dentro do processo de industrialização do país.
Já em 1960, o decreto nº 49.259, assinado pelo presidente Juscelino Kubitschek, institui a Campanha Nacional de Radiodifusão Educativa (CNRE), “a cargo do Serviço de Radiodifusão Educativa (S.R.E.) e diretamente subordinada ao Ministro de Estado da Educação e Cultura”, segundo o artigo 1º do texto legal. O objetivo era proporcionar as iniciativas da chamada “teleducação”, entre outras finalidades descritas no artigo 2º:
Para tanto, foi criada pelo decreto nº 49.913, de 12 de janeiro de 1961, a Orquestra Sinfônica Nacional, componente da CNRE, composta por 90 profissionais contratados após prova de seleção e submetidos a prova de suficiência a cada três anos. A norma oferece aos músicos da Rádio Nacional a oportunidade de migrar para o novo serviço, se aprovados na prova de seleção.
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Fonte: Valente (2009) e Legislação.
Em 1961 o decreto 50.840 modifica o Regulamento para a execução dos serviços de radiocomunicação e em 1962 a lei nº 4.117 institui o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), regulamentado pelo decreto 52.795 de 1963. O artigo 3º do decreto estabelece que “os serviços de radiodifusão têm finalidade educativa e cultural, mesmo em seus aspectos informativo e recreativo, e são considerados de interêsse nacional, sendo permitida, apenas, a exploração comercial dos mesmos, na medida em que não prejudique êsse interêsse e aquela finalidade”.
Portanto, a finalidade educativa e cultural do rádio e da TV está fundamentada no texto legal brasileiro e deve ser seguida, inclusive, pelas emissoras comerciais. Havia também uma política de reserva de canais para a televisão educativa, feita pelo órgão regulador da época, o Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel), criado com o CBT. Em 1965 o Contel reserva 55 canais para a televisão educativa, a pedido da Liga de Defesa Nacional.
Uma modificação importante no CBT para o campo público da comunicação foi feita em 1967 pelo decreto-lei nº 236 , instituindo a televisão educativa, de caráter não-comercial. Este ano é o marco do nascimento da TV pública no país, já que, com isso, foi possível criar a TVE e outras emissoras estaduais, além das universitárias. O texto do decreto dispensa as emissoras educativas e não comerciais de publicação de edital para conseguir a outorga, o que facilitou os governos estaduais, municipais, a União, universidades e fundações a conseguirem seus canais.
O decreto institui que “a televisão educativa se destinará à divulgação de programas educacionais, mediante a transmissão de aulas, conferências, palestras e debates”. Impõe também que “a televisão educativa não tem caráter comercial, sendo vedada a transmissão de qualquer propaganda, direta ou indiretamente, bem como o patrocínio dos programas transmitidos, mesmo que nenhuma propaganda seja feita através dos mesmos”.
A partir de 1967, o governo militar passou a usar a teleducação como instrumento ideológico de articulação do discurso dominante. De 1967 a 1975 foram criadas nove emissoras educativas, sendo seis vinculadas a secretarias estaduais de Educação ou de Cultura, como a TV Cultura de São Paulo, e três ao Ministério da Educação e Cultura, incluindo a TV Educativa do Rio de Janeiro, operada pela FCBTVE, e a primeira delas, vinculada à Universidade Federal de Pernambuco.
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Fontes: Valente (2009), Pieranti (2018), Azevedo et al (2009), CPDOC/FGV e Legislação
Em 1969 o decreto nº 65.239 cria a Estrutura Técnica e Administrativa para a elaboração do projeto de um Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais, incluindo rádio, televisão e outros meios. Entre as justificativas para a criação da estrutura, que consta no texto legal, está que “o atual sistema educacional brasileiro não apresenta condições para, a curto prazo, suprir as exigências sempre crescentes do desenvolvimento econômico, social e cultural do País, e que o elevado índice de analfabetismo constitui limitação ao pessoal de aproveitamento da mão-de-obra e à democratização de oportunidades”.
Resultou deste esforço a aprovação dos objetivos para as atividade de televisão educativa no Brasil, expressa na articulação entre a instrução e recuperação do tempo perdido no ensino formal com a difusão de conteúdos de legitimação do modelo empregado no país.
O decreto nº 63.592 de 1968 cria um grupo de trabalho para “estudar e propor a sistematização jurídica das emissoras de radiodifusão de sons (radiodifusão sonora) e de sons e imagens (televisão) pertencentes ao Govêrno da União ou por êle incorporadas ou administradas”. O relatório conclusivo deveria indicar, obrigatoriamente “medidas referentes aos serviços de radiodifusão de sons e de sons e imagens (televisão) que possibilitem melhor aproveitamento dos mesmos”. Integraram o grupo de trabalho os veículos retratados na presente pesquisa, conforme detalha o artigo 2º:
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Fonte: Pieranti (2018) e Valente (2009)
O Plano Nacional de Teleducação (Prontel) foi instituído pelo decreto nº 70.066 de 1972, com o objetivo de “integrar, em âmbito nacional, as atividades didáticas e educativas, por intermédio do Rádio, da Televisão e outros meios, de forma articulada com a Política Nacional de Educação”. Em 1979 o Prontel foi substituído pela Secretaria de Aplicações Tecnológicas (Seat).
Uma das principais iniciativas nesse sentido foi o “Projeto Minerva”, curso supletivo via televisão e rádio criado em setembro de 1970 e que durou vinte anos. O programa de educação formal ficou sob responsabilidade de uma equipe de professores especializados, dentro da própria Rádio MEC. Com o sistema de acompanhamento e avaliação, eram dados certificados de conclusão aos aprovados no curso. No primeiro ano, de outubro de 1970 a dezembro de 1971, os cursos do Projeto Minerva atingiram 270 mil alunos.
Ouça aqui a vinheta dos anos 70 do Projeto Minerva
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Veja reportagem da TV Brasil sobre o Projeto Minerva: www.youtube.com
Confira um episódio do Projeto Minerva: www.youtube.com
Fonte: Pieranti (2018) e CPDOC/FGV
Em 1974, a Rádio Nacional de Brasília AM passa a transmitir com 600 kW de potência à noite, alcançando todo o Brasil. Segundo Mendes e Sousa, o aumento da potência ocorreu com a inauguração de um novo parque de transmissão, em 1977, o Rodeador, situado a 50 quilômetros de Brasília. As autoras destacam que a intenção do governo militar com a elevação da potência era fazer frente às transmissões estrangeiras que chegavam ao norte do país.
“Em plena ditadura militar, a intenção primeira da supertransmissão era fazer com que a mensagem de Brasília alcançasse regiões que não eram cobertas pelas rádios brasileiras, como certos lugares da Amazônia, evitando as investidas comunistas vindas de países como Cuba. Para o caboclo no meio da mata, era mais fácil ouvir a mensagem de Fidel Castro do que as notícias da nova capital”.
A Radio Habana Cuba (RHC) foi inaugurada oficialmente na capital cubana no dia 1º de maio de 1961, transmitida em ondas curtas com alcance a outros países. Ela foi criada pelo governo comunista da ilha para contrapor as informações sobre a Revolução Cubana que eram divulgadas pela imprensa internacional.
Apesar das restrições impostas pela ditadura, a Rádio Nacional de Brasília obteve sucesso e repercussão no Brasil todo na década de 1970, segundo o ex-diretor da emissora Eduardo Fajardo (in MENDES e SOUSA, 2010), oferecendo cultura, entretenimento e informação.
“Para mim, a chave do sucesso da rádio, foi a programação que nós montamos. Ela atendia o jovem, com o Luciano Barroso, atendia a mulher, com a Mara Régia, atendia ao sertanejo, ao povão, de manhã cedo, com um forró, um sertanejo. Então os segmentos da família eram atendidos. E a gente sempre procurava divertir informando. E tinha a preocupação de educar a população sem carimbar que era educação. Colocar uma coisa em termos de cidadania, higiene, dicas desse tipo para as pessoas irem pegando. Todo intervalo da rádio tinha umas vinhetas disso. Então, os programas foram moldados nesse sentido, você tocava música, você brincava, mas sempre dando informação”.
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Fonte: Pinheiro (2005), EBC, Mendes e Sousa (2010) e RHC
Em 1976 entra no ar a Rádio Nacional FM, a primeira emissora FM de Brasília. Tem como enfoque a música brasileira, com destaque para a MPB tradicional e contemporânea, a música instrumental, novos talentos e artistas de Brasília e dos países de língua portuguesa e da América Latina.
Fonte: EBC
Em 1º de setembro 1977 é inaugurada a Rádio Nacional da Amazônia, que transmite em Ondas Curtas, com a missão de integrar a Amazônia Legal ao restante do país. Cabe ressaltar que a Nacional da Amazônia, inaugurada pela ditadura militar, opera em ondas curtas de 25 metros na frequência de 11.780KHz, muito próxima à Rádio Havana comunista, que transmite em 11.760KHz.
A emissora fortalece o elo entre as comunidades da Amazônia, integra a região com outros estados do Brasil e valoriza a diversidade cultura, segundo a EBC. Com destaque para a prestação de serviços e a valorização e divulgação da diversidade cultural da Amazônia, a emissora é carinhosamente chamada de “orelhão da Amazônia”, divulgando recados e promovendo o reencontro de familiares e amigos.
Um dos marcos da emissora foi o programa Encontro com Tia Leninha, comandado pela radialista Heleninha Bortoni, falecida em 2008. Por 20 anos, Tia Leninha levou informação, entretenimento e música para as crianças da região amazônica, fazendo sucesso com as radionovelas adaptadas de livros infantis e a seção de cartas dos ouvintes. O programa foi ao ar pela primeira vez no dia 12 de fevereiro de 1979.
Confira um episódio do programa Encontro com Tia Leninha:
Confira reportagem especial por ocasião dos 40 anos da emissora: www.ebc.com.br
Fonte: EBC
Nos marcos legais da década de 1970, o decreto nº 67.611, de 1970, assinado por Emílio Garrastazu Médice, estabelece o Sistema de Comunicação Social do Poder Executivo, ao qual se vincula a Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República.
Em maio de 1979, João Figueiredo, com a lei nº 6.650, cria a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, à qual é vinculada a Radiobrás. O texto legal determina que os objetivos da empresa de comunicação são “divulgar, como entidade integrante do Sistema de Comunicação Social, as realizações do Governo Federal nas áreas econômica, política e Social, visando, no campo interno, à motivação e ao estímulo da vontade coletiva para o esforço nacional de desenvolvimento e, no campo externo, ao melhor conhecimento da realidade brasileira”, além de “exercer outras atividades de comunicação social, que lhe forem atribuídas pela Secretaria de Comunicação Social”. Ocorre, com isso, a apropriação da máquina de radiodifusão criada ao longo das décadas e responsável pelo sistema Rádio Nacional para a comunicação de governo.
A mesma lei autoriza o poder executivo a transformar a Agência Nacional, órgão autônomo da Administração Federal direta, em empresa pública com a denominação de Empresa Brasileira de Notícias (EBN), também vinculada à Secom, com sede em Brasília e podendo “manter órgãos regionais e dependências, em qualquer ponto do território Nacional”.
O objetivo da EBN era o de “transmitir diretamente, ou em colaboração com órgãos de divulgação, o noticiário referente aos atos da administração federal e as notícias de interesse público, de natureza política, econômico-financeira, cívica, social, cultural e artística”. É aberta a possibilidade de fazer jornalismo em forma de texto, áudio e imagem, bem como a distribuição do material aos veículos de comunicação “sempre que possível a preço de mercado”. Nesse momento aparece pela primeira vez a possibilidade de cobrança pelo material fornecido e a EBN também fica incumbida de distribuir a publicidade legal dos órgãos e entidades da Administração Federal, função exercida atualmente pela EBC. É instituído o mandato de quatro anos para a diretoria, com quatro pessoas nomeadas pelo presidente da república.
A Constituição da EBN ocorreu pelo decreto 83.993 e a regulamentação da Secom veio com o decreto 83.559. A empresa produzia noticiários sobre o governo, com boletins diários, entrevistas e o programa A Voz do Brasil. Tinha sucursais na maioria das capitais e mantinha uma grande redação e estúdios de rádio em Brasília, de onde transmitia os programas de rádio para para todo o país por meio de linhas especiais da Embratel.
Já o decreto 84.181 altera o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão e institui a convocação gratuita das emissoras de radiodifusão para “a preservação da ordem pública e da segurança nacional ou no interesse da Administração”, “visando à divulgação de assuntos de relevante importância”. A convocação pode ser feita para pronunciamentos do Presidente da República e dos Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, bem como de Ministro de Estado autorizados pelo Presidente da República. A convocação é da competência do Ministro Chefe da Secom e a efetivação fica a cargo da EBN.
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Fonte: Aguiar e Lisboa (2016), Bucci (2008) e Legislação
A outorga do Canal 2 no Rio de Janeiro para a FCBTVE foi dada em 1973, pelo Decreto nº 72.634 de 16 de agosto, e a TVE Rio de Janeiro fez os primeiros testes no dia 15 de outubro e entrou no ar de forma experimental no dia 5 de novembro de 1975.
O conteúdo inicial eram as teleaulas do Curso João da Silva, com duas horas de programação, até entrar no ar de forma definitiva no dia 4 de fevereiro de 1977, com seis horas de programação diária. Em 1978 a programação foi alterada e passou a exibir também telejornais, filmes estrangeiros e programas de música e de esportes. Entre os destaques estão as séries Pluft, o Fantasminha, adaptação da peça de Maria Clara Machado, e Sítio do Pica Pau Amarelo, da obra de Monteiro Lobato.
Confira aqui a abertura e o encerramento do curso João da Silva:
Links:
Capítulo 5 da novela João da Silva: www.youtube.com
Capítulo 1 da série infantil Pluft, o Fantasminha: www.youtube.com
Fonte: Azevedo et al (2009), Pieranti (2018), Valente (2009) e CPDOC/FGV.
Em 1979 o Prontel foi substituído pela Secretaria de Aplicações Tecnológicas (Seat) e o Ministério da Educação criou o Sistema Nacional de Televisão Educativa (Sinted), com o objetivo de “coordenar as atividades das emissoras, proporcionar a troca de programação e prestar assistência técnica”.
Já desde o seu início, as estruturas e os investimentos das Unidades da Federação em seus aparatos era díspare, na maioria dos casos precária, daí a necessidade deste tipo de suporte que, ao mesmo tempo, garantia o cumprimento das diretrizes políticas para o serviço e impulsionava a sua estruturação.
Fonte: Valente (2009)
Com a Portaria 408 de 1970 do Ministério da Educação e Cultura, que tornou obrigatório às emissoras de televisão a veiculação de cinco horas semanais de programas educativos, muitas emissoras comerciais passaram a utilizar o conteúdo produzido pela FCBTV/MEC.
As emissoras vinculadas ao governo federal iam além da programação que colocavam no ar. Os estúdios da Rádio MEC, por exemplo, eram usados para a gravação de discos, totalizando oito mil até 1955, além de atividades de assistência técnica e formação de profissionais para a TV educativa.
A FCBTVE produziu, no ano de 1971, 360 aulas, 46 adaptações de filmes, 43 entrevistas, 404 flashes de pedagogia social, um curso de pintura e 54 programas de temática diversa. O programa mais famoso produzido pela FCBTVE, premiado internacionalmente, foi o curso-série “João da Silva”, uma novela didática protagonizada pelo ator Nelson Xavier, produzida em 1973 e transmitida por canais comerciais como a TV Tupi e a TV Globo. O formato inovou ao fugir do padrão de aula filmada dos conteúdos educativos. Foram feitos 125 capítulos e a primeira prova final aplicada dentro do programa de teleducação foi feita por 15 mil alunos.
Fonte: Azevedo et al (2009), Pieranti (2018), Valente (2009) e CPDOC/FGV.
Em meados da década de 1970, haviam dezenas de emissoras educativas vinculadas à União, aos estados, municípios ou universidades, além de muitos planos para serem utilizadas na “teleducação”. Os planos de capacitação em massa por esse meio naufragariam em pouco tempo, mas as emissoras eram uma realidade, embora se encontrassem pulverizadas entre ministérios diversos e sem coordenação.
Em 1971, essas emissoras foram objeto de análise pelo Ministério das Comunicações, que defendeu a criação de uma entidade capaz de coordenar os serviços de rádio e de televisão explorados diretamente pela União. Esse momento chegou com a lei nº 6.301, de 15 de dezembro de 1975, que cria a Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás), vinculada ao Ministério das Comunicações. Os objetivos descritos no art. 1º do texto legal são:
Apesar da explícita vinculação ao governo, as emissoras da Radiobrás foram incumbidas pela lei de “operar dentro de elevados padrões técnicos e propiciar a cobertura necessária para atender sobretudo às regiões de baixa densidade demográfica e reduzido interesse comercial, e às localidades julgadas estrategicamente importantes para a integração nacional”. Um claro objetivo de comunicação pública, com um toque de governamental na “integração nacional”.
A Radiobrás foi constituída pelo decreto nº 77.698, de 27 de maio de 1976, incorporando ao patrimônio da nova empresa os bens e imóveis da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Fundação Rádio Mauá e TV Rádio Nacional de Brasília. A Rádio Mauá do Rio de Janeiro pertencia à época ao Ministério do Trabalho, sendo extinta na ocasião e a frequência devolvida à Rádio Ipanema, inaugurada em 1944. O decreto também determina que “serão consideradas extintas as estações de radiodifusão pertencentes a órgão da Administração Federal indireta ou às entidades sob supervisão ministerial”.
A criação da Radiobrás sinaliza a intenção do governo de ampliar o projeto de radiodifusão para além dos conteúdos educativos, incluindo a produção de informações e o atendimento a regiões sem cobertura comercial.
A mesma Lei estabelece como foco da irradiação dos meios da empresa regiões de baixa densidade demográfica e reduzido interesse comercial, e em localidades consideradas estrategicamente importantes para a integração nacional, reproduzindo agora em nova instituição o perfil de “complementaridade marginal” do modelo de radiodifusão pública no país.
O sonho de cobrir a Amazônia com as ondas de rádio substituiu o projeto de direcionar as emissoras em ondas curtas ao exterior, o que já era feito por emissoras públicas estrangeiras e pela Rádio Nacional. Porém, o grande projeto de integração nacional não vingou com a estrutura disponível. A Radiobrás oferecia uma rara oportunidade de organizar as estações vinculadas à União, planejar e potencializar sua atuação.
Porém, a expectativa durou pouco, a reboque do fracasso das políticas de “teleducação” e da dificuldade enfrentada na economia brasileira, que caminhava para a era da hiperinflação. Portanto, na prática a Radiobrás recebeu emissoras pequenas, deficitárias e sem grandes projetos de programação, apesar de ter entre elas a imponente mas fragilizada Rádio Nacional.
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Fonte: Pieranti (2018), Valente (2009), CPDOC/FGV e Legislação
A Rádio MEC FM é criada no Rio de Janeiro no dia 10 de maio de 1983, com programação focada em música de concerto e espaço para música instrumental como jazz e choro. Uma das atrações é o Ópera Completa, o programa de música clássica mais antigo do rádio brasileiro, no ar desde 1953. Outro destaque é o Blim-Blem-Blom, que apresenta de forma lúdica e bem-humorada o universo da música clássica na forma de uma série dramatúrgica infanto-juvenil.
Ouça a vinheta do programa Blim Blem Blom:
Confira alguns episódios do programa na página da Rádio MEC FM: radios.ebc.com.br
Fonte: EBC
Mara Régia estreou o Viva Maria na Nacional de Brasília em 14 de setembro de 1981, mas a partir de 1979 o embrião do programa feminista foi colocado no ar na forma de revista radiofônica, se tornando depois uma “caixa de ressonância do movimento de mulheres”. Segundo Mara Régia (in MENDES e SOUSA, 2010), o programa ficou no ar até 1991, sendo retomado apenas em 2003, na forma de programete.
“O Viva Maria foi um filho que deu certo. Ele deu a sorte de estar no lugar certo, na hora certa. Brasília, anos 80, aquela efervescência política, a abertura, a luta das mulheres ganhando terreno. O momento histórico era outro. Nosso rádio era o rádio de mobilização: ‘Hoje vai ter uma votação importante, a gente tem que ir lá para o Congresso Nacional! Marias de Brasília, vamos lá, vai votar a lei da paternidade, cinco dias de licença’. Imagina você falar isso no começo dos anos 1980 era um acinte, uma aberração! Homem participar de maternidade? E a gente: ‘Filho não é só da mãe!’. E era lindo você chegar no Congresso e encontrar as nossas “maricotas” lá, irmanadas, falando: ‘Nosso direito vem, nosso direito vem, se não vem nosso direito, o Brasil perde também’.”
A importância do programete e de Mara Régia na luta das mulheres foram reconhecidos em 1990, quando a data de aniversário do Viva Maria entrou para o calendário mulher da ONU como o Dia Latino-Americano da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação. Atualmente, o Viva Maria vai ao ar em todas as emissoras da Rádio Nacional.
Confira o Viva Maria do dia 26/06/2019, sobre um estudo da ONU que traz levantamento sobre o progresso das mulheres no mundo:
Confira o especial sobre os 30 anos do Viva Maria
Fonte: Mendes e Sousa (2010) e EBC
Em 1985 o presidente da EBN, Carlos Marchi, faz reformas editoriais e firma cooperação com a agência TASS da União Soviética (1987), para “transformá-la em uma agência pública de informações”, como as experiências de agências europeias. Mas com a incorporação à Radiobrás, os autores afirmam que a prestação do serviço foi descontinuada
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
O decreto nº 96.212 , de 22 de junho de 1988, incorpora a EBN à Radiobrás, que passa a se chamar Empresa Brasileira de Comunicação, “sem prejuízo do desempenho das atividades de radiodifusão e de comunicação social”. O texto determina que a Radiobrás “exercerá suas atividades sob estreita supervisão do Ministro-Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, por intermédio da Subchefia para Assuntos de Imprensa e Divulgação - SID”. Com a fusão da EBN com a Radiobrás, a Rádio Nacional passa a ser a geradora da Voz do Brasil e das Redes Obrigatórias de Rádio dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Incorporando, assim, as funções de comunicação governamental.
Segundo Bucci, essa “morte prematura” da EBN tem tons de comédia, mas ocorreu como uma tragédia para os funcionários, após uma entrevista que o brigadeiro Paulo Roberto Camarinha, então ministro-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, concedeu à EBN no fim do governo Sarney, na qual criticou os poderes Legislativo e Judiciário e a política econômica do governo.
As declarações foram ao ar ao vivo em uma entrevista de 50 minutos, em trechos na Voz do Brasil e depois reproduzidas amplamente pela imprensa. Camarinha perdeu o cargo sumariamente e a EBN foi extinta, sendo os funcionários realocados na Radiobrás.
Links:
Fonte: Bucci (2008) e Legislação
Também em 1983 o MEC cria o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINRED), coordenado pela TVE e responsável pela geração da programação das emissoras educativas . A sigla da FCBTVE passou a ser Funtevê e o Sinred evoluiu do Sinted, incorporando as estações de rádio com a finalidade de veicular conteúdos educativos, constituindo a primeira rede nacional de televisão pública, já que havia intercâmbio de programas entre as emissoras participantes.
A coordenação operacional era feita pela TVE, que emitia os sinais para retransmissão pelas integrantes do sistema, utilizando-se inicialmente da rede de micro-ondas da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e, posteriormente, do satélite Brasilsat 1. Após uma década de recomendações e planos, finalmente consolidou-se uma articulação das emissoras educativas. Mas, a esta época, o enfoque editorial de formação e instrução da população já não era mais suficiente para as emissoras.
Após esta fase de teleducação, com a redução da força do projeto educativo militar e a abertura política após a ditadura, as emissoras educativas passaram a se dedicar a conteúdos mais generalistas qualificados, buscando um papel de concorrência no campo da TV no país. Na TVE-RJ, foram colocados no ar programas e pessoas censuradas durante o regime, sob comando de Fernando Barbosa Lima e com o slogan “A nova imagem da liberdade”. Um dos programas surgidos nesta época, e no ar até hoje, é o de entrevistas “Sem Censura”, criado em 1985. Com isso, a emissora chegou ao segundo lugar na audiência.
Confira alguns programas na página do Sem Censura na TV Brasil: tvbrasil.ebc.com.br
Fontes: CPDOC/FGV e Valente (2009)
Em 1986 a TV Educativa do Maranhão é federalizada. Segundo Passinho, essa mudança administrativa marca o início da degradação do projeto de teleducação que a emissora desenvolvida, devido à falta de interesse político na continuidade do projeto e também porque a televisão perdeu o status de novidade. Com a mudança administrativa, a emissora passou a ser ligada à TVE do Rio de Janeiro, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Em 1987 a TVE passa a ser transmitida também via satélite Brasil SAT.
Fonte: Passinho (2008) e Acerp
Ainda em 1980, o decreto nº 85.550, de 18 de dezembro, extingue a Secom e incorpora suas funções à chefia da Casa Civil. A Radiobrás volta ao Ministério das Comunicações e a EBN fica vinculada ao Gabinete Civil da Presidência da República. Menos de um mês depois, no dia 7 de janeiro de 1981, o decreto nº 85.631 coloca a EBN sob vinculação do Ministério da Justiça. Dois meses depois, o decreto nº 85.795 institui a Secretaria de Imprensa e Divulgação (SID) no Gabinete Civil da Presidência da República, que fica responsável por orientar as atividades de comunicação social da EBN e da Radiobrás, sem prejuízo da vinculação delas aos ministérios da Justiça e das Comunicações.
O presidente José Sarney muda novamente a estrutura burocrática da comunicação do governo com o decreto nº 92.400, de 1986, que aprova o Regimento do Gabinete Civil e cria a Subchefia para Assuntos de Comunicação Social dentro do Gabinete. Entre as funções dessa Subchefia está “orientar as atividades de comunicação social da Empresa Brasileira de Notícias - EBN e da Empresa Brasileira de Radiodifusão – RADIOBRÁS”, sem prejuízo à vinculação delas aos ministérios citados acima. O regimento é consolidado pelo decreto nº 92.614.
No começo do ano seguinte, o decreto nº 93.953, de 21 de janeiro de 1987, altera a Secretaria de Imprensa e Divulgação, que passa a chamar Secretaria de Imprensa da Presidência da República, mantendo a sigla SID, e a integrar o Gabinete Pessoal do Presidente da República. Entre as funções da nova SID estão “promover a divulgação dos atos e atividades do Presidente da República” e “preparar programas de rádio e televisão e coligir matérias, notícias, informe e artigos, de interesse do Presidente da República”. No mesmo dia, o decreto nº 93.954 institui a Secretaria Especial de Comunicação Social da Administração Federal – Secaf, também dentro da estrutura do Gabinete Pessoal, a quem se reportam a EBN e a Radiobrás, sem alterar a vinculação das empresas.
No ano seguinte, o decreto nº 95.676 de 27 de janeiro de 1988 institui o sistema de comunicação social e divulgação da Administração Federal (Sicom), reestruturando novamente toda a comunicação governamental. O órgão central do Sicom fica sendo a Subchefia para Assuntos de Imprensa e Divulgação (que passa a ser conhecida pela sigla SID), dentro do Gabinete Civil. É criado pelo decreto o Conselho Consultivo de Comunicação Social da Presidência da República, presidido pelo ministro-chefe do Gabinete Civil, com a finalidade de “opinar sobre questões relativas à comunicação social”. Compõem o Conselho também o Subchefe para Assuntos de Imprensa e Divulgação, os presidentes da EBN, da Radiobrás e da FCBTVE.
Esta é a primeira menção a um conselho consultivo de comunicação na legislação, embora com componentes totalmente vinculados ao governo. Cabe ressaltar que naquele momento o país passava pelas discussões em torno da nova Constituição e que a única comissão que não conseguiu entregar um relatório final foi justamente a da Família, da Educação, Cultura e Esportes, da Ciência e Tecnologia e da Comunicação. Segundo Venício Artur de Lima, em seu levantamento Conselhos de Comunicação Social, toda a disputa ocorreu em torno da criação do Conselho Nacional de Comunicação, em cuja proposta original teria como competências o poder para outorgar e renovar as concessões de radiodifusão, promover licitações de frequência, promover a introdução de novas tecnologias e dispor sobre a organização do sistema, além de fiscalizar as políticas de comunicação com base nos princípios da promoção da cultura nacional em suas manifestações regionais e garantir a pluralidade e descentralização dos serviços. Porém, o que foi para o texto da Constituição foi um órgão auxiliar do Congresso Nacional.
São extintas também pelo decreto nº 95.676 a antiga SID, a Secaf e a Comissão Consultiva, criada em 1981 pelo decreto nº 86.190 para “propor a formulação geral e específica da Política de Comunicação Social do Poder Executivo, estabelecendo diretrizes de planejamento, execução e controle”. Integram também o sistema a Radiobrás, que passa a se chamar Empresa Brasileira de Comunicação e a vincular-se ao Ministério da Justiça, e a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, que passa a vincular-se ao Ministério da Educação.
Links:
Fonte: Lima (2008) e Legislação
Na década de 1980, o grande marco legal é a Constituição Federal de 1988. Promulgada no dia 5 de outubro, o artigo 223 prevê a complementaridade dos sistemas públicos, estatal e privado. Segundo Pieranti, essa é a primeira referência ao termo comunicação pública em texto legal no país. Em sua comparação entre o surgimento do sistema público no Brasil e no centro-leste europeu, ele destaca que o conceito surge em ambos contextos no mesmo momento, quando o Brasil deixava para trás as marcas da ditadura e os europeus analisados rompiam com o socialismo.
Em ambos os casos também, o autor lembra que o processo ocorreu na “emergência da democracia, que sucede regimes autoritários, e normalmente antes das primeiras eleições em que a população poderia votar”. As bases do sistema estatal serviram de ponto de partida para o novo sistema.
Ele lembra que “não existiam emissoras de radiodifusão pública, cultura relacionada com este tema ou demandas estruturadas provenientes de grande parte da sociedade civil”, nem no Brasil nem no centro-leste europeu, bem como “estruturas regulatórias aptas a defender a autonomia das emissoras públicas em relação ao poder público”. Com isso, a estrutura da comunicação pública com estreita relação com o poder instituído fica sujeita a mudanças nas regras de operação e nos dirigentes das emissoras.
O professor e pesquisador Venício Lima destaca que a televisão pública é fundamental nas circunstâncias brasileiras, por oferecer, potencialmente, uma alternativa ao sistema privado. De acordo com ele, a inserção do termo na Constituição de 1988 ocorreu por causa do grande desequilíbrio que há no setor de comunicação brasileiro, com peso desproporcional para o sistema privado, situação que se perpetua até os dias atuais.
Lima destaca que, em países como a Inglaterra, onde o sistema de comunicação começou público, a busca por alternativa ao sistema privado não é necessária, pois este era limitado pela busca do lucro.
Links:
Fonte: Pieranti (2018), Ramos et al (2017) e Legislação
A decadência do sistema de comunicação do governo continua com o decreto nº 95.955 de 1988, que autoriza a Radiobrás a alienar 14 emissoras de rádio, sendo 12 em FM e duas em OM, e uma de televisão em Porto Velho, fazendo o total de emissoras federais de rádio cair de 46 em 1982 para 29 em 1988 e de TV de sete para cinco no mesmo período. Segundo Pieranti, os ativos da empresa “foram simplesmente entregues, sem observar os ritos necessários, parindo pendências burocráticas”, passando para a iniciativa privada, governos estaduais e municipais.
Links:
Fonte: Pieranti (2018) e Legislação
No curso da Rádio MEC e da TVE, em 1990 a FCBTVE vira Fundação Roquette-Pinto, vinculada ao Ministério da Educação, segundo o decreto nº 99.180. De acordo com Valente, essa mudança inicia a desestruturação dos aparatos estatais e, em 1993, a fundação entra em uma grave crise financeira que “impacta na qualidade da programação, na equipe de técnicos, jornalistas e produtores, na estrutura de transmissão e na assistência que prestava a outras TVs educativas por meio do Sinred”.
Links:
Fonte: Acerp, Valente (2009) e Legislação
Em 1998 a Fundação Roquette-Pinto (FRP) é extinta pela lei nº 9.637, neste momento vinculada à Presidência da República, dando lugar à Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (Acerp), já qualificada como organização social pelo decreto nº 2.442, e firma um contrato de gestão com a Secom para atividades “dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde”, conforme determina o artigo 1º da mesma lei nº 9.637, que “dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais”.
Segundo Leal Filho, a medida retirou entraves burocráticos da TVE, porém não aumentou a autonomia da emissora.
Links:
Fonte: Acerp, Valente (2009), Carmona (2003) e Legislação
Em 1990, governo Fernando Collor de Mello cria a Agência Brasil, serviço prestado pela Radiobrás, mas subordinado ao Ministério da Justiça, para difundir notícias governamentais e abastecer os veículos de comunicação. O material produzido também é difundido pela Voz do Brasil. Segundo Aguiar e Lisboa, nos anos 1990, a Agência Brasil teve “atuação discreta”, exercendo o papel tradicional de fornecedora de textos e fotos para jornais e outros veículos de mídia, em especial sobre os eventos oficiais e atos do governo federal. O material era enviado via fax e telex. A Agência Brasil foi inaugurada no dia 10 de maio.
Confira o vídeo da Radiobrás sobre o lançamento da Agência Brasil:
Confira o áudio de Fernando Collor de Mello por ocasião do marco dos 30 anos da Agência Brasil, em 2020:
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016), EBC
Em 1997 é lançado o site da Agência Brasil, que distribuía também discursos do presidente, e em 1998 a redação é remodelada e ampliada a produção de notícias. Nessa época, a publicação na internet era feita de forma manual por uma equipe técnica, que coletava os textos e formatava em HTML. A automação começou apenas em 1999 e no ano 2000 a distribuição dos conteúdos passou a ser feita apenas pela internet. Em paralelo, houve uma redefinição do papel da agência, passando de um modelo estatal para uma agência de informação pública com foco no Governo Federal.
Bucci descreve a Agência Brasil no fim da década de 1990 como um “escoadouro automático de informes governamentais, um entreposto de press releases”, com os funcionários não de enxergando como verdadeiros jornalistas. “Viam-se, talvez, como um pequeno exército mais ou menos anônimo que funcionava como um prolongamento da área de relações públicas do Planalto”, diz ele, destacando que o slogan da empresa na época era “Radiobrás, a fonte da melhor informação”. Ou seja, a própria empresa se colocava como fonte oficial de notícias, e não como veículo de comunicação.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016) e Bucci (2008)
Fechando os marcos da década de 1990, em 1998 foi criada a TV Nacional Brasil – NBR, canal institucional do governo federal operado pela Radiobrás. A programação se concentrou na cobertura do Poder Executivo Federal, com a transmissão de eventos e pronunciamentos oficiais do Presidente da República e de ministros, no qual a emissora se especializou, disponibilizando o sinal para as demais emissoras.
Fonte: Valente (2009).
Na comunicação de governo, o decreto nº 99.181 de 1990 cria a Coordenação de Comunicação Social dentro da Secretaria-geral da Presidência da República. No mesmo ano, o decreto nº 99.244 reorganiza os órgãos da Presidência da República e os Ministérios, mudando a vinculação da Radiobrás do Ministério das Comunicações para o da Justiça.
E em 25 de julho o decreto nº 99.411 cria a Secretaria de Imprensa dentro da estrutura da Secretaria-geral da Presidência da República, com funções, entre outras, de “coordenar a política de comunicação social da Administração Pública Federal”; “convocar redes obrigatórias de rádio e televisão para a transmissão de pronunciamentos do Presidente da República e de Ministros de Estado e decidir sobre questões concernentes a programas e redes, obrigatórios ou facultativos, de responsabilidade do Poder Executivo”; “preparar textos cuja divulgação pela imprensa e programas de rádio e televisão seja de interesse da Presidência da República”; e “orientar a linha editorial de veículos de comunicação (agências de notícias e emissoras de rádio e televisão) mantidos pelo Governo Federal”.
Não está explícito aqui se a Radiobrás e a Agência Brasil estão incluídas nessas orientações, já que neste período ambas eram vinculadas ao Ministério da Justiça. Tal vinculação deixa de aparecer na lei nº 8.490, de 1992, que reorganiza o executivo federal, e no decreto nº 761, de 1993, que reestrutura o Ministério da Justiça. A Radiobrás, porém, não aparece em tais regramentos.
Um novo Estatuto da Radiobrás é instituído pelo decreto nº 2.958, de 8 de fevereiro de 1999, que a denomina como “empresa pública com personalidade jurídica de direito privado, organizada sob a forma de sociedade por ações, vinculada à Secretaria de Estado de Comunicação do Governo” (artigo 1º). No artigo 5º do Estatuto, o objeto social da empresa descreve funções estritamente governamentais, como “divulgar as realizações do Governo Federal nas áreas econômica, política e social”, “implantar e operar emissoras e explorar serviços de radiodifusão do Governo Federal” e “recolher, elaborar, produzir, transmitir e distribuir, diretamente ou em colaboração com os meios de comunicação social, o noticiário, fotografias, boletins e programas, referentes a atos e fatos da Administração Pública Federal”.
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Fonte: Legislação.
O Conselho de Comunicação Social, previsto no artigo 224 da Constituição Federal, foi instituído pela Lei nº 8.389, de 30 de dezembro de 1991, como órgão auxiliar do Congresso Nacional e composto por representantes da sociedade civil, das empresas de comunicação e categorias profissionais. A atribuição é realizar “estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações que lhe forem encaminhadas pelo Congresso Nacional” sobre o tema, conforme descrito no caput do artigo 2º da lei. Após a criação da EBC, o órgão também passou a revisar as atas e deliberações do Conselho Curador da empresa pública.
Em seu levantamento sobre os Conselhos de Comunicação Social no Brasil, Venício Lima (2013) defende que “a participação popular na formulação e acompanhamento de políticas públicas implementadas pelo Estado constitui um fator decisivo para o fortalecimento da democracia. Os vários tipos de conselhos, em seus diferentes níveis – nacional, estadual e municipal – constituem poderosos instrumentos desta participação”. Sendo os conselhos uma das características da “Constituição Cidadã” de 1988. Porém, Lima ressalta que o Conselho de Comunicação Social (CCS) só foi instalado em 2002, enfrentando diversos obstáculos.
Links:
Fonte: Lima (2013) e Legislação
Em primeiro de janeiro de 1995, a Medida Provisória 813 reorganiza os órgãos da Presidência da República, recriando a Secretaria de Comunicação Social com as atribuições de “assistir direta e imediatamente o Presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente nos assuntos relativos à política de comunicação social do governo, e de implantação de programas informativos e de educação à distância, cabendo-lhe o controle, a supervisão e coordenação da publicidade dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, direta e indireta e de sociedades sob controle da União”.
O texto não fala da Radiobrás e foi reeditado 44 vezes ao longo dos três anos subsequentes, até a Medida Provisória nº 1.651-43, de 5 de maio de 1998, finalmente ser convertida na Lei nº 9.649 , de 27 de maio de 1998. Por sua vez, a Lei nº 9.649 foi alterada pela Medida Provisória nº 1.795, de primeiro de janeiro de 1999, que transforma a Secretaria de Comunicação Social em Secretaria de Estado de Comunicação de Governo, “órgão de assessoramento direto ao Presidente da República”, e cria o cargo de Secretário de Estado de Comunicação de Governo. A MP é reeditada 36 vezes, incluindo a modificação que dá status de Ministro ao Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo da Presidência da República, até a MP nº 2.216-37, de 31 de agosto de 2001. No texto legal, a Secom passa a ter a competência de “assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições, especialmente nos assuntos relativos à política de comunicação e divulgação social do Governo e de implantação de programas informativos, cabendo-lhe a coordenação, supervisão e controle da publicidade dos órgãos e das entidades da Administração Pública Federal, direta e indireta, e de sociedades sob controle da União, e convocar redes obrigatórias de rádio e televisão”. Destaca-se que entre os objetivos da Secom não consta mais a promoção da educação à distância.
O Decreto nº 2.004 , de 11 de setembro de 1996, muda o nome do Sicom de Sistema Integrado de Comunicação Social da Administração Pública Federal para Sistema de Comunicação Social do Poder Executivo Federal, tendo como órgão central a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) e como órgãos setoriais as unidades administrativas dos Ministérios e dos órgãos da Presidência da República que tenham a atribuição de gerir atividades de comunicação social. Nos objetivos do sistema constam:
Ou seja, atribuições de comunicação pública e de comunicação governamental. O decreto dá à Radiobrás a atribuição de distribuir a publicidade legal. Em 1999, o decreto 3.296, de 16 de dezembro, muda o nome do Sicom novamente, desta vez para Sistema de Comunicação de Governo do Poder Executivo Federal.
Links:
Fonte: Legislação
Ainda na década de 1990, uma nova lei impulsiona as emissoras do campo público no Brasil, incluindo as TVs legislativas, universitárias e judiciárias. A lei nº 8.977, de 6 de janeiro de 1995, conhecida como Lei do Cabo, institui os “Canais básicos de utilização gratuita”, ou seja, canais que deveriam entrar nos pacotes básicos dos serviços de TV da TV paga.
O texto garante espaço para um canal legislativo compartilhado entre a câmara de vereadores do município e a assembleia legislativa do estado, um para a Câmara dos Deputados e um para o Senado Federal. No caso dos canais legislativos, a lei especifica a função de “documentação dos trabalhos” e de “transmissão ao vivo das sessões”.
A reserva deve ser feita, ainda, para um canal universitário, um comunitário e um canal educativo-cultural, que será “reservado para utilização pelos órgãos que tratam de educação e cultura no governo federal e nos governos estadual e municipal com jurisdição sobre a área de prestação do serviço”. A lei nº 10.461 , de 17 de maio de 2002, incluiu um canal para o Supremo Tribunal Federal, “para a divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos serviços essenciais à Justiça”.
Valente (2009) destaca que a iniciativa foi importante para impulsionar os canais legislativos, porém não se consolidou a criação do canal ligado aos ministérios da Educação e da Cultura. Com isso, a “vaga” foi ocupada pelo canal governamental NBR, criado em 1998 e operado pela Radiobrás.
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Fonte: Valente e legislação
Sem relação direta com a EBC, mas extremamente relevante dentro do tema da democratização da mídia no país, área em que a comunicação pública está inserida, em 1998 foi publicada a lei nº 9.612, que “institui o Serviço de Radiodifusão Comunitária”. O artigo 3º define como finalidades da radiodifusão comunitária:
O artigo 4º define os princípios que devem ser seguidos pela programação:
O parágrafo 1º do artigo 4º destaca a proibição de proselitismo de qualquer natureza na programação. Na lei que criou a EBC, muitos desses princípios se repetem no texto que norteia a comunicação pública, obviamente que num nível nacional e não comunitário.
Links:
Fonte: Legislação
Na Rádio Nacional, a precarização das condições de trabalho se agrava e em 2002 funcionários da Nacional do Rio de Janeiro se organizam contra a ameaça da emissora passar a ser retransmissora da Nacional de Brasília, segundo Pinheiro.
Para ela, com o centro de decisões em Brasília, a Nacional do Rio de Janeiro ficou restrita às realizações do passado, com dificuldades para renovar equipamentos e quadros profissionais. Alguns programas se mantiveram no ar, com ouvintes fiéis, como Alô Daisy, apresentado por Daisy Lúcidi, Onde canta o sabiá, de Gerdal dos Santos e Parada de todos os tempos, produzido por Osmar Frazão.
Ouça aqui a vinheta de Alô Daise:
Em 2003, com a mudança de governo, um convênio com a Petrobras possibilitou a compra de novos transmissores e equipamentos para a Nacional do Rio de Janeiro. Segundo o CPDOC/FGV, o valor do contrato foi de R$ 2,5 milhões e possibilitou também a reforma das instalações da emissora no Edifício A Noite, com a construção de novos estúdios, discoteca e a reconstrução do auditório.
Bucci relata que na virada do milênio a emissora estava em “decrepitude física”.
“Os seus transmissores, corroídos, operavam a cerca de um décimo da potência. O auditório tinha sumido, tragado por uma reforma que o reduzira a um salão burocrático de repartição, com mesas cinzentas, cadeiras plásticas de rodinhas, ventiladores empoeirados e cestos de papel distribuídos sobre o chão de tacos sem brilho. Nos banheiros, o teto desabara. Já se falava em fechá-la quando fui vê-la pela primeira vez, no final de janeiro de 2003”.
Ele descreve que “as paredes, os sofás, as escrivaninhas, as pessoas, tudo ali pertencia a uma outra época e pedia para não morrer”. Sobre a Petrobras, Bucci afirma que apelou para a memória da estatal petrolífera, que deveria retribuir a generosidade da Rádio Nacional durante a campanha O Petróleo é Nosso, de 50 anos atrás, que resultou na criação da empresa.
“Foi um apelo meio torto, reconheço, mas deu certo. (...) Por meio de um acordo de cooperação, o departamento de engenharia da estatal do petróleo assumiu, diretamente, as obras de recuperação da rádio, numa saída formalmente perfeita e eticamente legítima”.
Fonte: Bucci (2008), Pinheiro (2005) e CPDOC/FGV
A emissora foi reinaugurada no dia 2 de julho 2004, com a programação renovada. Participaram do evento o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e convidados como os radialistas e radioatores Daisy Lúcidi e Gerdal dos Santos, as cantoras Carmem Costa e Ademilde Fonseca, Ellen Lima e Adelaide Chiozzo. “O novo auditório foi inaugurado com o espetáculo do ator Gracindo Júnior, que havia estreado na Rádio Nacional aos 14 anos, mas fora afastado em 1964, sendo anistiado somente em 1979, com um conjunto regido pelo maestro Ivan Paulo e participação de grandes nomes do rádio nacional como Jamelão, Cauby Peixoto e as rainhas Emilinha Borba e Marlene, além de Carmélia Alves e Luciana Lins.
Bucci lista as autoridades presentes na reinauguração:
“Anunciado em junho de 2003, o convênio atingiu seus objetivos no ano seguinte, com a reinauguração da rádio. Na noite do dia 2 de julho de 2004, o auditório, novinho, ressuscitou. Um shows de Cauby Peixoto, Marlene, Emilinha Borba, Jamelão mereceu aplausos de uma plateia que incluía ministros como José Dirceu, da Casa Civil, Luiz Gushiken, da Secom, Gilberto Gil, da Cultura, e Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, além do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da primeira-dama, d. Marisa Letícia”.
Confira o programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, sobre os 80 anos da Rádio Nacional: www.youtube.com
Fonte: Pinheiro (2005), CPDOC/FGV e EBC
Em 2004 é lançada a Radioagência Nacional, inaugurada no dia 11 de outubro, para a distribuição gratuita pela internet de conteúdos de radiojornalismo produzidos pelas equipes da Rádio Nacional. Segundo Bucci, ao final de 2006, a Radioagência abastecia 2 mil emissoras com pequenos programas e reportagens.
No site da Radiogência consta que o serviço disponibiliza materiais de parceiros, como outras rádios públicas do Brasil e da América Latina, e assim “amplifica em todo o país a audiência desses produtos, uma vez que os distribui entre cerca de 5 mil emissoras públicas, educativas, comunitárias, on line e comerciais”.
Conheça a Radioagência Nacional clicando aqui!
Fonte: Bucci (2008) e EBC
Em 2006 é inaugurada a Rádio Mesorregional do Alto Solimões, em parceria com o Ministério da Integração Nacional. A emissora foi ao ar em fase experimental em junho e definitiva no dia 15 de dezembro.
Com sede em Tabatinga, a emissora interliga os nove municípios da microrregião – além de Tabatinga, sede da emissora, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Fonte Boa, Jutaí, Tonantins, Atalaia do Norte e Amaturá. O sinal chega à tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, com informação, serviços e cultura nacional e regional.
Bucci detalha que a região, de 214 mil quilômetros quadrados e com 200 mil habitantes, vivia um vazio informativo, com acesso apenas a canais de TV nas casas que dispunham de eletricidade.
“Ocorre que, naquela mesorregião, muita gente vivia às margens dos rios, longe da área urbana, e portanto sem televisão, de tal modo que a falta de comunicação era a regra. (...) As comunidades locais percebiam a gravidade da carência informativa e, quando o Ministério da Integração Nacional instalou, em 2003, o Fórum de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Mesorregião do Alto Solimões, as lideranças apresentaram a sugestão de que fossem criadas emissoras públicas na cidade”.
Segundo a EBC, a região também sofria influência de rádios em espanhol dos países vizinhos.
“A história da rádio começa quando lideranças de toda região do Alto Solimões levantaram uma demanda dos 9 municípios da microrregião para implantar um projeto de rádio que veiculasse informações de cultura, educação e ampliasse a comunicação em língua portuguesa, que a cada dia perdia sua cultura por influência da fronteira com o Peru e a Colômbia”
A frequência utilizada, 670 kHz AM, na década de 1980 foi da Rádio Nacional de Tabatinga, e o sinal também é transmitido em 96.1 FM. Como os ouvintes já estavam acostumados com o nome de Rádio Nacional, em 2008 foi feita uma pesquisa para escolher o nome da emissora, saindo vencedor Rádio Nacional do Alto Solimões.
Fonte: Bucci (2008) e EBC
Na virada do milênio, segundo Aguiar e Lisboa, a Agência Brasil tinha seção de fotos, resenha de imprensa nacional, o “fale conosco” e um serviço de chat. Em 2001 foram incorporadas as cotações de moedas, poupança e bolsa de valores e um sistema de busca por texto. O site continha links para páginas de outros canais de comunicação do Poder Executivo, como a TV NBR, a Voz do Brasil, o radiojornal Repórter Nacional, o Brasil Agora e o Atendimento Cidadão.
Segundo eles, nesse início como uma típica agência de notícias oficial, o site da ABr tinha links diretos para o Governo Federal e a Presidência da República e disponibilizava a agenda do presidente, íntegras de discursos e a ‘Palavra do Presidente’, que era um texto de apresentação assinado por Fernando Henrique Cardoso. Nessa época, a Agência Brasil também teve um serviço internacional de clipping em línguas estrangeiras, publicando notas em inglês, espanhol e alemão.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
Já no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Eugênio Bucci assume a presidência da Radiobrás em 2003 e dá novo direcionamento à empresa. Segundo ele próprio relata em seu livro Em Brasília, 19 horas (2008), a ideia era interromper a cultura vigente no governo e na Radiobrás de que os veículos da empresa serviam para fazer propaganda do governo. Bucci defendeu a ideia de que a informação é um direito do cidadão, assim como saúde, moradia, trabalho e educação, e deu às emissoras e à Agência Brasil caráter jornalístico.
Ele afirma que a cultura que ousou vencer sobreviveria à gestão dele, “uma cultura ancestral, tão pesada quanto um continente”. Bucci destaca que a bajulação era a regra, mas que não há lei determinando que emissoras de rádio e televisão vinculadas aos governos devam fazer promoção de pessoas ou partidos. A lei era ignorada, a chapa-branca é ilegal, destaca ele. “Se não aceitamos que o automóvel sirva a fins privados, porque somos tolerantes quando o desvio se dá com os microfones, as câmeras ou as antenas?”
O autor afirma que a Radiobrás era encarregada por lei de noticiar atos do governo, mas não de fazer assessoria de imprensa nem ser porta-voz ou fazer publicidade governamental.
Bucci relata que para trabalhar, teria de remover um “modus operandi calcificado e enrijecido ao longo de três décadas”. “Alguns [funcionários], individualmente, tinham as suas opiniões, mas não havia clareza coletiva quanto a metas, missões, objetivos ou perfil do público”. Condição que foi mudando aos poucos. “Com o tempo, alteramos o enfoque do noticiário. As notícias iam para o ar segundo o seu valor informativo (...) De vez em quando, uma chamada da Agência Brasil ganhava reprodução imediata na primeira página dos mais importantes sites jornalísticos do país”. O slogan da Radiobrás passou a ser “pelo direito à informação”.
Fonte: Bucci (2008)
Em 2006, o website da Agência Brasil foi remodelado e a página institucional da Radiobrás foi separada do conteúdo jornalístico. Além de texto e fotos, a ABr passou a publicar áudio, vídeo e infográficos, além de adotar o padrão internacional Creative Commons 2.5 de licenciamento de conteúdo, que permite a reprodução gratuita desde que citada a fonte.
Fonte: Bucci (2008) e Aguiar e Lisboa (2016)
Em junho de 2003, a TVE Rede Brasil organizou o encontro O Desafio da TV Pública, para promover discussões partindo dos modelos e conceitos de TVs educativas existentes no Brasil e também em modelos do exterior, como a TV pública da Inglaterra, dos Estados Unidos e da Alemanha. O resultado foi publicado no livro organizado por Beth Carmona (2003), então diretora-presidente da Acerp, entidade gestora da TVE. De acordo com ela, o objetivo do encontro foi aproveitar o novo momento político para sensibilizar governos e sociedade sobre a importância da comunicação pública.
No seminário, o jornalista Alberto Dines, que comandou o programa Observatório da Imprensa na TVE e na TV Brasil, de análise de mídia, destacou que toda TV é pública, já que se trata de uma concessão.
“Quando falamos nessa entidade chamada TV pública, precisamos levar em conta que a mídia, como um todo, é pública. Sobretudo os meios eletrônicos, que dependem de uma concessão. A mídia privada, seja ela impressa ou eletrônica, também é pública, pois tem os seus compromissos”.
Dines destacou também a importância do programa Observatório da Imprensa, que só pode ter espaço em uma TV pública. O jornalista Lúcio Mesquita, então diretor para as Américas do Serviço Mundial da BBC, apresentou o modelo britânico de TV pública, o mais consagrado do mundo, e definiu o serviço como a busca em ser referência para todo o setor de radiodifusão, tanto público como privado.
“Para nós, a questão não é se as TVs públicas devem ou não produzir novelas, programas de auditório, o que for. Mas, sim, como as TVs públicas podem produzir esses programas com qualidade, isenção e liberdade de forma que não só o público note e aprecie, mas, tão importante quanto o sucesso de público, que as emissoras comerciais notem e adotem como referência”.
A ideia que o novo governo tinha para a TV pública foi externalizada pelo então Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, jornalista Ricardo Kotscho: “informar a sociedade por intermédio da imprensa, mas também informar o governo sobre o que se passa na sociedade”. Ele destaca também que a TV pública deve “ser útil à população” e “contribuir para melhorar as condições de vida” com informação e entretenimento.
O professor Laurindo Leal Filho destacou alguns problemas enfrentados pelas TVs públicas no Brasil, em especial a TV Cultura de São Paulo. Ele viria a ser o primeiro ouvidor-geral da EBC e apresentador do programa Ver TV na TV Nacional e TV Brasil.
“A crise vivida atualmente pela TV Cultura paulista nada mais é do que uma fase que se repete regularmente ao longo de sua história. Ela é mantida desde 1969 por uma fundação de direito privado, o que lhe dá total independência gerencial em relação ao Estado, e tem como fonte de recursos prioritários, e, em alguns momentos, única fonte, o tesouro estadual. Criou-se, dessa forma, uma relação tensa entre quem libera as verbas e quem gerencia, e essa é a raiz institucional de todas as crises”.
Leal Filho destaca como “minguados” marcos da radiodifusão pública no Brasil a inauguração da Rádio Sociedade, a criação da TV Cultura e da TVE e a Constituição Federal, apesar de diversos problemas e descontinuidades de projetos. Ele aponta a criação de um conselho nacional para coordenar as emissoras não-comerciais como solução para formar uma “poderosa rede pública de televisão”. O pesquisador indica a necessidade de diversificar as fontes de recursos, bem como incentivar a produção audiovisual independente e a criatividade em novas linguagens nas emissoras públicas.
Portanto, temos como resultado desse evento vários fundamentos trazidos de experiências nacionais e internacionais no campo da radiodifusão pública, para balizar a implantação do sistema no Brasil.
Fonte: Carmona (2003)
Na televisão, em 2004 Bucci destaca a ampliação da grade da TV Nacional e também da NBR de 18 para 24 horas diárias, além da retransmissão de programas por outras emissoras.
“Mais emissoras locais pediam autorização para retransmitir as duas horas de noticiários diários produzidas pela TV Nacional. Eram cerca de 700 em 2003 e passavam de 1.100 antes do final de 2005. A NBR, que já era distribuída por operadoras de cabo, entrou no cardápio do satélite B1, da Embratel, que atingia aproximadamente 14 milhões de parabólicas no país, com sinal aberto. O alcance tinha aumentado também porque nossa programação começou a ser aproveitada por outras televisões. Pela primeira vez em 30 anos, programas de televisão criados pela Radiobrás passaram a ser retransmitidos espontaneamente por outros canais”.
O ex-presidente da Radiobrás cita a retransmissão dos programas Diálogo Brasil e Ver TV por emissoras educativas e culturais de todo o país.
Fonte: Bucci (2008)
Outra experiência empreendida na gestão Bucci foi a TV Brasil – Canal Integración, uma proposta em conjunto com os três poderes da república e apoio do Itamaraty para “criar não um canal da Radiobrás, mas do Estado em sentido amplo, para fortalecer a integração regional no plano da comunicação e da cultura”, segundo Bucci, com conteúdos bilíngues dos vários países da América do Sul.
A transmissão experimental do novo canal ocorreu durante a cobertura do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, de 26 a 31 de janeiro de 2005, com 13 horas diárias, boa parte ao vivo, em espanhol, com sinal disponível via satélite para os outros países das Américas. A solenidade de lançamento oficial da emissora ocorreu no dia 10 de fevereiro de 2005, no Palácio do Planalto. Bucci relata que durante todo o ano ele visitou países da região para fechar acordos de cessão de conteúdos, sendo recebido com simpatia e entusiasmo.
As transmissões regulares da TV Brasil – Canal Integración começaram no dia 30 de setembro de 2005, com o encerramento da primeira reunião de Chefes de Estado da Comunidade Sul-americana, e a partir de fevereiro de 2006 as transmissões eram 24 horas. Ao final do ano, já contava com 46 convênios firmados com instituições públicas e privadas do continente para a cessão de conteúdo. Cerca de 200 operadoras de cabo de diversos países estavam autorizadas a transmitir o sinal para as Américas do Sul e Central. No Brasil não foi disponibilizado um canal exclusivo para a nova emissora, mas algumas televisões, como a NBR, exibiam trechos da programação.
O projeto foi descontinuado em 2010, quando entrou no ar em seu lugar a TV Brasil Internacional, voltado para o público brasileiro que vive no exterior.
Confira o vídeo institucional da TV Brasil - Canal Integración:
Fonte: Bucci (2008) e Intervozes
No dia 2 de dezembro de 2007 a TV Brasil entra no ar no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e São Luís, fruto da fusão das grades da TVE do Rio de Janeiro com a TV Nacional de Brasília. É criada a Rede Pública de Televisão, com 50 geradoras e mais de 700 retransmissoras. A transmissão é obrigatória nos pacotes básicos de TVs por assinatura e o sinal é disponibilizado também via antena parabólica.
Apesar das dificuldades políticas e financeiras, a comunicação pública conseguiu avançar nos primeiros anos da EBC. A principal face da mudança foi, sem dúvida, a TV Brasil. Entre os diferenciais implementados podemos citar que a TV Brasil é uma das únicas TVs abertas que oferecem conteúdo infantil e é uma das que mais exibem cinema nacional; Veiculou novela e desenho só com personagens negros; teve o primeiro programa LGBT da TV aberta; oferta jornal em libras, programa de música clássica, debate sobre a mídia e espaço para artes da periferia. Teve bons índices de audiência com a transmissão da Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol e com o Desfile das Campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro.
Segundo Valente, os programas culturais foram o principal investimento da emissora no primeiro ano de funcionamento, demonstrando boa diversidade ao mesclar locais e regiões dentro e fora do país, bem como influências da alta cultura e da diversidade brasileira.
Após os primeiros anos de funcionamento da EBC, Laurindo Lalo Leal Filho afirma que a implantação da empresa foi “um salto histórico” para a comunicação brasileira.
“Num país em que a comunicação pública era fragmentada pelos estados e municípios foi possível institucionalizá-la nacionalmente. Acredito que existam ainda desafios enormes. Acho que o maior deles é a presença dos sinais da TV e das rádios da EBC em todo o país, universalizados. Afinal a comunicação pública é mantida por todos os cidadãos brasileiros, e todos têm direito de ter acesso a ela. Por problemas de ordem técnica, isso ainda não é possível. Este é o grande desafio: as empresas da EBC estarem presentes em todos os domicílios brasileiros”.
Como dificuldades enfrentadas para a consolidação do sistema público no país, Tereza Cruvinel, destaca em sua entrevista ao livro Em defesa da comunicação pública, a concorrência consolidada e oposição ferrenha dos canais comerciais, que já tinham a audiência fidelizada e não aceitaram a existência de uma TV pública.
“Uma resistência que não deriva da concorrência comercial, que inexiste na medida em que os canais públicos não veiculam publicidade, mas da diferenciação dos conteúdos, especialmente dos jornalísticos: sendo mais independentes e obrigatoriamente mais pluralistas e imparciais, passam a representar um contraponto ao jornalismo monolítico dos veículos comerciais, unificados por interesses políticos e ideológicos comuns numa espécie de ‘jornalismo do pensamento único’. E, finalmente, persistem as resistências de setores políticos ultraliberais, que enxergam nas TVs Públicas uma manifestação de estatismo e intervencionismo antimercado”.
Ela cita também as restrições orçamentárias do setor público.
“Da escassez de recursos derivam outros problemas, como a menor remuneração dos profissionais, a restrição aos custos de produção de conteúdos, atrasos tecnológicos e dificuldades para a auto divulgação”.
Fonte: Valente (2009), Ramos et al (2017), Paulino e Silva (2013) e EBC
Para ampliar as discussões sobre a comunicação pública no país, ocorre em Brasília, entre os dias 8 a 11 de maio de 2007, o I Fórum Nacional de TVs Públicas, envolvendo os setores público e privado na discussão dos rumos do segmento público de televisão, convocado pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, em parceria com a Casa Civil e entidades representativas do setor público de televisão. Participaram representantes de emissoras de TV e radiodifusoras públicas e educativas, TVs universitárias, TVs comunitárias, TVs legislativas, expositores internacionais, autoridades do Governo Federal, secretários estaduais de Cultura, organizações da sociedade civil e parlamentares, segundo a chamada feita pelo Ministério da Cultura:
“As discussões vão ocorrer com base no mais completo diagnóstico já realizado sobre a situação atual das cerca de 200 emissoras públicas existentes atualmente no Brasil. Preliminarmente, foi desenvolvido um trabalho com grupos temáticos, que reuniu representantes de todos os segmentos envolvidos. O resultado está consolidado nos dois volumes da publicação intitulada Caderno de Debates”.
A discussão produziu a Carta de Brasília, intitulada “Manifesto pela TV Pública independente e democrática”, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula reafirmar na cerimônia de encerramento do fórum o compromisso de implantar o projeto de uma rede nacional de TV pública, que não será “chapa branca” nem refém da audiência.
Lula admite a importância da sociedade na discussão, até para evitar críticas ao governo, e defende que o projeto reúna as ideias discutidas no fórum sobre o modelo de TV pública a ser criada pelo governo federal.
“Nós temos que ter consciência de que não queremos competir fazendo novelas, nós queremos competir na qualidade e no profissionalismo. Nisso nós queremos competir. Fazer uma coisa que as pessoas sintam o prazer de ligar e ficar assistindo, porque se não for assim, daqui a pouco a gente está como muitas que a gente tem nos estados e que não funcionam. (...) O dado concreto é que não pode continuar apenas do jeito que está, é preciso avançar. Eu acho que o País está maduro para isso, eu acho que a imprensa está madura para compreender a necessidade disso, eu acho que os artistas brasileiros estão maduros para compreender a necessidade disso”.
A Carta de Brasília defende uma rede com independência editorial de mercados e governos, que estimule a formação crítica do cidadão, valorize a produção independente, regionalizada e expresse a diversidade de gênero, étnico-racial, de orientação sexual, regional e social do Brasil.
A Carta traz como recomendação que “a nova rede pública organizada pelo Governo Federal deve ampliar e fortalecer, de maneira horizontal, as redes já existentes”; deve regulamentar os artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal; que sejam construídos e adotados “novos parâmetros de aferição de audiência e qualidade que contemplem os objetivos para os quais a TV Pública foi criada”; que a União tenha participação decisiva “em um amplo programa de financiamento voltado para a produção de conteúdos audiovisuais, por meio de mecanismos inovadores”; e que se promovam “mecanismos que viabilizem a produção e veiculação de comunicação pelos cidadãos e cidadãs brasileiros”. O documento finaliza com sugestões que a TV pública deve seguir para alavancar o processo de migração digital da TV no país.
Luiz Felipe Ferreira Stevanim lembra que a noção de sistema público de comunicação surgiu no contexto de redemocratização do país, no início dos anos 80, como reivindicação social das lutas por políticas democráticas de comunicação. Ele cita articulações como a Frente Nacional de Lutas por Políticas Democráticas de Comunicação e a Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino em Comunicação (Abepec), além de núcleos de ação de professores de comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e órgãos como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Segundo ele, a noção de “sistema público” aparece no texto “A transição política e a democratização da comunicação social”, publicado em 1984 pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC), de Brasília, como “aquele que sendo financiado tanto por contribuições diretas do público, como pelo Estado e/ou pela iniciativa privada tem todavia sua programação sob o controle de segmentos organizados da sociedade civil”.
Stevanim destaca que a realização do Fórum de TVs Públicas foi impulsionada pelas discussões do tema na sociedade civil, como a retomada das atividades do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em 2001, e a criação do Coletivo Intervozes de Comunicação, em 2003. Outro motivador foi a mobilização das emissoras do campo público do país, que reunia as televisões educativas, legislativas, universitárias e comunitárias. Elas “demandavam tanto maior integração entre essas produtoras e exibidoras de conteúdo não comercial quanto uma política direcionada pelo Executivo Federal de fomento a este conjunto de mídias públicas”.
Para o autor, o governo abriu a possibilidade de inserção do tema na agenda pública, apesar de que “essa não era uma pauta central no interior do governo e ainda sofria resistência, sobretudo dos interesses vinculados à mídia privada”. Ele destaca que “o Fórum antevia os riscos do modelo a ser implantado pelo governo, com perfil estatal e verticalizado, que relegaria as emissoras já existentes a um espaço de segunda categoria”.
Segundo Venício Lima, o cenário era otimista após a realização do Fórum. “O governo do presidente Lula chamou para si a responsabilidade de incentivar a criação de um sistema público de comunicação. Depois da bem-sucedida iniciativa, liderada pelo Ministério da Cultura, de realizar um Fórum Nacional de TVs Públicas, um novo ministro assumiu a Secretaria de Comunicação Social, vários grupos de trabalho estão funcionando e a Rede Pública de Televisão, priorizada, começa a se concretizar. Espera-se que já em agosto uma Medida Provisória neste sentido seja enviada ao Congresso Nacional”, diz ele.
Links:
Carta de Brasília: http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?p=18362
Discurso do presidente Lula: Clique para fazer o download.
Fonte: Stevanin (2017), Lima (2012), Lula (2007), Ministério da Cultura e Intervozes
O decreto nº 4.046, de 2001, extingue o cargo de Ministro da Secom e transforma a Secretaria de Comunicação de Governo da Presidência da República em Secretaria de Estado de Comunicação de Governo. As mudanças na estrutura continuam com a Medida Provisória 13, de 11 de dezembro de 2001, que cria o cargo de Secretário de Estado de Comunicação de Governo, convertida na lei nº 10.415, de 21 de março de 2002. Em 31 de outubro 2002 o Decreto nº 4.454 aprova a estrutura e o quadro de cargos da Secom, vinculando a Radiobrás à estrutura do Planalto.
Com o novo governo, a partir de 2003, a estrutura de comunicação oficial sofre novas reestruturações. A Medida Provisória nº 103, de primeiro de janeiro de 2003, reorganiza a estrutura da Presidência da República e dos Ministérios, transformando a Secretaria de Estado de Comunicação de Governo em Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República. A Secretaria de Imprensa e Divulgação do Gabinete da Presidência da República passa a ser Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República e cria o cargo de Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica. O texto foi convertido na Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003.
Com o decreto nº 4.779, de 15 de julho de 2003, a Secom passa a ter o nome de Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República. Entre as atribuições está a “convocação de redes obrigatórias de rádio e televisão”. A Radiobrás permanece como entidade vinculada. Já o decreto nº 4.799, de 4 de agosto de 2003, institui que a comunicação de governo do Poder Executivo Federal terá como objetivos principais:
Parágrafo único. É vedada a publicidade que, direta ou indiretamente, caracterize promoção pessoal de autoridade ou de servidor público (DECRETO Nº 4.799, artigo 1º).
Vemos aqui alguns princípios de comunicação pública, como nas alíneas I e II, ao mesmo tempo que as funções governamentais estão explícitas nas alíneas III e IV. A única menção à Radiobrás no texto aparece no artigo 9º, que trata da distribuição da publicidade legal, incumbência dada à empresa.
O cargo de Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República é extinto pela Medida Provisória 259, de 21 de julho de 2005, convertida na lei nº 11.204, de 5 de dezembro do mesmo ano. Em 2006, o decreto nº 5.849, de 18 de julho, coloca a Secretaria de Comunicação Institucional abaixo da Secretaria Geral da Presidência da República, após a extinção da Secretaria de Comunicação anterior. Com isso, a Radiobrás passa a ser vinculada a essa Secretaria Geral.
Por sua vez, a Medida Provisória nº 360, de 28 de março de 2007, convertida na lei nº11.497, de 28 de junho de 2007, recria a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, com status de ministério. Embora o texto não trate da Radiobrás, o artigo 2º-B traz em sua alínea VII a atribuição de assistir o Presidente da República na “coordenação e consolidação da implantação do sistema brasileiro de televisão pública”.
Links:
Fonte: Legislação
Valente destaca como impulso para o campo público da televisão a publicação do Decreto nº 5.371, de 2005, que institui a figura das retransmissoras institucionais, restritas à veiculação de conteúdos dos poderes da república, com até 15% de programação local. A norma determina a existência de um conselho para participação social, nos moldes internacionais da comunicação pública.
Segundo ele, o mecanismo foi um movimento para “tornar o serviço atraente às prefeituras”, que poderiam se interessar em veicular conteúdos próprios e distribuir produção feita pela TV Nacional, NBR, TV Câmara, TV Senado e TV Justiça. “A norma trazia inovações, como a obrigatoriedade de consultas públicas para a solicitação de uma estação e a distribuição do conteúdo inserido localmente em tempo igual entre a prefeitura, a câmara de vereadores e entidades da comunidade, além da exigência da criação de um conselho com participação de organizações da sociedade civil da área de abrangência do sinal para acompanhar e avaliar a prestação do serviço”.
Links:
Fonte: Valente (2009)
Em 10 de outubro de 2007, a Medida Provisória 398 “institui os princípios e objetivos dos serviços de radiodifusão pública explorados pelo Poder Executivo ou outorgados a entidades de sua administração indireta, autoriza o Poder Executivo a constituir a Empresa Brasil de Comunicação - EBC”. A efetivação da criação da EBC e a aprovação de seu estatuto vieram pelo decreto nº 6.246, de 27 de outubro de 2007, depois alterados pelo decreto nº 6.689, de 11 de dezembro de 2008.
Lima aponta que um dos avanços no ano de 2007 foi a edição da MP 398, apesar dos intensos debates no Congresso Nacional e das 133 emendas recebidas. Por outro lado, ele critica o fato dos movimentos que levaram à construção da TV pública terem ficado de fora do processo de implementação da TV Brasil.
A primeira diretora-presidente da EBC, a jornalista Tereza Cruvinel, lembra que o projeto de criar a empresa pública de comunicação enfrentou “muita incompreensão e resistência”, além de não ter tido força política o suficiente para chegar a todo o país, tendo apenas três canais de televisão, em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Luís.
O texto da MP foi convertido na Lei nº 11.652, de 7 de abril de 2008 e cria a EBC incorporando os bens, serviços e funcionários da Radiobrás e da Acerp. Segundo Valente, pode-se dizer que “a visão por trás do modelo da EBC aproxima-se daquela que compreende a de mídia pública como um espaço democrático necessário entre o mercado e o Estado”. No texto da lei, em seu artigo 2º, a prestação dos serviços de radiodifusão pública por órgãos do Poder Executivo seguirá os princípios da:
O artigo 3º define como objetivos:
Parágrafo único. É vedada qualquer forma de proselitismo na programação (LEI 11.652, art. 3º).
As competências da EBC são definidas no artigo 8º:
No corpo funcional, o quadro da EBC foi ampliado de cerca de 800 funcionários da Radiobrás para 2.500, majoritariamente aprovados em concurso público a partir de 2011.
Links:
Fonte: Lima (2012), Valente (2009), Unesco (2012), Stevanim (2017), Paulino e Silva (2013) e Legislação
A autonomia da EBC em relação ao governo federal seria garantida pelo mandato de quatro anos do diretor-presidente, mesmo que indicado pelo presidente da República, mas não coincidente com o do mandatário do país; pela Ouvidoria; e pelo Conselho Curador, formado por 22 membros, sendo quatro ministros de estado, 15 representantes da sociedade civil, um do Senado Federal, um da Câmara dos Deputados e um representante eleito pelos funcionários da EBC.
As funções do Conselho eram o de “zelar pelos princípios e pela autonomia da EBC, impedindo que houvesse ingerência indevida do Governo e do mercado sobre a programação e gestão da comunicação pública” ; e “representar os anseios da sociedade, em sua diversidade, na aprovação das diretrizes de conteúdo e do plano de trabalho da empresa”.
Tais funções seguem o modelo da britânica BBC, na qual o Conselho “é responsável por garantir o cumprimento da missão e propósitos públicos”, divulgando inclusive um Plano Anual e um Relatório Anual de prestação de contas.
No caso do Conselho Curador da EBC, não havia a previsão do colegiado ser responsável pelas atividades comerciais da empresa, mas os conselheiros tinham a função de aprovar o Plano Anual de Trabalho e as resoluções eram de cumprimento obrigatório.
O colegiado foi um marco fundamental para que a EBC fosse de fato pública. Para garantir que suas decisões fossem tomadas em nome do interesse público, a maior parte de seus membros representava a sociedade civil e eram escolhidos por meio de consulta pública, após a primeira composição de pessoas notáveis indicadas pelo presidente Lula. Era também a única instância com poder de destituir o diretor-presidente da EBC, caso fossem dados dois votos de desconfiança.
A primeira presidenta da EBC, Tereza Cruvinel (in PAULINO e SILVA, 2013, p. 29) destaca que a implantação dos mecanismos de autonomia foi uma prioridade da gestão, colocada em prática antes mesmo da conversão da medida provisória em lei.
“Tínhamos, nesse caso, que aprofundar o caráter público da gestão. O Conselho Curador foi empossado em 14 de dezembro de 2007, duas semanas depois da estreia da TV Pública. Os conselheiros foram nomeados pelo Presidente da República, ainda antes da aprovação da Lei, com base na Medida Provisória 398. Depois, no Congresso, houve a alteração que introduziu a escolha com base em consultas públicas à sociedade”.
Eliane Gonçalves (2016, p. 79) destaca que houve muita crítica e disputa no Congresso Nacional para a aprovação da forma e função do Conselho Curador. O principal problema apontado por ela foi justamente a falta de participação da sociedade civil na escolha dos nomes que iriam compor o colegiado. A solução legislativa para a participação de fato da sociedade no colegiado foi acrescentar no texto que apenas a primeira composição seria indicada pelo presidente da república, os membros seguintes seriam escolhidos por consulta pública. Na tramitação no Congresso Nacional também foram incluídos um representante da Câmara dos Deputados e um do Senado Federal.
A lei determina que os 15 representantes da sociedade civil seriam indicados “segundo critérios de diversidade cultural e pluralidade de experiências profissionais, sendo que cada uma das regiões do Brasil deverá ser representada por pelo menos 1 (um) conselheiro”. A primeira composição do Conselho Curador da EBC, chamado de “Conselho de Notáveis”, segundo decreto de 30 de novembro de 2007, foi:
O decreto de nomeação foi publicado no dia 3 de dezembro, um dia após a estreia da TV Brasil, mas o primeiro representante dos funcionários demorou mais de um ano após o início do funcionamento do colegiado para ser nomeado, em 9 de março de 2009, tendo sido eleito pelos pares o jornalista Lourival Macedo.
Sobre a implantação da Ouvidoria, Cruvinel explica que demorou um pouco mais por exigir mais estrutura dentro da empresa.
“A Ouvidoria dependia de alguns procedimentos internos e, principalmente, de que a empresa estivesse mais consolidada. O Conselho se reuniria uma vez por mês. Já a Ouvidoria funcionaria permanentemente, o que exigiria funcionários, estrutura logística, recursos materiais etc. Por isso, sua implantação atrasou-se um pouco, vindo a ser implantada em junho de 2008, logo depois da aprovação da Lei de criação pelo Congresso e da incorporação da Radiobrás pela EBC”.
A norma interna que regulamentou a Ouvidoria da EBC foi a número 001 e o primeiro ouvidor foi o professor Laurindo Leal Filho. Na transição entre a Radiobrás e a EBC, a ouvidoria da antiga estatal, exercida por Paulo Machado “supriu a deficiência inicial”, segundo Cruvinel. No texto da Lei 11.652, a Ouvidoria foi encarregada de “exercer a crítica interna da programação por ela produzida ou veiculada, com respeito à observância dos princípios e objetivos dos serviços de radiodifusão pública, bem como examinar e opinar sobre as queixas e reclamações de telespectadores e rádio-ouvintes referentes à programação”.
Leal Filho, em entrevista a Paulino e Silva (2013, p, 43), destaca que o trabalho inicial foi difícil, principalmente com o público interno da EBC.
“Não é uma prática comum no país e isso dificulta o entendimento. Até então só existiam duas ouvidorias de mídia no Brasil, na mídia impressa, nos jornais O Povo, do Ceará, e na Folha de S. Paulo. Essa falta de cultura de ouvidoria de mídia no Brasil levou a uma certa resistência inicial dentro da empresa. Não havia o hábito desse tipo de acompanhamento do trabalho profissional”.
A partir de 2018, o trabalho da Ouvidoria da EBC de crítica interna dos conteúdos foi desmontado, após o fim do mandato de Joseti Marques em março, cujo nome tinha sido escolhido seguindo perfil recomendado pelo Conselho Curador, em memorando de 2014.
Em novembro de 2018, após a publicação do Decreto nº 9.492/2018, que regulamentou a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, marcos que criam o Sistema de Ouvidoria do Poder Executivo Federal (e-OUV), a Ouvidoria da EBC passou a integrar a iniciativa governamental, que incluiu, segundo texto legal, “órgãos da administração pública federal direta, autárquica e fundacional”; “empresas estatais que recebam recursos do Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial de despesas de pessoal ou para o custeio em geral”; e “empresas estatais que prestem serviços públicos, ainda que não recebam recursos do Tesouro Nacional para custeio total ou parcial de despesas de pessoal ou para o custeio em geral”.
Com isso, a Ouvidoria da EBC alinhou os procedimentos e foi incluída no atendimento on-line padronizado do governo federal, por meio da plataforma Fala.BR, da Controladoria-Geral da União. Nos sites dos veículos da EBC, foram incorporados botões com ícones coloridos para a manifestação do público sobre a qualidade dos conteúdos publicados, com as opções de denúncia, reclamação, elogio, sugestão, solicitação e simplifique.
Sobre o financiamento da comunicação pública e da EBC, como forma de garantir alguma autonomia financeira foi criada pela lei a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP), “com o objetivo de propiciar meios para a melhoria dos serviços de radiodifusão pública e para a ampliação de sua penetração mediante a utilização de serviços de telecomunicações” (LEI 11.652, 2008, art. 32). Os recursos viriam do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), cobrado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) das empresas do setor. Porém, disputas judiciais impediram desde o princípio que a EBC dispusesse desse recurso. Mesmo quando algumas empresas desistiram da briga na justiça, os recursos continuaram contingenciados pelo governo federal, nunca chegando de fato à EBC. Segundo a própria empresa, em 2016, a soma que poderia ser disponibilizada chegava a R$2 bilhões.
Por outro lado, a autonomia da empresa sempre foi prejudicada pelo fato de ter seu financiamento majoritário da União, a vinculação direta à Secretaria de Comunicação da presidência da República e o Conselho de Administração (Consad) composto por maioria de membros do governo. Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) alertam, na publicação sobre indicadores de qualidade para emissoras públicas, que o financiamento é um fator importante a ser considerado. Para os autores, o ideal é que os aportes financeiros previstos sejam protegidos por lei, o que não ocorre com a EBC.
“Não podem ser desviados, pela autoridade pública, para outras finalidades, e também não podem ser contingenciados de acordo com a discricionariedade do agente público. A lei, também, deve deixar expressa a não vinculação da emissora pública a qualquer autoridade externa ao seu próprio corpo funcional. Ressalte-se que os conselhos curadores, que abrigam representantes da sociedade e representantes de instituições, como universidades, são órgãos internos, que integram o corpo da emissora pública. O que contraria sua natureza de emissora pública não é a existência dos conselhos, nem a existência de representantes da sociedade nos conselhos, mas a subordinação, legal ou informal, tácita, a uma autoridade do Poder Executivo, do governo ou de outro poder estatal. A emissora pública não deve prestar qualquer forma de contrapartida política ao recebimento de recursos dos poderes públicos”.
Stevanim (2017) destaca que a configuração dada à EBC não atendeu às expectativas e reivindicações do movimento pela democratização da comunicação, já que aproximou a radiodifusão pública do Estado.
“À instituição caberia uma parcela das funções que antes competiam à Radiobrás, (...) encargo este que deixava sob sua alçada não somente incumbências ligadas à radiodifusão pública, mas também de comunicação estatal. Em relação à gestão, reforçava-se o caráter estatal, pois a administração ficou por conta de dois órgãos ligados ao Executivo Federal: o Conselho de Administração seria incumbido das questões de finanças e dos planos estratégicos e a Diretoria Executiva coordenaria as ações gerenciais da instituição. (...) A vinculação da estrutura da EBC com o Estado tornava a independência relativa, suscetível aos arranjos temporais de poder: tratava-se de uma empresa pública, com o quadro gestor nomeado pelo Presidente da República e uma parcela considerável dos recursos financeiros atrelada à aprovação governamental”.
Assim, mesmo sem atender completamente o que desejava a sociedade civil para uma empresa de comunicação pública, a EBC foi criada no intuito de suprir essa lacuna constitucional. Nos primeiros 8 anos de implementação do projeto, houve ações importantes na tentativa de consolidar uma comunicação pública como nos moldes discutidos até aqui, apesar de a empresa nunca ter alcançado a autonomia de fato.
Links:
Decreto da nomeação do primeiro Conselho Curador
Fonte: Unesco (2012), Stevanim (2017), Paulino e Silva (2013), Gonçalves (2016), BBC, Conselho Curador e Legislação
O texto da MP 398 foi convertido na Lei nº 11.652, de 7 de abril de 2008 e cria a EBC incorporando os bens, serviços e funcionários da Radiobrás e da Acerp. No decreto nº 6.794, de 13 de março de 2009, a Acerp passa a ser supervisionada pela EBC, mediante contrato de gestão. Em 30 de dezembro de 2014, o decreto n° 8.385 passa essa supervisão ao Ministério da Educação, desvinculando a Associação da empresa pública de comunicação.
Neste ano, a entidade muda de nome e passa a se chamar Roquette Pinto. Entre as atividades que desenvolve estão a TV Escola, disponível nas TVs de acesso condicionado e na multiprogramação da TV Brasil digital, e a TV Ines, canal on-line acessível ligado ao Instituto Nacional de Educação de Surdos.
Links:
Assista à TV Ines: http://tvines.com.br/
Assista à TV Escola: https://tvescola.org.br/
Fonte: Acerp e Legislação
Um marco na história da EBC em 2013 é o tombamento do Edifício A Noite pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) , no dia 4 de abril. Apesar das redações da Agência Brasil e da Rádio Nacional, bem como os estúdios, terem sido transferidos do prédio histórico no final de 2012, os últimos quatro andares do edifício ainda pertenciam à EBC. Os andares inferiores eram do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), órgão também federal. Em dezembro de 2018 a Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP/SPU) cedeu o prédio ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). No final de 2019 o prédio encontrava-se totalmente desocupado, sem previsão para o início da prometida reforma e nem uma decisão sobre o destino do A Noite tomada.
Fonte: EBC e Ministério do Planejamento
Como parte dos avanços destacamos também o lançamento dos aplicativos da EBC, para ouvir as rádios e assistir a programas da TV Brasil pelo smartphone. Os dados repassados pela empresa via Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam que, desde o lançamento do aplicativo, em novembro de 2017, a setembro de 2018, foram feitas 5.624 instalações do App Radios EBC por usuários Android, com 4.220 instalações ativas, ou seja, que estiveram on-line pelo menos uma vez nos 30 dias anteriores. No sistema iOS foram 467 instalações no total e 117 dispositivos estiveram ativos nos últimos 30 dias. A EBC ressalta que os dados se referem apenas a instalações dos usuários que concordaram em compartilhar os diagnósticos e informações de uso com os desenvolvedores de apps. No caso do iOS, 47% de todos os usuários que instalaram Rádios EBC concordaram com o compartilhamento.
A tela principal do aplicativo EBC Rádios mostra os players das rádios, com acesso fácil e rápido para a programação ao vivo de cada uma das emissoras. É possível também navegar pelas notícias e pelos programas, com uma lista de 163 ao todo. Na funcionalidade “Horários”, é possível selecionar a emissora e verificar a grade correspondente para o dia, bem como acionar um alarme para um ou mais programas selecionados.
Na classificação das emissoras por acessos ao player, segundo informações repassadas pela EBC via LAI, em primeiro lugar fica a Rádio Nacional da Amazônia, com 130.162 cliques, seguida da Rádio Nacional de Brasília (87.210), Rádio Nacional do Rio de Janeiro (60.931), Rádio MEC FM do Rio de Janeiro (50.020), Rádio Nacional FM Brasília (39.101), Rádio MEC AM do Rio de Janeiro (37.787) e com por último ficou a Rádio Nacional do Alto Solimões, com 33.875 cliques. Os programas mais ouvidos são Eu de Cá, Você de Lá, com 134.275 acessos, Madrugada Nacional (128.932), Ponto de Encontro (86.426), Repórter Nacional (76.429), Revista Brasil (73.688), Manhã MEC FM (64.953), Grandes Clássicos (51.887), Bom Dia Amazônia (43.394), Brasil Rural (40.326) e Musishow, com 38.256 acessos.
Fonte: Akemi Nitahara, EBC e LAI
No dia 20 de março, um raio, em meio a um temporal, atinge a subestação de energia do Parque de Transmissores do Rodeador, em Brazlândia (DF), e tira do ar o “Orelhão da Amazônia”.
Sem a Rádio Nacional da Amazônia, única emissora que chega a boa parte dos 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Legal, transmitida em ondas curtas do Rodeador, chovem reclamações na Ouvidoria da EBC e até a sugestão de se fazer uma vaquinha entre os ouvintes para arrecadar recursos para resolver o problema.
A emissora passou fora do ar o seu 40º aniversário, em 1º de setembro de 2017, funcionando com apenas 5% de sua potência, condição precária recuperada em junho, três meses após o incidente. A transmissão completa só foi restabelecida no dia 17 de dezembro de 2019, após um reparo que custou R$ 2,5 milhões. A demora de dois anos e nove meses e o baixo valor em relação ao orçamento total da empresa são sinais do sucateamento que a EBC sofre desde 2016.
Fonte: Mayara Paixão (2021) e EBC
Em 2010, um redesenho no site inseriu a Agência Brasil como uma página dentro do website da EBC. Segundo Aguiar e Lisboa, dessa forma a marca da Agência Brasil foi atrelada à da EBC, “deixando mais evidente sua condição de serviço subordinado, e não de empresa autônoma”.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
Em outubro de 2011 foi lançado o Portal EBC, que, segundo a própria empresa, produz conteúdo próprio “com foco nos usuários de internet”. São notícias, materiais explicativos, especiais multimídia, transmissões ao vivo e narrações minuto a minuto. Apresenta também, de forma integrada, os conteúdos dos demais veículos da EBC, além de apresentar “uma visão crítica de assuntos de interesse do público na web e nas redes sociais”. Apesar de constar no descritivo do site espaço para publicação de conteúdo colaborativo, não há atualizações desta página desde abril de 2016.
A produção de conteúdo para o Portal EBC foi encerrada no dia 7 de agosto de 2020, quando toda a plataforma web da empresa foi reestruturada. Com isso, o endereço ebc.com.br passou a ser o Portal Institucional da EBC. Segundo a empresa, “todo o conteúdo produzido pelo Portal EBC será preservado e continuará acessível aos usuários”, com os trabalhos direcionados para os sites dos veículos e agências da EBC. Porém, na época da mudança, uma busca feita pela Comissão de Empregados apontou que vários conteúdos tinham saído do ar. Em setembro de 2021, verificamos que parte dos problemas apontados havia sido resolvido.
Links:
Comissão de Empregados da EBC aponta que conteúdos desapareceram
Fonte: EBC
Em 2013 foi retomado o serviço de tradução, com o lançamento das páginas da ABr em inglês e em espanhol. Em 2010, já havia sido retomado o serviço de resenhas em inglês.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016)
Nova reformulação do website da Agência Brasil, feita em 2014, destaca a Central de Conteúdo, área de acesso restrito sob cadastro e senha, pela qual é possível descarregar fotos em alta resolução e pesquisar no arquivo de notícias.
Números obtidos por Nitahara e Luz (2019) via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que, em setembro de 2018, a Central de Conteúdos da EBC somava 20.679 usuários cadastrados, entre pessoas físicas e veículos de comunicação.
O sistema da EBC não identifica quem baixou conteúdo nem a resolução das fotos, assim como não há controle sobre que veículos utilizam que tipo de conteúdo. Em junho de 2018 a Central de Conteúdos contabilizou 7.221 downloads de fotos; em julho foram 6.055 e em agosto 8.468 downloads, o que indica a importância da ABr como fornecedora de conteúdo.
Fonte: Aguiar e Lisboa (2016) e Nitahara e Luz (2019)
No início de 2016 a Agência Brasil enviou correspondentes ao Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, selecionados por meio de processo interno, ampliando a regionalização da cobertura jornalística e aprofundando a função pública do veículo.
A expansão da cobertura da Agência Brasil para além da sede em Brasília e das praças em São Paulo e Rio de Janeiro começou em 2012, com alguns correspondentes enviados para outros países, como Portugal, Colômbia, Estados Unidos e Dinamarca, para aproveitar oportunidades particulares conseguidas por alguns funcionários, como curso de doutorado e acompanhamento de cônjuge em missão diplomática.
No Brasil, em 2015 a cobertura foi ampliada com correspondentes em Fortaleza e Manaus. A partir de 2012 também chegaram vários novos concursados na empresa, substituindo contratações feitas à época da criação no modelo de Função Comissionada que exerciam funções de pessoal concursado, como reportagem e edição de textos.
O projeto de correspondentes foi encerrado arbitrariamente em agosto de 2017, sendo os repórteres chamados de volta à sede em Brasília ou ao Rio de Janeiro.
Fonte: Nitahara e Luz (2019) e EBC
Em 2010, entrou no ar a TV Brasil Internacional, voltada para o público brasileiro que vive no exterior, em substituição ao projeto do Canal Integración, que transmitia em português e espanhol para a América do Sul. De acordo com o Observatório do Direito à Comunicação, da organização Intervozes, a criação do canal atendeu à “demanda apresentada pela II Conferência Nacional de Brasileiros no Mundo, que representa uma população de cerca 3 milhões de cidadãos e cidadãs que vivem fora do país”.
O novo canal, disponível nas televisões por assinatura internacionais, entrou no ar no dia 24 de maio de 2010, inicialmente disponível para 49 países da África. A programação era baseada na grade da TV Brasil, com a inserção de alguns programas exclusivos, como Brasileiros pelo Mundo, Conexão Brasil, Fique Ligado e Brasil Hoje.
Confira o vídeo institucional da TV Brasil Internacional, em inglês:
Fonte: EBC e Intervozes
Um projeto lançado em 2015 colocou no ar os Canais do Poder Executivo na multiprogramação da TV Brasil digital, com a NBR - A TV do Governo Federal, a TV Escola e o Canal Saúde ocupando os espaços destinados originalmente ao canal público.
O trabalho foi coordenado pelo Ministério das Comunicações e a meta era fazer a TV Brasil chegar a 279 municípios com mais de 100 mil habitantes até 2019. O investimento previsto era de R$ 686,6 milhões. Assim, as emissoras entraram no ar no Distrito Federal no dia 2 de dezembro de 2015, no Rio de Janeiro em 4 de fevereiro de 2016 e em São Paulo no dia 4 de março de 2016.
Apesar do uso da multiprogramação do canal público para os canais governamental, foi a solução encontrada no momento pela direção da empresa e pelo governo para ampliar a cobertura de sinal da TV Brasil. Com a entrada de Michel Temer na presidência da república, o projeto foi interrompido.
Fonte: Um Bom Conselho, Conselho Curador e EBC
No Plano de Trabalho da EBC de 2016, consta o valor de R$ 500 mil para a distribuição da TV Brasil Internacional no exterior, além da diretriz 12 na versão resumida disponibilizada publicamente:
“A TV Brasil Internacional deve ampliar sua cobertura e também a produção voltada para o seu público específico. Ela também deve voltar a ter atenção especial com o público latinoamericano, que tem necessidade de conteúdo brasileiro em língua espanhola. Deve utilizar mais conteúdos da RNCP e de outras TVs Públicas e manter parceria com a TV Justiça, TV Câmara e TV Senado”.
No plano resumido de 2017, a mesma diretriz é repetida, mas não foi possível verificar se há valores destinados para o projeto. O documento completo foi solicitado via Lei de Acesso à Informação (LAI), mas a EBC não disponibilizou o arquivo, alegando que “o documento contém dados de natureza estratégica que, se divulgado, pode comprometer o interesse da empresa”.
A empresa alegou também que “a divulgação integral do documento poderá prejudicar a análise de atendimento das metas e resultados na execução do plano e da estratégia de longo prazo, realizada anualmente pelo Conselho de Administração, sob pena de seus integrantes responderem por omissão, devendo publicar suas conclusões e informá-las ao Congresso Nacional e ao Tribunal de Contas da União”.
Portanto, a sociedade não tem mais acesso ao planejamento completo da EBC. Nos Planos de Trabalho resumidos para os anos de 2018 e 2019 não consta nenhuma menção à TV Brasil Internacional, que teve a produção dos programas exclusivos suspensa.
“A decisão de suspender a transmissão da ‘TV Brasil Internacional’ foi tomada no final da quarta gestão anterior à atual, quando ficou acertado que a transmissão por satélite da TV Brasil Internacional deveria ser retirada do ar em 5 de maio de 2016. O motivo da decisão foi a redução de despesas e otimização dos recursos em momento de forte restrição orçamentária. Importante ressaltar que, desde a época do desligamento do sinal de satélite da TV Brasil Internacional, a programação permaneceu sendo distribuída via WebTV pelo portal da EBC, no endereço tvbrasil.ebc.com.br/webtv proporcionando acesso ao conteúdo por todos os brasileiros que residem em outros países”, informou a EBC via LAI.
Tal transmissão via WebTV consiste na programação da TV Brasil, excluídas as produções que têm restrição de direitos de transmissão.
Fonte: EBC e Lei de Acesso à Informação
O App EBC Play, lançado em agosto de 2018, teve até setembro de 2018, 1.592 instalações por usuário Android e 773 estiveram ativos pelo menos uma vez nos últimos 30 dias. Em iOS foram 173 instalações com 66 dispositivos ativos nos últimos 30 dias, com 43% dos usuários concordando com o compartilhamento dos dados.
Apesar do nome abrangente, o aplicativo EBC Play traz conteúdos apenas da TV Brasil e, a partir de dezembro de 2018, também da TV NBR, a TV do governo federal administrada pela EBC. No carrossel principal da página inicial há três programas em destaque, abaixo a seção Destaques traz outro carrossel com dez programas. O terceiro carrossel aponta os programas Populares, também com dez opções, algumas repetidas dos destaques anteriores. Na barra superior, há um link para mecanismo de busca. Na seção “Infantil”, não há nenhum desenho animado para assistir pelo aplicativo, um dos carros chefes da programação da TV Brasil. Em 2019 o aplicativo passou a se chamar TV Brasil Play.
Fonte: Akemi Nitahara, EBC e LAI
Os indicadores da Unesco apontam que há dois principais desafios enfrentados pela televisão pública atualmente: primeiro, a pressão comercial crescente; segundo a dificuldade de equilibrar o apelo a grandes audiências e o apego a valores próprios do serviço público de radiodifusão, como a representação de vozes e opiniões diversas. Para Tereza Cruvinel (in RAMOS et al, 2017), haveria esperança de retomada do projeto de comunicação pública no Brasil a depender das eleições de 2018.
“Se prevalecer um governo como o de Temer, que atenta contra outras instituições da democracia e se aproxima cada vez mais do estado de exceção, não haverá futuro para a comunicação pública e para a EBC. A experiência destes oito anos só será resgatada, a meu ver, se o País conseguir se reencontrar com a democracia plena e com um governo legítimo que compreenda a importância e o papel da EBC, que esteja disposto a financiar sua existência e a estimular seu aprimoramento, inclusive com a correção de erros, que existem, mas não justificam a interrupção da experiência”.
Porém, passado o pleito de outubro de 2018, os tempos de incertezas e mudanças profundas no que possa ter restado do projeto de comunicação pública brasileiro permanecem rondando a EBC, com o presidente eleito Jair Bolsonaro tendo anunciado em algumas oportunidades a intenção de “extinguir a EBN”.
Iniciado o governo em 1º de janeiro de 2019, a reestruturação da EBC constou na lista de prioridades para os 100 primeiros dias da nova gestão do país, com a meta de “racionalizar a estrutura da empresa e valorizar a qualidade do conteúdo”. A promessa foi cumprida em parte, com a unificação da TV Brasil com a TV NBR, no limite de vencer este prazo, dia 9 de abril, por meio da portaria interna da EBC 216.
A portaria “estabelece que a programação das emissoras de televisão TV Brasil e TV Nacional Brasil – NBR será apresentada em um só canal”. O texto alega que a unificação “preservará o princípio da complementaridade dos sistemas público e estatal, sem qualquer prejuízo ao art. 223, caput, da Constituição Federal de 1988”. Porém, tal junção significa exatamente o contrário do que diz a portaria, pois o ato extingue a separação que existia entre o canal público e o canal estatal. Entidades de defesa da liberdade de expressão e da democratização da mídia denunciaram a inconstitucionalidade da medida.
No mesmo dia, a EBC apresentou a nova programação da TV Brasil, abrindo espaço para programas da NBR e integrando as duas emissoras. Além do programa fixo Brasil em Dia, que traz notícias do governo federal, foram incorporados à programação da TV pública flashes ao vivo da Presidência da República e dos ministérios ao longo do dia, com o nome de Governo Agora. Segundo a EBC, “a nova TV Brasil surge com a integração de equipes, recursos, meios e instalações da EBC, agregando conteúdos produzidos pelo núcleo NBR”, conforme descrito em matéria institucional.
A nova marca da TV Brasil, apresentada no dia 25 de março de 2019, destaca o verde e amarelo adotados como as cores do governo federal e faz alusão a uma pipa que cobre todo o país. Porém, de acordo com o site da empresa, o sinal em canal aberto com transmissão própria está presente apenas em Brasília, Rio de Janeiro, São Luís e São Paulo. Nos outros estados, a transmissão é feita por emissoras parceiras afiliadas, num total de 35 em todo o país, que retransmitem total ou parcialmente o sinal da TV Brasil. Sendo que não há parceiras nos estados de Alagoas, Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia, Sergipe e Tocantins.
Em novembro de 2019 foi apresentada a nova identidade visual da EBC e de seus veículos, unificando as marcas com a da TV Brasil apresentada anteriormente.
Confira a vinheta explicativa da EBC para a nova marca da TV Brasil:
A reestruturação organizacional da EBC foi instituída pela portaria interna 301, com data de 10 de maio e a designação dos cargos comissionados foi publicada como anexo. Porém, as mudanças começaram antes. No dia 28 de janeiro, a publicação de 45 portarias de dispensas de cargos em comissão e funções de confiança já indicavam que os postos poderiam ter sido extintos na nova reestruturação da empresa, já que não houve substituição dos nomes.
Na vinculação da EBC, o novo governo colocou a empresa sob a Secretaria de Governo, por meio do decreto nº 9.660 , de 1 de janeiro de 2019. O texto legal traz no artigo único de seu anexo a vinculação das entidades da administração pública federal indireta: “II - à Secretaria de Governo da Presidência da República: Empresa Brasil de Comunicação - EBC, por meio da Secretaria Especial de Comunicação Social”.
Como esperado, a unificação das grades da TV Brasil com a NBR inundou a programação da TV pública com interrupções ilegais para a exibição ao vivo de eventos com a participação do presidente Bolsonaro. Um levantamento feito pela Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública, publicado pela Ouvidoria Cidadã da EBC, apontou que, apenas em 2019, a partir da data da unificação, foram 90 eventos com o presidente transmitidos ao vivo, que somaram 51h44min01s. Em 2020, foram 157 eventos, que ocuparam a TV Brasil por 109h17min40s. E em 2021, de janeiro a julho, as interrupções na programação da TV Brasil para a entrada ao vivo de eventos com o presidente Jair Bolsonaro somaram 78h37min04s, com um total de 97 eventos transmitidos de forma ilegal pela TV pública no período.
Links:
Interrupções na grade da TV Brasil
Fonte: EBC, legislação, Cruvinel in Ramos et al (2017), Unesco (2012), Ouvidoria Cidadã da EBC
Avançando com o desmonte da EBC e da comunicação pública, a direção da empresa anunciou no dia 6 de maio de 2019 o fechamento das operações em São Luís (MA).
“Segundo o comunicado do governo, a medida faz parte do processo de ‘redimensionamento’ da EBC e a sede do Maranhão vai apenas retransmitir a programação da TV Brasil” (Brasil de Fato).
Assim, a primeira emissora do Brasil a transmitir tele-aulas e que se tornou referência para outras tevês educativas deixou de produzir e transmitir o jornal local e, de forma ilegal, acaba a representação da EBC na região Nordeste.
“A população também perde o jornal local da emissora, com mais de 35 anos de existência, que foi extinto em janeiro deste ano, inclusive em desrespeito à legislação. O fechamento da regional também viola a própria lei da EBC, que em seu artigo 6º. determina a continuidade das unidades da empresa já existentes no Distrito Federal, Rio de Janeiro e Maranhão” (Sindicatos).
Os trabalhadores e as trabalhadoras da praça São Luís foram movimentados para outros órgãos federais no estado.
Links:
https://www.sjsp.org.br/noticias/nota-de-repudio-ao-fechamento-da-regional-maranhao-da-ebc-9bc6
Fonte: Sindicatos, Brasil de Fato
Em 2011, a Lei nº 12.485, do acesso condicionado, reserva um canal obrigatório em todos os pacotes ofertados pelas TVs pagas para a prestação de serviços de radiodifusão pública pelo Poder Executivo, atualizando a chamada Lei do Cabo, de 1990, que reservava um canal educativo-cultural para o governo federal. A previsão está no artigo 32, inciso V:
“um canal reservado para a prestação de serviços de radiodifusão pública pelo Poder Executivo, a ser utilizado como instrumento de universalização dos direitos à informação, à comunicação, à educação e à cultura, bem como dos outros direitos humanos e sociais”.
A lei mantém a reserva de um canal para a emissora oficial do Poder Executivo e outro de caráter educativo e cultural organizado pelo Governo Federal e “destinado para o desenvolvimento e aprimoramento, entre outros, do ensino a distância de alunos e capacitação de professores, assim como para a transmissão de produções culturais e programas regionais”
Dessa forma, a TV Brasil e a NBR têm espaço garantido nos pacotes básicos das TVs pagas.
Links:
Fonte: EBC, legislação, Cruvinel in Ramos et al (2017) e Unesco (2012)
Em 2011, a EBC realizou, em parceria com a Unesco, o Seminário Internacional de Mídias Públicas – Desafios e Oportunidades para o Século 21, nos dias 30 de junho e 1º de julho. Os debates de alto nível, com participação de representantes de organizações como National Public Radio, Global Forum for Media Development, Universidade de Palermo, Unesco Brasil, New York University, Télam e Ulan, BBC Trust e Center for Law and Democracy, contribuíram para a elaboração do Manual de Jornalismo da EBC, que traz como subtítulo o lema “Somente a verdade” e norteia os princípios do jornalismo de serviço público a ser feito pela empresa.
O documento foi aprovado como a Norma 801 em 2012 e abre a EBC à participação da sociedade. Foi construído de forma coletiva, com a participação de jornalistas de todos os veículos da empresa e consultores externos, além do Conselho Curador. O texto orienta dar prioridade aos direitos humanos e minorias, mostrando histórias e dando voz a quem não tem espaço na mídia comercial. Por outro lado, são vedadas a objetificação da mulher, a exploração da desgraça alheia e o sensacionalismo.
A norma traz como anexo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará) e a Declaração da Unesco sobre as mídias, além da lei de criação e dos marcos normativos da comunicação e dos direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988.
Links:
Fonte: EBC
Em meio à crise política que levou ao impedimento da presidenta Dilma Rousseff, a EBC passou por momentos de tentativas de avanço em direção à consolidação do projeto de comunicação pública no país.
Antes do início da crise, o decreto nº 7.932, de 19 de fevereiro de 2013, modifica o Estatuto Social da EBC para incluir um representante dos empregados no Conselho de Administração da empresa, dando aos funcionários um espaço de participação na gestão da EBC.
Em agosto de 2015, o Conselho Curador reuniu no Seminário Modelo Institucional da EBC: balanços e perspectivas especialistas e a sociedade civil para discutir os rumos da empresa. As propostas para aumentar a autonomia da EBC frente ao governo federal incluíram: diferenciação visual e estrutural da EBC Serviços, responsável pelos governamentais TV NBR e Voz do Brasil; ampliar o debate sobre comunicação pública com a sociedade; incluir a participação social na escolha do diretor-presidente; definir critérios para ocupação de cargos por funcionários do quadro; impor uma quarentena para ex-ocupantes de cargos comissionados na Secom serem alocados na EBC, evitando assim a porta-giratória entre o órgão de comunicação do governo e a empresa pública; desvincular a EBC da Secom, aparecendo propostas da empresa ir para o Ministério da Cultura, da Educação ou mesmo uma Fundação independente.
Links:
Confira aqui a sistematização das propostas apresentadas no Seminário
Fonte: EBC, Conselho Curador e Legislação
No início de 2016, com o agravamento da crise política que culminou no impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, os conselheiros expuseram ao então ministro da Secom, Edinho Silva, na reunião do Conselho Curador do dia 24 de fevereiro, a preocupação com a autonomia da empresa, a falta de investimento e a ingerência do governo. Edinho afirmou que a decisão de criar a EBC foi política, que o projeto ainda estava se consolidando e que havia compromisso do governo com a comunicação pública, tanto que o Executivo estava disposto a mediar acordos, como o que levou à transmissão do Desfile das Campeãs do Carnaval do Rio de Janeiro, que rendeu sete pontos de audiência.
Na reunião dos dias 18 e 19 de abril de 2016 do Conselho Curador, imediatamente subsequentes à votação da admissibilidade do impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, os conselheiros colocaram que a TV Brasil parecia tender a cobertura demais para o lado do governo, enquanto a Agência Brasil parecia ir na direção oposta. A principal preocupação era com as intervenções feitas pelos comentaristas. O então diretor de jornalismo, Ricardo Melo, afirmou que a TV Brasil ficou mais de 10 horas no ar com manifestações pró-impeachment e que debatedores favoráveis ao impedimento da presidenta foram convidados para participar dos programas, mas não compareceram. Melo afirmou que, com a cobertura ampla das manifestações contrárias ao impeachment, a EBC cumpria a função de complementar a mídia comercial, que não mostrava esses atos. Houve também manifestações à Ouvidoria de público favorável à cobertura, colocando a TV Brasil como um contraponto à mídia hegemônica.
A presidenta do Conselho Curador, Rita Freire, em artigo na revista Socicom Debate, relata os momentos de tensão nos bastidores da empresa.
“A EBC acabava de sair de um quadro de instabilidade iniciado alguns meses antes, com o inesperado pedido de exoneração pelo então presidente da empresa, Américo Martins. Especulações sobre os motivos, atribuídos pela imprensa a intervenções indevidas do governo, e a demora na nomeação de substituto, geraram tensões e desconfiança. O Conselho Curador precisou lidar com aquela fase, chamando o governo a dar explicações, invocando o cumprimento do Plano de Trabalho Anual, ainda sob ajustes, e cobrando as providências para uma transição rápida”.
A disputa política sobre a EBC se intensificou e o desejo de controle sobre a empresa por parte do governo ficou claro com as ações seguintes. Após a votação no Senado, em 12 de maio, que aprovou a abertura do processo e afastou Dilma da presidência temporariamente, no dia 17 de maio o então presidente interino Michel Temer exonera o diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, recém empossado, colocando em seu lugar Laerte Rímoli. Porém, como a lei 11.652 garantia o mandato de quatro anos, Melo conseguiu uma liminar no Supremo Tribunal Federal e retomou a presidência da EBC no dia 3 de junho, ficando Rímoli também no cargo, mas sem exercer as funções.
Com o impedimento definitivo de Dilma, aprovado no Senado em 31 de agosto, no dia 1º de setembro é editada a Medida Provisória 744, que desfigura completamente o caráter público da EBC, retirando o mandato do diretor-presidente, extinguindo o Conselho Curador e vinculando a empresa diretamente à Casa Civil da Presidência da República. Com isso, o ministro do STF Dias Tóffoli suspendeu a liminar concedida a Melo, por perda de objeto, e Rímoli reassume a presidência da EBC. Nesse meio tempo, ocorreram dezenas de demissões de pessoas que ocupavam funções comissionadas e vários programas foram retirados do ar de um dia para o outro, sem aviso prévio aos espectadores e ouvintes, com a demissão dos comentaristas e apresentadores. A situação é explicitada por Freire.
“Após a troca de comando na EBC, a TV Brasil, carro-chefe da empresa, colecionou programas cortados ou inviabilizados pelos contratos suspensos, apresentando buracos difíceis de preencher de uma hora para outra. O Conselho de Administração recusou novas contratações ou renovações. Chegou a determinar meta de déficit zero até o final do ano de 2016, mesmo com recursos bloqueados e pagamentos retidos pelo governo”.
Na Exposição de Motivos nº 121/2016, que subsidia a publicação da MP 744, com data de 3 de agosto, quase um mês antes da publicação da medida, consta que “a extinção do Conselho Curador deve-se à necessidade de agilizar as decisões no âmbito da EBC, em observância ao princípio da eficiência”. O texto também justifica a vinculação à Casa Civil por causa da extinção de Secom e que “a estabilidade do mandato [do diretor-presidente] não é adequada ao exercício de empresa, mas sim à qualidade do exercício da atividade”.
Em nota, o Conselho Curador, cujos integrantes estava em Brasília para uma reunião no dia em que foram cassados, se manifestou em uma moção de repúdio, afirmando que a MP “é uma afronta aos princípios constitucionais que estabelecem a comunicação pública como um direito da sociedade brasileira”, além de tirar “a autonomia da EBC em relação ao Governo Federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão e agências”. Também se manifestaram contrários à MP 744 a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, o relator especial das Nações Unidas sobre a Promoção e Proteção do Direito à Liberdade de Opinião e Expressão, David Kaye, e o relator especial interamericano para a Liberdade de Expressão, Edison Lanza, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), além de entidades nacionais como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a Associação Brasileira de Emissoras Públicas Educativas e Culturais (Abepec) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
A MP 744 foi convertida na lei nº 13.417, de 1º de março de 2017 e no dia 29 de agosto do mesmo ano a Câmara dos Deputados manteve todos os vetos presidenciais às mudanças que o próprio Congresso aprovou, na tentativa de salvar na lei um pouco do que restava de comunicação pública na EBC. Tinham sido colocados pelos legisladores uma sabatina no Senado para aprovar o nome do diretor-presidente da empresa e estabelecido um Comitê Editorial consultivo e deliberativo, para substituir o Conselho Curador, com algumas funções como debater sobre os planos editoriais e sobre conteúdos da empresa. O veto retirou a sabatina e deixou o Comitê com funções meramente figurativas, quais sejam: “propor a ampliação de espaço, no âmbito da programação, para pautas sobre o papel e a importância da mídia pública no contexto brasileiro”; e “formular mecanismo que permita a aferição permanente sobre a tipificação da audiência da EBC, mediante a construção de indicadores e métricas consentâneos com a natureza e os objetivos da radiodifusão pública, considerando as peculiaridades da recepção dos sinais e as diferenças regionais”. Os membros foram reduzidos pela metade, para 11 integrantes, e foi determinado que as reuniões ordinárias seriam mensais. Porém, mesmo figurativo, até o fim de 2019 o Comitê não foi implementado. Além disso, a empresa desmobilizou na mesma época o Comitê Editorial, que era composto por jornalistas dos diversos veículos da EBC para discutir a cobertura.
O decreto nº 9.038, de 26 de abril de 2017, coloca a EBC como entidade vinculada à Secretaria Geral da Presidência da República, por meio da Secretaria Especial de Comunicação Social e esta passa a exercer a “supervisão direta das atividades da EBC”. O projeto da ampliação da cobertura em sinal Digital da multiprogramação da TV Brasil com os canais do Poder Executivo também foi descontinuado pelo governo Michel Temer, bem como o projeto de correspondentes foi encerrado arbitrariamente em agosto de 2017 .
Links:
Fonte: Freire, EBC, Conselho Curador, Um Bom Conselho e Legislação
Em meio à crise política e às ameaças de privatização ou extinção da EBC, a sociedade civil lança a Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública e a campanha #FicaEBC. São trabalhadores da empresa, professores, pesquisadores, jornalistas, sindicatos e diversas entidades da sociedade civil na luta pela permanência da EBC como uma empresa de comunicação pública com relevância para o país.
São feitos diversos materiais de divulgação e a campanha ganha a adesão de personalidades como Tico Santa Cruz, Gregório Duvivier, Zico, Laerte Coutinho, Sérgio Mamberti, Leci Brandão, Matheus Nachtergaele e Tonico Pereira.
Em 2021, com a inclusão da EBC no Programa Nacional de Desestatização, a campanha #FicaEBC é retomada com força e mais apoios, como de Bete Mendes, Dira Paes, Osmar Prado, Natália Lage, Elza Soares, Babu Santana, Zeca Baleiro, Pedro Luis, Liniker e BNegão.
Os objetivos da Frente e da campanha são ampliar a discussão sobre a comunicação pública e divulgar a importância da EBC para a sociedade brasileira dentro de um ambiente democrático.
Fonte: #FicaEBC
A EBC lançou e efetivou entre 2017 e 2018 dois Planos de Demissão Voluntária (PDVs), para diminuir o pessoal nos quadros efetivos da empresa. O primeiro PDV foi lançado em dezembro de 2017 e finalizado em março de 2018, sendo direcionado apenas a empregados a partir de 53 anos de idade e pelo menos 10 anos de exercício na EBC. O PDV I teve a adesão de 96 trabalhadores.
O PDV II foi lançado em novembro de 2018 e finalizado em dezembro. Dessa vez, o programa foi aberto a todos os funcionários, sem limite de idade ou de tempo de casa, alcançando a adesão de 253 pessoas. O relatório anual de gestão aponta que a “economia” gerada com o corte na folha de pagamento é de R$ 67 milhões por ano.
Segundo Mayara Paixão, as reduções por meio dos PDVs e das dezenas de demissões de cargos comissionados, que são de livre nomeação, levaram a uma diminuição de 24% do quadro de trabalhadores da EBC entre 2016 e 2020. Sem concurso público para substituir os funcionários que saíram, o desmonte não é apenas de infraestrutura, mas nos quadros de pessoal também.
Link:
Fonte: Comissão de Empregados, Sindicatos, Fenaj
Diante do agravamento dos casos de censura e do governismo que se abateu sobre os veículos públicos, a Comissão de Empregados da EBC e os sindicatos dos jornalistas e dos radialistas das cidades onde a empresa tem praça, começaram a organizar dossiês para relatar o desvirtuamento na missão pública da EBC e fazer o registro histórico das intervenções.
O primeiro dossiê foi lançado em agosto de 2018 e contabilizou 61 denúncias de censura e governismo ocorridas entre o mês de outubro de 2016 e a terceira semana de julho de 2018, em todos os veículos da EBC (Rádios, TV e Agência Brasil) e em todas as praças (Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo).
O destaque foi para a censura à cobertura da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro e ao assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Pedro Gomes, além do contrato ilegal com a Agência Nacional de Águas (ANA) para a cobertura, pelos veículos públicos, do Fórum Mundial da Água.
O segundo Dossiê da Censura, lançado em setembro de 2020, contabilizou 138 denúncias, de casos ocorridos de janeiro de 2019 e julho de 2020, uma média de duas intervenções por semana. O documento levou como subtítulo “Inciso VIII”, que se refere ao artigo 2° da Lei nº11.652, de criação da EBC, que descreve os princípios a serem seguidos pela empresa de comunicação pública: “VIII - autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”.
“O documento destaca casos em que houve cerceamento à liberdade de imprensa na empresa, gerando entraves ao cumprimento do princípio básico da instituição, que é produzir conteúdos de comunicação pública, voltados para o interesse da sociedade e que “contribuam para o desenvolvimento da consciência crítica das pessoas”, como consta na própria missão da EBC” (2º Dossiê Censura EBC).
Alguns dos destaques do segundo levantamento foram a censura às palavras ditadura e golpe, para se referir ao período iniciado com o golpe de 1964, e outras pautas de direitos humanos. Foram contabilizados apenas casos concretos denunciados, mas o número é muito maior, já que o medo de perseguição leva muitos colegas a não registrarem as censuras sofridas.
“As editorias mais censuradas foram Política e Direitos Humanos, com supressão de coberturas como as repercussões do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes e violação dos direitos indígenas, interdição de usar como fonte para matérias entidades como Anistia Internacional e Human Rights Watch e proteção excessiva a ministros e ao próprio presidente da república, com edição de falas para minimizar a gravidade de declarações oficiais” (2º Dossiê Censura EBC).
Esse segundo levantamento ganhou destaque no Relatório da Violência contra Jornalistas da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lançado em janeiro de 2021, que dedicou uma seção de seu trabalho anual para a EBC:
https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2021/01/relatorio_fenaj_2020.pdf
O terceiro dossiê será lançado ainda em setembro e contabiliza 245 denúncias em um ano de registros, de agosto de 2020 a julho de 2021. O levantamento foi dividido em duas partes, uma para censura, com 156 casos de matérias modificadas, cortadas, derrubadas ou pautas que não saíram do papel e 89 registros de governismo, que é quando matérias jornalísticas ou programas fazem propaganda sem questionamento de atos ou figuras do governo.
Fonte: Mayara Paixão (2021) e EBC
Com a inauguração no país da banda estendida da FM, no dia 7 de maio de 2021, a sintonia 87.1 FM do Distrito Federal passa a retransmitir “a rádio de música clássica do Brasil”, a MEC FM do Rio de Janeiro.
No dia 7 de julho de 2020, o governo federal anunciou a intenção de vender o Edifício A Noite, avaliado em R$ 90 milhões.
“Para o Ministério da Economia, o prédio, que tem vista panorâmica da Baía de Guanabara, tem potencial para diversas utilizações, como um grande hotel ou até a adaptação para uso residencial. A fachada e a escadaria em caracol deverão ser preservadas em razão de seu tombamento” (Agência Brasil).
A propriedade do edifício foi transferida para a União no dia 16 de julho e a autorização para a venda foi publicada no dia 29 de setembro no Diário Oficial da União. Porém, não houve interessados na compra nos dois primeiros leilões, ocorridos nos dias 30 de abril e 7 de junho de 2021. Na segunda tentativa, o valor foi rebaixado em 25% e o prédio histórico foi colocado à venda por R$73,5 milhões.
Então, o Ministério da Economia o incluiu, no dia 27 de agosto de 2021, no Feirão de Imóveis SPU+, com um novo modelo de venda, chamado de Proposta de Aquisição de Imóveis (PAI). Com este mecanismo, qualquer pessoa, física ou jurídica, pode apresentar proposta de compra de imóveis da União, oferecendo o valor que considerar que o imóvel em questão vale.
“Se a proposta for aceita, o interessado terá que providenciar um laudo de avaliação do ativo e apresentá-lo para homologação dentro do prazo estabelecido. Na sequência, será aberta uma concorrência pública, em que qualquer interessado poderá realizar ofertas eletronicamente. Aquele que enviou a proposta, que providenciou a avaliação e a homologou na SPU [Secretaria de Patrimônio da União], terá direito de preferência na concorrência pública” (Agência Brasil).
O governo disponibilizou neste programa mais de 50 mil imóveis da União ou de órgãos da União, como o INSS, em todo o país. Somente no Rio de Janeiro, são 2,2 mil imóveis. A meta do governo é arrecadar R$ 110 bilhões com essas vendas até dezembro de 2022.
Links:
Fonte: Agência Brasil
Com a inauguração no país da banda estendida da FM, no dia 7 de maio de 2021, a programação das rádios Nacional AM da EBC chegaram também a São Paulo, Belo Horizonte e Recife, além de ganhar o dial FM no Rio de Janeiro. Todas com a mesma sintonia: 87.1 FM.
A Nacional FM do Rio de Janeiro espelha a programação da AM e nas outras capitais a programação transmitida é a da Nacional AM de Brasília.
A Medida Provisória nº 980, de 10 de junho de 2020, recria o Ministério das Comunicações (MCom), ao qual é vinculada a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República e, por consequência, a EBC.
A MP foi aprovada na Câmara dos Deputados no dia 21 de setembro de 2020 e no Senado apenas dois dias depois. O texto foi sancionado no dia 14 de outubro, como Lei nº 14.074.
Já em 13 de julho de 2021 é publicado o decreto nº 10.747, que “aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério das Comunicações, remaneja e transforma cargos em comissão e funções de confiança e dá outras providências”.
O texto coloca a Secretaria Especial de Comunicação Social como um dos órgãos específicos singulares do MCom e Empresa Brasil de Comunicação como entidade vinculada.
Decreto nº 10.354, de 21 de maio de 2020, qualifica a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), “de modo a possibilitar a realização de estudos e a avaliação de alternativas de parceria com a iniciativa privada”. Isso abre a possibilidade para que a empresa seja privatizada ou extinta.
Em dezembro de 2020, a Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública lançou o projeto da Ouvidoria Cidadã da EBC junto com o primeiro relatório do órgão da Sociedade civil. A ideia é retomar o controle social extirpado da empresa.
A Ouvidoria Cidadã da EBC analisa conteúdos publicados e veiculados pelos veículos públicos da Empresa Brasil de Comunicação, com o olhar dos princípios da comunicação pública, que deveriam orientar a produção da TV Brasil, das rádios Nacional e MEC, da Agência Brasil e da Radioagência Nacional, bem como os perfis desses veículos nas redes sociais.
“A criação da Ouvidoria Cidadã da EBC se faz necessária diante da cassação do Conselho Curador, em 2016, e da transformação da Ouvidoria da EBC em aparato de comunicação institucional, em 2018, que deixou de exercer a análise crítica dos conteúdos e não zela pela aplicação da lei pela empresa” (Ouvidoria Cidadã da EBC).
O site da Ouvidoria paralela da EBC foi colocado no ar em março de 2021.
Fonte: Ouvidoria Cidadã da EBC
No dia 10 de março de 2021 a secretária Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), do Ministério da Economia, Martha Seillier, anunciou a inclusão da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) no Programa Nacional de Desestatização (PND).
O fato é concretizado com a publicação do decreto nº 10.669, de 8 de abril de 2021, que “dispõe sobre a inclusão da Empresa Brasil de Comunicação no Programa Nacional de Desestatização”.
Fonte: Ouvidoria Cidadã da EBC