Estamos na semana da Visibilidade Trans, com a celebração do dia 29 de janeiro. E nos dias 19 e 21, os veículos e agências da EBC publicaram reportagens sobre o 1° Encontro Nacional de Parlamentares LGBT+ Eleites. Isso mesmo. ELEITES. O uso da linguagem neutra causou furor nas redes sociais, com muitos ataques de parlamentares conservadores, acusando a “agência oficial do governo” de “assassinar a língua portuguesa”.
As matérias da EBC foram:
– Radioagência, 19/01: Debate reúne parlamentares e comunidade LGBTQIA+ em Brasília (https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/politica/audio/2023-01/debate-reune-parlamentares-e-comunidade-lgbtqia-em-brasilia)
– Agência Brasil, 21/01: Parlamentares eleites reúnem-se pela primeira vez em Brasília (https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-01/parlamentares-eleites-reunem-se-pela-primeira-vez-em-brasilia)
– TV Brasil, 21/01: Parlamentares LGBTQIA+: representatividade no Congresso Nacional (Parlamentares LGBTQIA+: representatividade no Congresso Nacional – YouTube)
O uso da linguagem neutra, principalmente pela Agência Brasil, também repercutiu na imprensa:
-Folha de S. Paulo: Agência Brasil, do governo federal, publica texto com linguagem neutra (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/01/agencia-brasil-do-governo-federal-publica-texto-com-linguagem-neutra.shtml)
– UOL: Agência do governo adota linguagem neutra para falar de parlamentares LGBT (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/01/23/agencia-brasil-parlamentares-eleites.htm)
– O Globo: ‘Eleites’: sob o comando de Lula, Agência Brasil adere à linguagem neutra e é criticada por bolsonaristas (https://oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2023/01/eleites-sob-o-comando-de-lula-agencia-brasil-adere-a-linguagem-neutra-e-e-criticada-por-bolsonaristas.ghtml)
– Brasil 247: Agência Brasil publica matéria em linguagem neutra: “parlamentares eleites”, “candidates” (https://www.brasil247.com/brasil/agencia-brasil-publica-materia-em-linguagem-neutra-parlamentares-eleites-candidates)
– O Antagonista: Agência do governo usa linguagem neutra: “Parlamentares eleites” (https://oantagonista.uol.com.br/brasil/agencia-do-governo-usa-linguagem-neutra-parlamentares-eleites/)
– Poder 360: Deputado aciona PGR contra “Agência Brasil” por linguagem neutra (https://www.poder360.com.br/congresso/deputado-criticou-linguagem-neutra-usada-pela-agencia-brasil/)
Ataques
Nas redes sociais, os ataques foram tantos que foi criado um abaixo-assinado para defender o uso da linguagem neutra nas reportagens (https://action.allout.org/pt-br/m/5f0a2424/?utm_campaign=mgp-5f0a2424&utm_source=whatsapp&utm_medium=social_share). No texto do abaixo-assinado, consta uma breve explicação:
“Este debate começou há mais de 10 anos entre o movimento de pessoas LGBT+. A linguagem neutra é empregada com a intenção de incluir pessoas não-binárias, de gênero fluido ou transgêneras, que não se enquadram no padrão socialmente estabelecido de gênero. Na linguagem neutra, o masculino como genérico para o plural é evitado, utilizando o “e” como substituto. A palavra “todos”, por exemplo, é grafada como “todes”. No caso da reportagem, “eleitos” foi substituído por “eleites”.”
Esta Ouvidoria Cidadã da EBC se junta e esse abaixo-assinado e saúda a mudança editorial e o uso da linguagem neutra, que demonstra a preocupação com os direitos humanos e o respeito a como as pessoas se identificam. Alguns pontos para corroborar essa posição:
Primeiro, como já cansamos de explicar por aqui, a Agência Brasil não é “do governo”. Portanto, apesar da vinculação com o governo federal, não se trata de um órgão oficial de notícias estatais. Muito menos se trata de “documento oficial do governo”, como argumenta o deputado federal José Medeiros (PL-MT), ao acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o uso da linguagem neutra “na comunicação oficial do governo federal”. A EBC é uma empresa de comunicação pública que tem, em lei, autonomia editorial.
Segundo, o próprio nome do evento era “1° Encontro Nacional de Parlamentares LGBT+ Eleites”. Portanto, a linguagem neutra aqui apenas reproduz o termo usado no evento. É o mesmo caso de nomes de eventos com # ou outras inovações se apropriando de linguagens populares e das redes sociais.
Terceiro, o Manual de Jornalismo da EBC determina que as pessoas sejam tratadas como preferem se identificar. No caso, parlamentares eleites. O que foi explicado tanto na reportagem da Agência Brasil quanto na chamada para a reportagem da TV Brasil. Diz o Manual: “a forma como entrevistados se autodeclaram é respeitada e isso se reflete em textos, áudios e imagens. […] As pautas da EBC rejeitam as situações de constrangimento que desvalorizam quaisquer identidades ou grupos sociais legítimos, seja por gênero, raça, etnia ou orientação sexual”.
E, por último, o português é uma língua viva! Ou seja, novos termos são incorporados a todo momento. Ou esses mesmos parlamentares que atacam o termo eleites nunca usaram a internet para postar uma selfie e alguma vez teve que deletar a publicação pelo smartphone? Já flodou o feed de alguém? Já foi em um evento que flopou? Já fez uma thread no Twitter? Concluindo: beijinho no ombro pros haters!