Reestreou na segunda-feira, 19 de fevereiro, o telejornal Repórter Brasil Tarde, que trouxe de volta à TV Brasil a jornalista e apresentadora negra Luciana Barreto, que foi a cara do jornalismo da emissora desde a estreia, em 2007, até 2019. Muito bem-vinda de volta, trazendo diversidade e competência já comprovadas à serviço do jornalismo público. Na apresentação do jornal, muito à vontade e com desenvoltura, ela própria se diz emocionada com o retorno.
Nos conteúdos, o jornal abordou as notícias mais importantes do dia, trazendo informações sobre o início do ano legislativo e os temas que serão debatidos no Congresso Nacional; a epidemia de dengue no Rio de Janeiro, incluindo o teste que a Fiocruz vai fazer com a vacina; o marco de um ano da tragédia provocada pelas fortes chuvas em São Sebastião, no litoral norte paulista, atualizando a situação das famílias atingidas; e a fuga de dois presos do presídio de Mossoró, com um foco bastante governista, tratada apenas do ponto de vista da visita do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao estado.
Além dessas reportagens, anunciadas no início do programa, entraram no primeiro bloco os temas chuvas na Bahia, com repórter da TVE ao Vivo; a morte do empresário Abílio Diniz, apenas como nota; e o caso da prisão em Porto Alegre de Everton Henrique da Silva, um motoboy negro que estava denuniando ter sido atacado a facadas por um senhor branco.
Esta matéria poderia ter sido mais aprofundada, repercutindo com movimentos sociais, pois, além do fato em si, trouxe apenas comentários de autoridades, com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e ministros, e um brevíssimo trecho do vídeo em que a vítima explica como tudo aconteceu.
No segundo bloco, as reportagens foram sobre um incêndio em galpões da Receita Federal em Santos, que ficou um pouco deslocada do jornal como um todo; a visita do presidente Lula à Etiópia, com uma entrada à parte para tratar da fala de Lula sobre a guerra de Israel contra o povo palestino, classificada pelo presidente como genocídio comparável ao que os nazistas fizeram contra o povo judeu, e que rendeu a declaração de Lula como persona non grata em Israel; uma atualização sobre as ações de Israel contra a Faixa de Gaza; e a participação da TV Encontro das Águas, de Manaus, para falar de uma pesquisa que será feita sobre a infância indígena. Faltaram mais detalhes sobre a pesquisa, como o básico quem está coordenando e executando o estudo.
Outra novidade boa foi a participação de Rachel Motta como comentarista de futebol. O jornal encerrou com um autoelogio pertinente: o prêmio Plumas e Paetês dado a quatro jornalistas da EBC pela cobertura do desfile de carnaval da Série Prata carioca na Intendente Magalhães.
De uma forma geral, entre temas diferenciados e alguma abordagem governista, as reportagens trouxeram um bom panorama do noticiário do dia.
Problemas técnicos
Na parte técnica da reestreia, notamos alguns problemas, logo no início do telejornal. A escolha pelo cenário ao ar livre, no Aterro do Flamengo, com o Pão de Açúcar ao fundo, é, de fato, muito atraente, como pontuado por Luciana. Porém, o vento nos cabelos causa uma certa aflição em quem assiste, além de interferir bastante no áudio. Algumas vezes a apresentadora aparece tendo que segurar os cabelos ao vento e a participação da comentarista de futebol ficou prejudicada pelo barulho do vento no microfone de lapela. Questões que não vão se repetir, dado que a apresentação no dia a dia é feita em estúdio.
Na primeira entrada ao vivo, ainda na escalada – o anúncio das notícias que serão apresentadas no dia -, há outro problema técnico, de comunicação com a repórter em Brasília, que é colocada no ar, mas não inicia sua fala, ficando 15 segundos de silêncio constrangedor, até que Luciana segue na apresentação das atrações do jornal.
Quando a repórter é chamada novamente, para falar sobre o ano legislativo, novamente há problema na comunicação. Ela é colocada no ar rapidamente e aparece segurando papéis, olhando para para baixo e fala “ainda tem o teaser? Não, né?”. Então entra uma reportagem gravada por outro repórter sobre o tema. Um problema facilmente contornável, que se ocorrer com frequência pode parecer falta de profissionalismo.
O formato de chamar a participação de repórteres ao vivo ainda na escalada, pode ser uma novidade interessante, mas acaba tirando um pouco do dinamismo do jornal, pois sempre há um gap entre o anúncio do tema e do nome do repórter, o jornalista entrar no ar e começar a falar, apenas uma ou duas frases, e retornar para a apresentadora.
Outro problema é o “aíismo”, que tem sido muito comum em entradas ao vivo de repórteres tanto de rádio como de TV, de uma forma geral, inclusive na imprensa comercial. No caso da participação da TVE, por exemplo, o caco é repetido diversas vezes, como “incluindo aí a alteração da data de retorno às aulas”, “até um jacaré apareceu aí num condomínio”, “causando aí alguns transtornos” e “os moradores aí tiveram que transitar com água no joelho”. Um vício de linguagem que parece ter vindo para ficar, mas não acrescenta informação e acaba caindo aí em falta de estilo e mesmo em erro gramatical, na tentativa de parecer mais descontraído.