Diretoria de Jornalismo negligencia cobertura da TV Brasil ao não resolver caso de profissional que atua em Nova Iorque

Não é novidade para ninguém que informação é conhecimento, portanto, poder. Partindo dessa premissa, não é à toa que o jornalismo no mundo inteiro cobriu as eleições norte-americanas de forma abrangente e responsável, dispondo de todos os recursos possíveis. Aqui no Brasil, passadas as eleições municipais, estamos falando da cobertura política mais importante do segundo semestre. Afinal, tamanho o poder geopolítico dos EUA, a vitória de Donald Trump vai influenciar, por exemplo, nos rumos do crescente avanço da extrema-direita no mundo, além de mudar o xadrez das relações internacionais com o próprio Brasil, por exemplo, no retrocesso ainda maior das questões ambientais.

Foi justamente nesse momento tão importante que o telespectador brasileiro ligou a televisão atrás de informações in loco, bem embasadas, com entrevistas “de chão”, trazendo detalhes importantes, próprios de coberturas bem sucedidas de eleições. Mas não na nossa TV pública, não na TV Brasil. O telespectador que buscou isso no canal público acabou frustrado. O que ele assistiu foi a cobertura da eleição norte-americana a partir de uma cadeira da redação em Brasília, no ar-condicionado, com textos e imagens de uma agência internacional, a Reuters, replicada em todo o mundo.

O mais grave, nesse caso, é que existe um jornalista da TV Brasil nos EUA! Isso mesmo. O profissional é concursado, atua na EBC há mais de 10 anos, com experiência em coberturas importantes. Aliás, um grupo grande de repórteres, anos atrás, cobriu, por exemplo, EUA, Europa, África e América Latina para TV Brasil, Agência Brasil e Rádios EBC. Tempos de investimentos importantes na produção jornalística da empresa. Mas, retomando, corta para os dias atuais, com a diretoria da EBC inviabilizando a cobertura do pleito. Primeiro porque, passados praticamente 2 anos de gestão, ainda não conseguiu adotar um formato fixo e justo para as correspondências internacionais.

O assunto é protelado e relativizado, uma omissão que nos leva a crer que a única alternativa é suspeitar de uma tentativa de enfraquecer o jornalismo público feito pela EBC.

No caso das eleições dos EUA, a Diretoria de Jornalismo não conseguiu resolver a questão relacionada ao profissional, que mora em Nova Iorque e, devido à intransigência da empresa, teve que aderir ao teletrabalho. Modalidade que, pela norma interna da empresa, não permite o trabalho externo, em campo. Ou seja, a boa e velha reportagem. Nem remunera de acordo com o custo de vida no exterior. Assim, sem a possibilidade de cobrir uma das eleições mais importantes do mundo pela TV Brasil, só restou ao profissional aceitar uma oferta para cobrir as eleições para uma TV privada, como freelancer. Por desinteresse da direção e falta de investimentos, portanto, o telespectador da TV Brasil não viu pelo menos um repórter em campo na eleição. A pergunta, nesse caso, é inevitável: incompetência ou má-fé da direção da EBC?

Também é preciso mencionar que o citado empregado só continua a atuar para a EBC remotamente por força de uma liminar na justiça, já que a atual gestão encerrou bruscamente o teletrabalho na modalidade integral. Ou seja, precisou entrar na Justiça para ter o direito de trabalhar. A intransigência da empresa também impede que outros jornalistas da casa, que se viram impelidos a se mudar para o exterior por motivos particulares ou acadêmicos, de atuarem como correspondentes nos países em que estão. Apesar de terem se disponibilizado a exercer a função sem nenhum ganho adicional de salário. Situação que acontece, atualmente, pelo menos em dois casos, com profissionais da casa em Portugal e Austrália, porém, impedidos de trabalhar pelas normas da EBC.

Infelizmente, no entanto, esse caso não pode ser considerado isoladamente. Tal fato se soma ao descrédito no trato com os jornalistas, à não valorização dos profissionais da empresa, representados inclusive na proposta inicial do Plano de Cargos e Salários, situação que só foi revertida recentemente, após uma greve histórica dos profissionais em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Outro exemplo prático dessa desvalorização é que a empresa terceirizou diversas funções de radialistas para atuarem na TV Brasil Internacional, uma contratação ilegal e desrespeitosa.

Afinal, de uma vez por todas, quais os planos do governo federal para o jornalismo da EBC? Qual o projeto? Sucateamento e terceirização, como temos visto? Ou autonomia e relevância, conforme prevê a lei, com investimentos sérios e contínuos?

O fato é que uma real valorização do Jornalismo e do trabalho das e dos jornalistas e radialistas na EBC segue urgente. Só assim para que a comunicação pública, fundamental para qualquer democracia no mundo, realmente cresça e se consolide no Brasil. Só assim para que, via EBC, o direito à informação do povo brasileiro seja devidamente respeitado.

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