Governo novo, velhos hábitos. Os piores possíveis. Apesar da sinalização de mudança de ares na EBC, já notada na cobertura jornalística neste primeiro mês de governo Lula, uma questão gravíssima continua sem solução: a interrupção da grade da TV Brasil para a exibição ao vivo de eventos com o presidente da república.
O fato foi noticiado no dia 28 de janeiro pelo colunista d’O Globo Bernardo Mello Franco (https://oglobo.globo.com/blogs/bernardo-mello-franco/coluna/2023/01/governo-lula-mantem-tv-brasil-como-emissora-chapa-branca.ghtml). “Na sexta-feira, o canal aberto interrompeu o desenho animado ‘O Show da Luna’ para transmitir a reunião de Lula com governadores. Dias antes, a série ‘Detetives do Prédio Azul’ deu lugar ao discurso na cúpula da Celac”.
No mesmo dia, o colunista postou no Twitter que foi procurado pelo jornalista indicado para a presidência da EBC, Hélio Doyle, para afirmar que a fusão entre TV Brasil e NBR será desfeita. “Brevemente voltaremos a ter um canal de TV pública e outro de TV governamental, e o que você relata não mais acontecerá”, teria dito Doyle, segundo indicou Franco.
Porém, neste dia 31, o fato voltou a acontecer. No horário em que deveria estar passando o programa Tem Criança na Cozinha, a TV Brasil interrompeu a grade para colocar no ar uma cerimônia oficial.
“#AoVivo: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da cerimônia de assinatura dos decretos que criam o Conselho de Participação Social e o Sistema de Participação Social no Palácio do Planalto, em Brasília”, diz o texto que acompanha o vídeo no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCjaWLFTNqLkq3ZY2BJ4NYRg).
A transmissão foi interrompida para a entrada do telejornal previsto na grade. ANTES da fala do presidente Lula. Começou errado, ao interromper a programação. E terminou enfiando os pés pelas mãos, sem passar o discurso do presidente.
A confusão é tanta entre as duas emissoras, que deveriam ser claramente separadas, que na WEB TV e no aplicativo da TV Brasil, a grade reproduzida é a da TV Brasil 2, que supostamente seria a TV governamental, e não a TV Brasil 1, a pública.
A separação foi uma promessa de campanha, promessa da transição, promessa do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, e promessa do indicado à presidência da EBC. Já se passou um mês e o público continua prejudicado, com a invasão de conteúdo governamental na grade da TV Brasil.
Outro detalhe: o evento transmitido foi justamente sobre a criação do Conselho de Participação Social, mecanismo interministerial para garantir a voz da sociedade na reconstrução das políticas públicas do país (https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2023-01/presidente-assina-decreto-que-cria-o-conselho-de-participacao-social). Então, fica a pergunta: cadê o Conselho Curador da EBC? Outra promessa feita e refeita pelo governo que assumiu no dia 1º e ainda sem sinalização alguma para ser cumprida.
Vamos repetir até o governo entender, qualquer governo que seja: A EBC não é do governo! A EBC é da sociedade brasileira e não pode ter seus veículos públicos usados para comunicação governamental.