Nesta quarta-feira (17) ocorreu a última reunião do ano dos comitês de participação social da Empresa Brasil de Comunicação. Os integrantes do Comitê Editorial e de Programação (Comep) e do Comitê de Participação, Diversidade e Inclusão (Cpadi) assistiram a apresentação da diretora Antonia Pellegrino, de Conteúdo e Programação (Dicop).

O presidente do Comep, Pedro Rafael Vilela, destacou que a apresentação faz parte do ciclo de exposições das diretorias finalísticas da EBC para os conselheiros conhecerem melhor a empresa e lembrou que a participação social é “condição sine qua non” para o desenvolvimento da comunicação pública. Em janeiro, ocorrerá a última apresentação aos colegiados, da Superintendência de Comunicação Digital e Mídias Sociais (Sudim), em reunião prevista para o dia 28.

 

Rádios

Antonia iniciou a exposição afirmando que a definição da programação das rádios MEC e Nacional segue critérios como distribuição crossmedia, interação nas redes sociais, conteúdos multiplataformas, convergência, modernização da linguagem do rádio e troca e coprodução de conteúdos com a Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP).

De acordo com ela, a Dicop opera rádios em cinco praças, com 113 empregados no total, sendo 64 em Brasília, 38 no Rio de Janeiro, cinco em Tabatinga, quatro em São Paulo e dois em São Luís. Ela apresentou queda nos recursos destinados às rádios, com R$77 milhões em 2023, R$58,3 milhões em 2024 e R$43,5 milhões até julho de 2025.

A diretora citou a obrigação das emissoras da RNCP transmitirem 3 horas diárias da programação da Nacional ou da MEC, mais uma hora de jornalismo com o Repórter Nacional. E citou um total de seis programas da RNCP que as emissoras Nacional e MEC utilizam: Rádio África (BA), Horário Nobre (MG) e Lampeja (RS) na Nacional; e Sinfonia (BA), Harmonia (MG) e Na Trilha da Tela (RS) na MEC.

Na produção de conteúdos, Antonia destacou a retomada do Natureza Viva e do Conversa com o Autor, a criação do Festa do Disco, Identidade Ancestral, Originais com Ruy Castro, Crônicas do Ruy Castro e Heloisa Seixas e o Podcast SOS Terra Chamando, além do licenciamento de podcasts da Rádio Novelo. A audiência atingiu um total de 500 mil no FM e 250 mil no streaming.

A diretora afirmou que os cortes orçamentários “foram absorvidos sem prejuízo à missão pública das rádios”, com continuidade da programação assegurada pela estrutura interna pela “eficiência na gestão técnica”. Citou o acordo de cooperação para a produção do podcast SOS Terra Chamando e outro para ser assinado com a Funarte, destinado à transmissão de shows.

Ela destacou o Festival de Música da Rádio Nacional, que teve mais de mil inscritos em 2025. E informou que o encerramento, que costumava ocorrer com um show em Brasília com a participação dos vencedores, foi cancelado no ano passado por causa dos cortes orçamentários. “Levar todos os artistas, pagar passagem, três dias de hotel para ensaio e apresentação, seria um gasto nababesco, que não faria sentido nesse contexto de cortes”.

 

TV Brasil

Os critérios para a definição da programação da TV são basicamente os mesmos das rádios. Na disputa pela audiência, a aposta da diretoria é no licenciamento de novelas, conteúdo infantil, futebol e natureza. Os indicadores de audiência mostram em primeiro lugar a faixa da vida selvagem, seguido das novelas e do esporte, com destaque para a Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol e o futebol feminino, “somos a TV aberta com o maior portfólio do futebol feminino e temos muito orgulho disso”, afirmou Antonia.

Ela destacou os novos programas Xodó de Cozinha, DR com Demori e especiais com episódios únicos ou séries curtas. E a reformulação de “clássicos” como o Sem Censura, Samba na Gamboa e Trilha das Letras. “O Sem Censura ganhou o primeiro prêmio APCA da história da TV Brasil”, ressaltou a diretora, informando que os cortes do programa tiveram “impacto decisivo no crescimento das redes da EBC”.

Foram captados pela diretoria um total de R$268,4 milhões para licenciar conteúdos independentes nacionais, que estão em exibição desde 2023. “Eu até ganhei o prêmio Amigos do Cinema Infantil”. Da RNCP, a TV Brasil aproveita séries de ciências, turismo, gastronomia e agronegócio.

Apesar de apresentar uma ampla gama de conquistas, Antonia informou que a faixa “prime time” das 21h, dedicada à vida selvagem, foi retirada do ar por questões orçamentárias. Mesmo sendo o campeão de audiência.

Sobre a audiência, que retornou à 5ª posição no Kantar/Ibope, a diretora lembrou que “na gestão anterior a TV Brasil ocupou essa posição muito graças à novela bíblica. Então alcançar essa posição com uma diversidade na programação me parece mais relevante”. Os dados apontam que 13,5 milhões de pessoas assistiram a TV Brasil ao menos uma vez nas praças de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, chegando a 37,3 milhões nas 15 praças medidas pela pesquisa.

Ela informou que a TV perdeu este ano o direito de transmissão de cerca de 500 horas de programação, principalmente nas quatro faixas de maior audiência, o que corresponde a 30% da grade. O que levou à perda de audiência, que atualmente oscila entre o 7º e o 8º lugar no segundo semestre do ano.

Por fim, a diretora anunciou a prospecção de conteúdos para suprir essas 500 horas perdidas, que aguardam disponibilidade orçamentária; a adesão ao Global Doc, em parceria com a France Télévisions, para lançar uma chamada pública para documentários; a adesão ao III CPLP Audiovisual; e o edital de R$ 5 milhões conseguido junto ao Ministério da Justiça para a digitalização do acervo da Rádio MEC, “que fica como um legado longevo para a comunicação pública”.

 

Debates

A representante dos trabalhadores nos comitês, Akemi Nitahara, externou o desalento que a apresentação demonstra, com falta de recursos e projetos para implantar as ações informadas. Questionou o abandono das rádios, que sofrem com falta de pessoal e projeto consistente para a programação. “Apesar de a EBC considerar que tem oito emissoras, elas passam a maior parte do tempo com programação em rede, São Paulo e São Luís, por exemplo, têm apenas um programa local”. Também questionou porque houve tanta exposição sobre a contratação questionável do jornalista policialesco José Luiz Datena, enquanto a estreia do programa Como Nascem os Heróis, comandado pela drag queen Rita Von Hunty ficou escondido, sem sequer uma matéria institucional.

“Por que os comitês não foram sequer informados dessas contratações? O radiojornalismo também informou que está sofrendo duas ameaças por conta de contratações da empresa, já que Datena teria pedido a extinção do Repórter Nacional das 7h30 para que ele seja o primeiro a dar as notícias do dia, a partir das 8h. E a edição de 18h30 das segundas-feiras também, para a transmissão do programa esportivo dos novos contratados Juca Kfouri e José Trajano”.

Akemi também perguntou por que a empresa dá tanta visibilidade para podcasts da produtora Rádio Novelo enquanto esconde as produções próprias da Radioagência Nacional, “talvez porque quem os produz não sejam nomes famosos das redes sociais”, conforme justificativa feita para contratos do Sem Censura.

Antonia afirmou que estavam sendo dirigidas a ela perguntas sobre áreas que ela não é responsável por responder. “Não sou da Sudim nem da Dijor, não respondo por essas áreas. O que me cabia sobre o programa da Rita que era abrir espaço na grade e fazer a chamada eu fiz”. Resposta dada pela diretora apesar de trazer na apresentação questões como multiplataforma, crossmedia e interações nas redes sociais como critérios para montar a programação das emissoras, tanto das rádios como da TV Brasil.

“A Adrielen Alves [responsável pelo podcast SOS Terra Chamando] não tem nome na rede social. No entanto, tem um podcast criado por ela, financiado pela Fiocruz, através de uma articulação feita por mim e com o crossmedia na TV Brasil. Acontece, minha querida, que vocês consideram podcast uma coisa que nem eu, nem o mercado considera. Então, quando a Radioagência produzir um podcast, que seja como o da Adrielen, que é muito bom, a gente vai dar todo o espaço”, disse Antonia.

O diretor-geral, Bráulio Ribeiro, pontuou que o intuito das conversas com os comitês é “sempre o de construir” e informou que os contratos anunciados na mídia “ainda precisam passar pelo Comitê de Rede”. E defendeu a contratação de Datena. “Nós temos o conhecimento do Datena na TV privada, mas nunca vimos como ele atua numa TV Pública. Então, de acordo com a relevância e a estratégia, temos que trazer ele pro contexto da pública. O que cabe aos comitês é acompanhar o programa e depois trazer as críticas se couberem. Estamos abertos a fazer a discussão como diretoria, com os comitês, mas dando uma chance para que os programas sejam colocados no ar”.

Sobre Como Nascem os Heróis, o diretor disse não saber por que não houve a divulgação do programa. A assessoria da Dicop informou que foi um contrato do Marketing, e não da Dicop.

O presidente do Comep, Pedro Rafael VIlela, agradeceu a transparência na apresentação, mas considerou que o lide está no final. “A perda de orçamento é muito preocupante. Enquanto o Sem Censura paga para trazer convidados, cancelar o Festival das Rádios não me parece razoável, ele poderia ser um belo produto crossmídia, transmitido pela TV Brasil”.

Pedro também questionou as estratégias de busca por audiência, já que a Rádio Nacional de Brasília está em 14º np ranking, “não consigo lembrar nem de cinco emissoras na cidade, como estamos em 14º?. QUeria saber também por que o ouvinte da Nacional não pode ter acesso à música brasileira contemporânea”. Ele lembrou que os programas Trilha das Letras e DR com Demori não serão renovados e perguntou porque os 13 programas aprovados no pitching interno não foram produzidos e por que foi decidido não ter uma faixa reflexiva, “não temos mais programas de debates que fomentem o senso crítico”.

Antonia disse que não havia nenhuma obrigação de produzir os programas selecionados no pitching, o que é natural em qualquer processo de seleção. “O pitching deixa um legado para a empresa de acervo de ideias e foi extremamente importante pra gente trabalhar na EBC a própria noção de desenvolvimento de uma produção. Entrar em produção é extremamente caro, no mundo inteiro, então só vai entrar em produção o que tem uma grande qualidade”.

A diretora explicou que o Sem Censura tem autorização para pagar 52 passagens por ano, o que limita bastante a participação de convidados de outros estados além do Rio de Janeiro. Sobre fomentar o senso crítico, Antonia afirmou que isso ocorre em toda a programação, independente de programas de debate.

“A visão que eu tenho é que a produção audiovisual é fomento ao senso crítico, um longa metragem é, tem trabalho de roteiro, de ator, de trilha sonora. Novela protagonizada por um PCD fomenta o senso crítico, futebol feminino fomenta o senso crítico, porque desmonta os padrões”. Ela informou que o jornalista Leandro Demori optou por não renovar o contrato com a EBC para dedicar ao portal ICL, onde é diretor. E o Trilha de Letras teve duas temporadas “muito exitosas” e foi interrompida “tendo o compromisso de retomar mais à frente”.

O gerente executivo das rádios, Thiago Regotto, explicou que o Festival da Nacional foi cancelado por falta de orçamento, já que ele deixou de ser de Brasília e passou a incorporar artistas do Brasil inteiro. “Mas estamos em conversa com o marketing para tentar um patrocinador para fazer o festival no ano que vem, na comemoração dos 90 anos da Nacional”.

Thiago disse também que a Nacional FM foi destruída no governo anterior, com muita perda de audiência e apagamento de artistas das playlists por questões ideológicas, além de problemas nas antenas. Mas que a audiência tem sido recuperada e fica acima das demais rádios do campo público de Brasília, como Cultura, Câmara, Senado e Justiça, chegando ao top 10 de audiência. No Rio está no top 15, “sendo um mercado muito mais competitivo”, e em São Paulo, apesar de ser a mais nova e ter programas locais a apenas dois anos, está à frente de rádios históricas como a Rádio USP e quase passando a Eldorado.

“Temos feito revisões constantes na playlist, mas existe uma carência de mão de obra que a gente espera que se resolva, temos apenas dois programadores musicais”. Sobre os podcasts da Rádio Novelo, Thiago explicou que foi uma parceira nos 100 anos da MEC, comemorados em 2023, com a Rede Minas, que incluiu a EBC no contrato e cedeu o licenciamento sem ônus. “O SOS Terra Chamando fizemos a produção de 13 episódios, que demorou um ano, porque queríamos fazer algo totalmente diferente do já tínhamos feito. O Material produzido pela Radioagência Nacional é de livre escolha pelas emissoras, inclusive as nossas. Mas passamos diversas produções também, de acordo com a linha editorial de cada emissora. Passamos o Ajudante Digital, Vide Bula, Crianças Sabidas, Trilhas Amazônicas, Mulheres Negras Dão o Tom, por exemplo”.

Ana Fleck perguntou se não há a intenção de voltar a ter programas de debate na TV Brasil, um modelo em falta na TV aberta. Antonia questionou se ela não considera o Brasil no Mundo e o Sem Censura como programas de debate, ao que Ana respondeu que não.

A conselheira Cibele Tenório destacou a perda que é a não renovação do Trilha das Letras e a falta que faz a crítica da mídia, dois temas que não estão presentes na TV aberta. “Se tem alguém que teria condições de fazer isso, seria a gente. Teve a operação no Rio, precisava trazer isso pro debate mais amplo, debater fake news, teremos ano de eleição. Precisamos trazer debatedores, colocar o Felipe Netto, o Felca, não custa sonhar. Aqui é um espaço para o debate e nos colocamos à disposição, como trabalhadores”. Também falou da falta de programas de cultura e da falta de conteúdos mais diversificados

Antonia disse que pretende contratar de novo o Trilha das Letras, quando tiver disponibilidade orçamentária. Que os estúdios da TV só tiveram condições de uso após uma reforma porque estavam “assoreados”, que não havia contrato para fazer cenários nem trilhas sonoras e que só não fazem mais por falta de condições. Argumentou que dos cinco apresentadores que contrataram, três são mulheres negras (Eliana Alves Cruz, Tereza Cristina, Regina Chelly), sendo uma nordestina, e um homem gaúcho (Leandro Demori). “Adoraria ter apresentadores com outros sotaques, mas temos limitação. Só contratamos esses cinco, dentro disso trazemos uma diversidade importante”. E que a temática cultural é trabalhada dentro do Sem Censura.

A conselheira suplente Rita Freire enfatizou que a contratação do Datena foi questionada por diversas organizações de defesa dos direitos humanos e da democratização da mídia, que têm demandado uma atitude por parte dos comitês. “Pelo que parece, foi o presidente Lula que contratou o Datena, como fica a independência da TV pública nisso? Peço que conste em ata a nota que nós fizemos sobre isso, porque são debates que estão sendo feitos, que pode significar a adesão da EBC ao jornalismo policialesco que ele representa na sua imagem. Ele simboliza isso, não podemos deixar de dizer que esse sentimento está presente”. 

A conselheira Juliana Doretto lembrou que fazer comunicação pública não é seguir a mesma lógica do mercado e que a lógica a ser seguida precisa ser debatida nos comitês. “Muitas vezes as reuniões não se desenvolvem na lógica dialógica que deveriam ter os comitês. É pra gente pensar junto numa comunicação pública melhor, para que esse nosso espaço se desenvolva como espaço dialógico”. Ela questionou como tem sido pensada a produção para crianças, dialogando com as realidades de outras formas e dentro do desafio das limitações orçamentárias.

Antonia lembrou dos programas Blim Blem Blom, da Rádio MEC, “que muito nos orgulha”, e do Concerto para a Juventude. “Na TV, começa pra faixa etária menor e a complexidade vai subindo, a gente divide em dois blocos, o infantil e o infanto-juvenil. Vai mudando com a mudança de horário. Além das animações de ficção  do live action de ficção, o Prodav nos possibilitou trazer documentários para esse público”, explicou a diretora. “A gente seguiu com a compra de licenças e o maior recurso do edital, 30 milhões dos 110, são voltados pra TV Brasil animada, com infantil e infanto-juvenil”.

A  ouvidora, Roberta Dante, fez um relato das manifestações que chegam ao órgão. “O Festival de Música é um canal ativo, os músicos e as produtoras nos procuram para apresentar novas canções e a gente faz essa ponte falando do festival de música, fizemos um [podcast] Bate Papo com a Ouvidoria sobre isso. Chega muita manifestação sobre o futebol feminino, mas relatam quebra de confiança quando uma afiliada anuncia um jogo e ele não é transmitido. As novelas recebem muitos elogios, mas a reprise do Sangue Oculto recebeu críticas. No infantil,  Historietas Assombradas tem classificação indicativa livre, mas algumas mães falam que o desenho não deveria passar na TV pública, porque tem imagem do diabo, coisas assim. O Sem Censura recebe muitos elogios à Kátia Navarro como substituta à altura da Cissa Guimarães e até com mais identificação com a TV Brasil, mas apontam a necessidade de sair do eixo Rio-Brasília-São Paulo. Nas rádio, é fortalecer a praça São Paulo e a Nacional da Amazônia continua como carro chefe”.

 

Eleição Comep

Nos informes finais da reunião, a assessora de Participação Social, Eloísa Galdino, informou que a eleição suplementar para as três vagas remanescentes do Comep que não foram preenchidas em 2024, não teve inscrições para uma das vagas. Foram abertas inscrições para Comunidade cultural, Entidades de defesa dos direitos humanos e das minorias e Cursos superiores de Comunicação Social, sendo esta última sem inscrições.

“A vaga para Cursos superiores de comunicação social não teve nenhuma inscrição. Não tem solução pra isso agora, vamos terminar o ciclo desse mandato sem essa representação. Mudamos a assinatura na inscrição para o chefe de departamento, no lugar do Reitor que foi exigido da outra vez. Mesmo assim, não teve interessados”.

O calendário prévio das reuniões do Cpadi para o ano que vem ficou para as datas de 28 de janeiro, 29 de abril e 29 de julho. Para o Comep, a previsão para o primeiro semestre é de reuniões sempre às últimas quartas-feiras do mês.

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