Os jornalistas da EBC estão, desde a última quinta-feira (3/10), em greve na defesa da isonomia no novo plano de carreiras apresentado pela direção da empresa. Essa proposta apresenta diferenças salariais entre as carreiras de ensino superior, que hoje não existem, de até R$2.650,87 por mês para cada jornalista, ou seja, mais de R$ 35 mil por ano.

Por isso a greve dos jornalistas é tão forte. Mais de 90% da categoria está paralisada na Rádio Nacional, Rádio MEC, TV Brasil, Agência Brasil, Radioagência Nacional, Voz do Brasil e Canal Gov. A paralisação afeta todos os serviços da EBC, tanto que a empresa ameaça a categoria com absurdos cortes de ponto. Hoje, os serviços funcionam precariamente com trabalho dos empregados comissionados que, infelizmente, não aderiram ao movimento, muitos deles pessoas de fora dos quadros de trabalhadores da EBC.

Mas a sociedade sequer soube dessa situação pelos veículos públicos da empresa. A empresa se nega a noticiar esses fatos, sonegando informações de interesse público ao leitor, ouvinte e telespectador. A EBC poderia seguir o exemplo da Rádio França Internacional ou da BBC, veículos públicos de referência, que têm a dignidade de informar sobre greves de seus próprios empregados ao seu público, no lugar de simular uma aparente “normalidade” em coberturas essenciais como as eleições municipais. Já tratamos desse tema aqui, nesta Ouvidoria Cidadã da EBC, na greve de 2021.

Mas, novamente, a direção da EBC proíbe qualquer comentário sobre essa mobilização nos veículos públicos, censurando informações sobre a própria empresa. Com isso, os brasileiros dependem dos veículos privados para saber sobre a comunicação pública, como noticiado pelo Estadão, Veja, Poder360, Metrópoles e DCM TV (a partir do minuto 53), por exemplo.

A medida da empresa contraria, inclusive, o próprio Manual de Jornalismo da EBC que diz “na cobertura de greves ou campanhas salariais de categorias de trabalhadores é importante ouvir todos os lados envolvidos e, se justificado pela relevância, acompanhar o dia a dia do movimento”. E acrescenta, “a greve trabalhista é um embate entre duas ou mais partes e só interessa ao jornalismo da EBC quando seus
efeitos e repercussões ultrapassam as partes envolvidas diretamente na disputa”.

Ou seja, o efeito de não informar o cidadão, com uma greve de mais de 90% dos seus jornalistas, afeta diretamente os cidadãos que se informam diariamente pela EBC, assim como os veículos que reproduzem gratuitamente seus conteúdos. Estes são os usuários dos serviços prestados pela EBC e que deveriam ter direito de saber o que está acontecendo na empresa pública de comunicação.

Portanto, além de atacar os jornalistas da EBC com uma proposta que rebaixa toda uma categoria profissional do país, que tem o direito garantido desde 1943, pela CLT, a direção da empresa ataca o próprio cidadão, ao não informar o que está acontecendo. Isso contribui para a percepção da falta de autonomia da empresa e contraria os próprios princípios de sua fundação: “fomentar a construção da cidadania, a consolidação da democracia e a participação na sociedade, garantindo o direito à informação, à livre expressão do pensamento, à criação e à comunicação”.

Repetimos aqui: se o serviço é importante, a greve também é e merece ser noticiada. Caso do serviço público de mídia.

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