Com a virada de mês, a Ouvidoria Cidadã da EBC publica nova análise comparativa entre as matérias dadas pela Folha de S. Paulo e a Agência Brasil, dessa vez, com base no que foi ou não noticiado ao longo do mês de outubro. Logo no início do mês, no dia 3, a grande imprensa divulgou um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aponta que o Brasil é o segundo país com maior número de jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”. O estudo, intitulado Education at a Glance 2022, mostra que 35,9% dos brasileiros dessa faixa etária se encontram nessa situação. No total, foram verificados os índices dos 38 países que integram a OCDE e também do Brasil, Argentina, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e África do Sul, país que apresenta o pior indicador nesse caso.
No dia 4 de outubro, a Folha teve como manchete “Por voto, governo acelera Auxílio Brasil e planeja 13º”. Deixou evidente que a liberação antecipada do benefício foi uma jogada do presidente Jair Bolsonaro para ganhar votos nas eleições. A matéria “Bolsonaro derrotado: 10 armas usadas sem sucesso na tentativa de reeleição” (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63419897), da BBC, lista as táticas do governo, assim assinaladas pela grande imprensa e noticiadas pela Agência Brasil, inúmeras vezes, como se não fossem cartadas eleitoreiras, parte de uma disputa desleal, em que o atual presidente usa a própria máquina pública que comanda a seu favor. Outra matéria nesse contexto foi “Caixa lança Campanha Você no Azul para regularização de dívidas”, que, na Folha, recebeu a devida contextualização política e o título “Bolsonaro requenta programa de dívida em reação a rivais”.
Uma das principais pautas surgiu também na primeira semana de outubro: o corte no orçamento do Ministério da Educação, de R$ 2,4 bi, que impacta diretamente as universidades públicas, que, com o novo contingenciamento perderam R$ 763 milhões, conforme esclareceu a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). A medida foi anunciada na capa da Folha, enquanto a cobertura da Agência Brasil foi vexaminosa. O veículo demorou para noticiar a decisão e, quando o fez, anunciou da boca do ministro da pasta, Victor Godoy, que, logicamente, negou a passada de tesoura na verba disponível.
Pela Agência Brasil, saíram duas matérias: “Limite de recursos para universidades é temporário, diz ministro” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2022-10/limite-de-recursos-para-universidades-e-temporario-diz-ministro) e “Orçamento das universidades não vai ser afetado, diz ministro” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-10/orcamento-das-universidades-nao-vai-ser-afetado-diz-ministro), que repercutiu entrevista concedida à Voz do Brasil, programa da comunicação governamental produzido pela EBC como uma prestação de serviço ao governo federal. Um dos disparates mencionados pelo ministro foi a retirada de R$ 300 milhões do valor reservado ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que não foi questionada. Isso por si só já merecia uma matéria.
Apesar de a Agência Brasil ter noticiado o surgimento de um caso suspeito de poliomielite associada a paralisia infantil no Pará, o veículo publicou, no dia 10, o texto “Agência Brasil explica por que pólio voltou a preocupar o país” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-10/agencia-brasil-explica-por-que-polio-voltou-preocupar-o-pais), sem enfatizar a responsabilidade do governo Bolsonaro quanto às campanhas antivacina, incluindo o impacto na cobertura vacinal contra a pólio. Na matéria sobre o caso do Pará, o repórter sublinhou que, no estado, o percentual de vacinados foi de 55,73% em 2021.
No início da segunda semana de outubro, a Folha informou que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia perdeu uma área do tamanho da capital paulista, aproximadamente, por causa do desmatamento, em setembro. Foi o pior resultado para aquele mês, desde 2015.
No dia 10, a manchete da Folha foi a seguinte: Cartel do asfalto burlou licitações sob Bolsonaro, diz TCU. A corte identificou fraudes da Codevasf que totalizaram R$ 1 bilhão, que tiveram como maior beneficiária a empreiteira Engefort. A Agência Brasil não noticiou o fato. Da mesma forma, também deixou de apurar a ligação ao caso do senador emedebista Fernando Bezerra Coelho, ex-líder de Bolsonaro.
A edição impressa da Folha, do dia 11 de outubro, traz como manchete “Militares se calam sobre fiscalização paralela da votação”, pontuando que o Ministério da Defesa simplesmente não respondeu aos pedidos do jornal quanto às auditorias independentes que faria das urnas. Como esta Ouvidoria Cidadã da EBC já havia dito na análise anterior, de setembro, a Agência Brasil escolheu fingir que essa articulação dos militares não existe.
No dia 11, Bolsonaro fez um discurso em Pelotas, interior do Rio Grande do Sul, em que pediu a seus eleitores para “permanecerem na região” das seções eleitorais até o resultado das urnas sair. Não foi notícia na Agência Brasil.
A Agência Brasil também preferiu tratar como irrelevante a manobra do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de anexar uma proposta de Ricardo Barros, líder do governo na Casa, para criminalizar a divulgação de pesquisas eleitorais. O Ministério da Justiça e Segurança Pública chegou a pedir investigação dos institutos que as elaboram.
A fim de cobrir lacunas da editoria internacional desde que a equipe de repórteres foi encolhida, a Agência Brasil tem o costume de reproduzir matérias da agência de notícias Reuters. Em outubro, um dos fatos mais importantes foi a condenação do conservador Alex Jones por disseminar notícias falsas, que não foi noticiado pelo veículo da EBC. O valor estipulado como punição foi US$ 1 bilhão.
Outras pautas que não entraram no noticiário da Agência Brasil, no mês passado, foram:
– o corte de R$ 1,2 bilhão para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT);
– o relator da CPI de exploração sexual de menores no Pará, ex-deputado federal Arnaldo Jordy, afirmando que os abusos denunciados por Damares Alves não foram identificados;
– a extinção, por decisão do governo, do Conselho Fiscal e dos comitês regionais da Fundação Nacional do Índio (Funai), sob pretexto de “melhorar a qualidade do serviço público”;
– o comício de Eduardo Bolsonaro em um frigorífico de Barbacena, Minas Gerais;
– o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, anunciar que irá instaurar uma CPI para investigar casos de assédio eleitoral praticados por apoiadores de Bolsonaro;
– a liberação da vacinação contra Covid-19 em clínicas, sem contrapartida para o governo;
– o fato de a verba destinada à infraestrutura pelo Plano de Ações Articuladas (PAR) ser a menor da última década;
– o protocolo, feito por bolsonaristas, para se abrir uma CPI das pesquisas eleitorais;
– a previsão de que a auditoria de militares em torno das urnas seja concluída em 5 de janeiro;
– Aras vai ao STF contra ampliação de poderes do TSE;
– Ibama dá licença a explosão de pedral no rio Tocantins;
– Fogo no Pantanal em 2020 afetou 45% das onças-pintadas do bioma, sugere estudo;
– Lira pauta urgência de lei anti-institutos de pesquisa.