O público viu e reclamou, com mensagens ao vivo e também no Instagram. O programa que deveria homenagear os 75 anos da televisão no Brasil, acabou sendo uma ode à TV Globo. No Sem Censura, da TV Brasil, a própria TV pública foi pouco lembrada.

A transmissão ao vivo ocorreu no dia 18 de setembro, Dia da Televisão Brasileira, relembrando a primeira transmissão da TV Tupi, em 1950.

A homenagem à Globo ocorreu, principalmente, no primeiro bloco do programa, dedicado às “muitas emoções” e viagens pelas memórias afetivas. Os convidados foram a colunista de O Globo Anna Luiza Santiago, o head de conteúdo da TV Globo Gabriel Jacome, e o presidente da EBC André Basbaum, que trabalhou na Globo, SBT, Record e Band antes de chegar, há menos de dois meses, à empresa pública. A apresentação estava com Katy Navarro e Muka como debatedor.

As respostas de todos à pergunta sobre “o que vêm à memória quando se fala em televisão” foram:  Xou da Xuxa, novelas de Manoel Carlos, A Próxima Vítima, Cid Moreira lendo o noticiário, Topo Gigio e Agildo Ribeiro.

Entre lembranças de outros programas (da Globo) exaltação à qualidade da TV brasileira, considerada pela bancada “a melhor TV aberta do mundo”, e a lembrança da função de integrar o país, dando seguimento ao papel executado anteriormente pelo rádio, os convidados também destacaram o nome de William Bonner como um dos grandes nomes da TV brasileira e o papel da televisão em ditar modas e costumes à população. Como falas de participantes do Big Brother (o oxe de Juliette), roupas de personagens das novelas da Globo (as meias de lurex de Dancin’ Days) e marcar compromissos para “depois da novela”.

Citando as marcantes trilhas sonoras das novelas que “todo mundo conhece”, Gabriel explicou que a Globo “abraça a brasilidade, sem tentar fazer o genérico para agradar a todos”.

Destacando as novelas brasileiras que se espalharam pelo mundo, como Escrava Isaura e as bíblicas da Record, André ressaltou o potencial brasileiro de virar um polo mundial de produção audiovisual, “como fez a Coreia do Sul”, e fez a breve menção à TV Brasil no bloco: destacou o edital Seleção TV Brasil, que está em processo para escolher produções nacionais a serem exibidas na TV Pública, com investimento de R$ 100 milhões.

Saindo rapidamente da Globo, Katy citou a novela da Manchete Pantanal, que foi sucesso de público e mudou o cenário de grandes centros urbanos, sempre presente nas produções de longa duração. E Muka lembrou do executivo Fernando Barbosa Lima, da TVE, que criou o Sem Censura.

A partir do segundo bloco, o bate-papo ficou menos nostálgico, abordando o tema do abandono do público infantil pela TV aberta, consequência da recomendação que considerou abusiva toda publicidade direcionada ao público infantil. Aqui foi ressaltado o papel da TV pública, que mantém uma ampla programação infantil na grade.

André destacou também a importância do debate sobre a regulação das big techs e a disseminação de desinformação nas plataformas como um “desafio civilizatório no mundo”.

Um detalhe chamou atenção: o uso do programa na TV pública para fazer propaganda de uma conta privada no Instagram. No caso, o do jornalista e comunicador Muka, que desenvolve em suas redes particulares um trabalho diverso do que faz na TV Brasil. O @ dele foi exibido no gerador de caracteres enquanto ele participava do debate, aquele tipo de legenda que aparece nas transmissões ao vivo ou em reportagens para identificar a pessoa que fala ou passar informações adicionais.

O terceiro bloco foi dedicado aos desafios da TV aberta para continuar relevante diante da concorrência da internet, principalmente das plataformas de streaming. Mais uma vez, se voltou à centralidade da Globo, com Gabriel expondo que a emissora está com dois horários para reprise de novelas, o “confort content, conteúdo nostálgico que funciona” para atrair audiência.

No último bloco, o Sem Censura trouxe um debate interessante e pertinente, da TV 3.0. André explicou que o modelo é brasileiro, baseado em tecnologias combinadas dos Estados Unidos, Coréia do Sul e “dois países da Escandinávia”. Também explicou que será necessário um aparelho conversor para receber o novo sinal, que virá via antena e não via internet, mas que os novos televisores serão feitos com a nova tecnologia.

André falou das possibilidades de interatividade e acessibilidade e da “chance de reposicionar a TV pública”, já que a nova tecnologia vai funcionar no formato de aplicativos dos canais, sendo que os canais públicos, a começar pelo Canal Gov e pela TV Brasil, estarão em destaque na página inicial.

Ou seja, apesar do peso desproporcional dado à Globo nas conversas sobre os 75 anos da TV no Brasil, o Sem Censura também apresentou debates importantes e atuais para a sociedade. E foi bastante elogiado pelo público ao longo do programa, por meio das mensagens enviadas. O que mostra, de fato, a paixão do brasileiro pela televisão.

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