Nesta quinta-feira (8/5), ao meio dia, sem qualquer aviso prévio, a programação infantil da TV Brasil foi interrompida. Naquele momento, estava no ar a faixa infantil. O radiojornal Repórter Nacional, da Rádio Nacional, também não foi ao ar.

Ao invés dos programas da grade dos veículos públicos, foi transmitida ao vivo uma coletiva com os ministros da AGU, Jorge Messias, da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, da Previdência Social, Wolney Queiroz, e o novo presidente do INSS, Gilberto Waller.

O tema foi as atualizações do governo sobre as fraudes contra os benefícios de aposentados e pensionistas de todo o país. Os valores ainda não são calculáveis, já que não se sabe o que foi e o que não foi autorizado pelos aposentados.

O escândalo, que foi catapultado pela megaoperação da Polícia Federal no dia 23 de abril, vem afetando diretamente o governo federal. O presidente do INSS foi demitido logo após a operação. Mas o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, caiu só depois de uma semana sangrando.

Mas uma coletiva, 15 dias após a operação, tinha tal dimensão que justifica interromper a programação dos veículos públicos? O governo federal já mantém seu canal próprio de divulgação, o CanalGOV, que foi revivido nessa gestão, após Bolsonaro tomar a TV Brasil como seu veículo de propaganda. Inclusive, o CanalGov está presente em quase em todo país, no subcanal digital da TV Brasil, herança dos tempos de implementação da TV Digital.

Na coletiva, os ministros tentaram prestar contas do que o governo está fazendo em relação às fraudes. O INSS anunciou que os aposentados vão poder informar ao órgão se reconhece ou não o desconto realizado. Logo depois, o INSS notificará as associações para que comprove se havia ou não o vínculo. Após esse processo, o INSS cobrará da associação a devolução destes recursos, que serão repassados aos aposentados. Ou a AGU irá processar as associações para devolução do dinheiro. Ou seja, não há previsão para ressarcir o dinheiro que possivelmente foi descontado de forma indevida.

E quando o governo poderia ser confrontado, na hora das perguntas dos jornalistas, a EBC tirou do ar a coletiva.

Concordamos que o assunto é importante, pois cerca de 6 milhões de aposentados podem ter sido lesados. Mas as informações repassadas na coletiva poderiam ser alvo de um entrada ao vivo dos repórteres da empresa. Assim, não seria necessário derrubar tanto o radiojornal como a programação infantil, e o cidadão ficaria informado sobre os planos do governo.

Será que estamos voltando aos anos de terror de Bolsonaro, em que a programação das emissoras públicas eram interrompidas para que o ex-presidente réu desse tchauzinho nas Rodovias? Ou para que Bolsonaro constrangesse embaixadores para legitimar sua tentativa de golpe?

Não é isso que esperamos da reconstrução do sistema público de comunicação federal. O retorno dos desvios das emissoras públicas para favorecer o governo não é a opção para fortalecer a democracia brasileira.

A atual diretoria da EBC é incapaz de apresentar um projeto de reconstrução do Serviço Público de Mídia federal. Os recursos das emissoras públicas continuam a ser drenados para propaganda do governo. O frágil Sistema de Participação Social segue à espera da boa vontade do Planalto para existir. A sociedade espera mais, muito mais, deste governo de frente ampla na defesa dos meios públicos de comunicação.

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário