Na terça-feira, 28 de outubro, o Rio de Janeiro e o mundo viram estarrecidos o que foi classificado como a maior operação policial da história da cidade em 15 anos. Com o objetivo de cumprir 180 mandados de busca e apreensão e outros 100 de prisão, 2.500 agentes das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro entraram em comunidades dos complexos de favelas do Alemão e da Penha, em uma ação contra a facção criminosa Comando Vermelho. Chamada de Operação Contenção, o motivo era conter a expansão territorial da facção.

Saldo do dia: 64 mortos, incluindo quatro policiais; 81 presos, entre eles um líder do Comando Vermelho conhecido como ‘Belão’; apreensão de 93 fuzis, pistolas, granadas e mais de 500 quilos de entorpecentes. A operação mais letal da história do estado. O “recorde” anterior havia sido em Jacarezinho, em 2021, com 28 mortos.

Na manhã do dia seguinte, o horror da operação escala a algo inominável: moradores retiraram, durante a madrugada, de 60 a 70 corpos da mata perto das comunidades (o número exato não foi divulgado). Muitos com sinais de tortura e execução, incluindo pessoas que tinham se entregado, segundo testemunhas, e corpos decapitados. Os corpos foram enfileirados na Praça São Lucas, na Vila Cruzeiro, e a imprensa foi chamada pela própria comunidade para registrar o derrame de sangue.

Balanço oficial: 121 mortos, incluindo quatro policiais, 113 presos e 118 armas apreendidas, além de grande quantidade de drogas. O principal alvo da operação, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, segue foragido. O governador, Cláudio Castro, classificou a operação como um “sucesso” e disse que a tática da polícia foi “levar o confronto para a área de mata”, para evitar tiroteio perto das casas, “o que poderia aumentar ainda mais o número de mortos”. Ele também afirmou que as únicas vítimas da operação foram os quatro policiais mortos.

 

Cobertura

Enquanto a mídia comercial seguiu a linha de corroborar as declarações das autoridades estaduais, justificar a operação, criminalizar os mortos e enaltecer os policiais que morreram, os veículos públicos da EBC foram a campo registrar as histórias de quem estava sofrendo com a matança, de forma sensível e humanizada, além de repercussões com diversas organizações e manifestações de entidades de direitos humanos. Sem deixar de acompanhar a agenda de autoridades, tanto do estado como federais.

Na Agência Brasil, além da foto do repórter cinematográfico Tomaz Silva, usada para ilustrar esse post, que circulou amplamente na internet e foi capa de jornal, destacamos a reportagem de Isabela Vieira, com o testemunho dos moradores que recolheram os corpos na mata.

A cobertura seguiu intensa nos dias seguintes à operação, incluindo uma reportagem de Alex Rodrigues sobre como esses acontecimentos afetam o desenvolvimento das crianças. Reproduzimos aqui uma fala recolhida por Tâmara Freire no protesto que os moradores da Penha e do Alemão fizeram na sexta-feira (31):

““Esse governador é o ‘Exterminador do Futuro’, porque ele extermina o futuro e os sonhos dos jovens. Ele poderia entrar com educação, com saneamento básico, com emprego, mas a única oportunidade que o governo deu pra eles foi caírem no narcotráfico e pegarem um fuzil na mão. Quando o governo não dá oportunidade, o tráfico abraça”.

Na própria terça-feira, o Revista Rio, da Rádio Nacional, entrevistou a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jaqueline Muniz, uma das principais especialistas no tema no Rio de Janeiro. Raquel Júnia e Dylan Araújo trataram com ela dos problemas da operação, que descumpriu a normativa da própria polícia, no calor dos acontecimentos e ainda antes da divulgação dos números finais da operação.

Também trouxeram os impactos na cidade, como vias fechadas, uma prestação de serviço essencial no rádio. “Uma lambança político-operacional e tático”, classificou a professora, destacando que ao deslocar 2.500 agentes para a operação, de 3 a 5 milhões de pessoas ficaram sem policiamento na região metropolitana.

No radiojornalismo, que tem suas reportagens publicadas na Radioagência Nacional, vimos o mesmo empenho e diversidade de cobertura da Agência Brasil. Na manhã do dia 29, o Repórter Nacional trouxe de forma ágil o balanço da operação e toda a repercussão.

Na TV Brasil, a edição do dia 29 do Repórter Brasil Tarde, apresentado do Rio de Janeiro por Luciana Barreto, trouxe reportagem sensível de Thiago Pimenta com mães de mortos na operação, Alessandra Lago repercutiu com especialistas em segurança pública e direitos humanos, além de informações oficiais. Em uma prática saudável de crossmídia e troca de conteúdo entre os veículos, a reportagem de Pimenta foi publicada também na Agência Brasil e a de Lago foi gravada para a Radioagência.

Um serviço que seria essencial ter agilidade, diante da grande repercussão internacional que a operação gerou, mas que não atendeu a contento, foram as páginas da Agência Brasil em inglês e em espanhol. 

Perto de 10h da manhã do dia 29, portanto dia seguinte à operação e já com números aterradores e repercussões em todas as esferas da sociedade, mantinham como manchete o desmatamento na Mata Atlântica e não tinha nenhuma publicação sobre o assunto do dia anterior. Depois disso, as duas páginas acompanharam o andamento da cobertura e traduziram um bom número de reportagens, abordando diversas perspectivas, incluindo o reforço de fronteira anunciado por Argentina e Paraguai.

Essa intensa cobertura demonstra o compromisso do jornalismo público com abordagens diversas e não contempladas pela mídia comercial, bem como traz visões diferenciadas, críticas e contextualizadas para um tema complexo como o combate à criminalidade e a violência policial. Tanto que, de forma rápida, os comitês de participação da EBC (Comep e Cpadi), aprovaram no dia 29 uma moção de reconhecimento ao excelente trabalho realizado pelas equipes.

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