Desafios de novo presidente da EBC incluem fortalecimento do jornalismo público e relação com servidores

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) vive dias de incerteza. Após a demissão de Hélio Doyle da presidência da estatal, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, anunciou que o diretor-geral, Jean Lima, assumirá interinamente o comando da empresa.

Nos últimos dias, entidades do setor se manifestaram para indicar nomes ou levantar críticas e desafios para o próximo período da estatal. Jean Lima sinalizou que pretende responder a um dos principais problemas da EBC, a relação com os servidores, que reclamam melhores condições de trabalho e convocação de editais de contratação de trabalhadores.

Em entrevista recente ao Brasil de Fato, Hélio Doyle, ex-presidente da EBC, revelou que a estatal perdeu 349 servidores que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) mas não houve reposição.

Lima anunciou que trabalhará na produção de um Plano de Cargos e Remuneração (PCR) para estruturar as carreiras na EBC até o final de 2023, e a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho 2022/2023, que tem como data-base o mês de novembro.

Porém, os problemas internos na futura gestão devem demandar maior empenho dos próximos gestores da estatal. Os sindicatos de jornalistas da estatal de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, divulgaram uma carta acusando os superintendentes Eric Nepomuceno e José Américo Dias de assédio no ambiente de trabalho. Entre as denúncias está a perseguição a uma servidora que acusa seus superiores de violência psicológica.

Aline Braga, integrante do coletivo de comunicação Intervozes, identifica a relação interna com os servidores da estatal como ponto fundamental para a próxima presidência da EBC.

“Acredito que entre as pessoas preocupadas com a comunicação pública, entre elas trabalhadoras e trabalhadores, há o entendimento de que o diálogo, necessário ao fortalecimento da EBC, que significaria em certa medida, o fortalecimento da comunicação pública em outras frentes, não foi feito. Diálogo no sentido interno, que significa ouvir e imprimir importância e prioridades nas demandas de trabalhadoras e trabalhadores da EBC”, conta Braga.

A representante do Intervozes lembrou que recentemente o coletivo publicou a carta Oito meses de governo sem comunicação pública, que criticava a gestão da estatal. “Foi feito um importante histórico e panorama da situação – sobre condições existentes antes do novo governo que perduram até agora, como necessidade de estrutura e a desabilitação do Conselho Curador, até a intensificação de investimento de uma comunicação governamental quando o que esperávamos era o contrário, o fortalecimento da comunicação pública”, diz.

Admirson Medeiros Ferro Jr., conhecido como Greg, coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), diz que “o jornalismo público precisa ser fortalecido, a gestão Doyle desestruturou a área de jornalismo, que vem tendo muita dificuldade. Sobretudo falta de recursos para coberturas relevantes. Precisa abrir concurso público”, afirmou.

Greg pediu, ainda, maior “diálogo permanente com as entidades, como método de gestão. E a necessária participação social por meio de um conselho de participação da sociedade civil.”

Por fim, Braga pediu que a estatal avance no caminho de uma comunicação pública. “Para alcançarmos condições mínimas de democracia no diálogo público precisamos de avanços e de respeito ao que já temos regulamentado. Esse é o desafio que não foi enfrentado. Vamos ter que voltar à linha de largada, para voltar a disputar uma comunicação que defenda nossos direitos. É um longo caminho, e é necessário que esse governo não volte a negligenciar novamente esse campo.”

Edição: Thalita Pires

Link para publicação original: https://www.brasildefato.com.br/2023/10/29/desafios-de-novo-presidente-da-ebc-incluem-fortalecimento-do-jornalismo-publico-e-relacao-com-servidores