Na onda das retrospectivas de final de ano, o perfil da Agência Brasil no Instagram fez uma postagem no dia 27 de dezembro de 2023 com o título Imagens do Ano: Posse e Atos Golpistas. O texto da postagem é:
“No dia 1º de janeiro de 2023 ocorreu, em Brasília, a posse do terceiro mandato do presidente Lula. Dias depois, em 8 de janeiro, houve uma tentativa frustrada de golpe de Estado, com a invasão e depredação do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF. Acesse o site da #AgênciaBrasil e confira essas e outras imagens (link na bio)”.
Alguns detalhes chamam a atenção na postagem de forma negativa. Primeiro, não traz explicação se serão feitas outras publicações para destacar as demais coberturas marcantes feitas pela Agência Brasil ao longo do ano, com diversas imagens que merecem ser relembradas.
Segundo, a única foto com crédito não é de um profissional da Agência Brasil, mas sim de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente Lula, na posse. No caso, a primeira foto, o que pode levar a entender que todas as demais são do mesmo fotógrafo. Não são, mas nessa postagem não é possível saber a autoria.
Terceiro, nas legendas colocadas na postagem, faltou respeito com os “representantes do povo” que subiram a rampa ao lado de Lula e Janja, já que o nome das pessoas não foi citado. A “representante do povo” que colocou a faixa presidencial em Lula foi Aline Souza, mulher negra, liderança dos catadores de material reciclável.
Inclusive, não encontramos as fotos da posse utilizadas na postagem pelo sistema de busca da Agência Brasil, conforme indica o texto publicado. Portanto, não conseguimos confirmar se são mesmo de repórteres fotográficos da EBC ou se todas são de Stuckert, como leva a crer. Há fotos parecidas publicadas pela Agência Brasil, mas não as mesmas imagens. A postagem no Instagram traz, inclusive, uma fotografia feita por drone, tecnologia que não encontramos em nenhuma imagem da Agência. Se a postagem é do perfil da Agência Brasil, deveria utilizar material produzido pela Agência Brasil. ATUALIZAÇÃO: No fim do dia 28, os créditos das fotografias foram inseridos na postagem, confirmando que apenas três das dez fotografias utilizadas são de profissionais da Agência Brasil.
Também sentimos a falta, entre as imagens selecionadas dos atos golpistas de 8 de janeiro, de uma muito emblemática feita pelo fotógrafo Marcelo Camargo, da Agência Brasil:
Essa imagem, além de ter sido capa da revista Veja, ajudou na identificação do homem que quebrou o relógio histórico trazido por D. João VI ao Brasil em 1808.
Por último, as duas últimas fotografias da postagem são do tenente-coronel Mauro Cid e do hacker Walter Delgatti, ambas durante depoimento na CPMI dos atos golpistas. Podem ser personagens que marcaram o ano, mas as imagens não são de impacto e estão fora do contexto, já que não foram feitas durante os atos golpistas em si, não trazendo a relação entre eles e o porque depuseram na CPMI.
A iniciativa de uma retrospectiva em imagens é boa, mas a ideia foi mal executada e teve tendência governista.