No dia 29 de dezembro, foram publicadas na galeria de fotos da página da Agência Brasil um total de 60 fotos com o título de “Retrospectiva 2023”. Como já relatamos, em análise sobre uma postagem no Instagram da Agência, causa estranheza o fato de conter imagens feitas por pessoas sem vínculo com a EBC e o viés bastante oficialista da seleção.

A retrospectiva inclui as fotos da postagem do Instagram e de outra, do dia 28, que traz a retranca “política”, com fotos de momentos dos três poderes da república. Das 60 fotografias, sete são de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente Lula e atual secretária de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). E uma imagem está creditada como Audiovisual/PR.

A separação entre comunicação pública e governamental passou muito longe dessa seleção. Nunca é demais relembrar que a Agência Brasil serve à comunicação pública, e não ao governo. Inclusive, foi criada este ano a Agência Gov, que tem a função de divulgar as notícias do governo e diminuir a confusão entre comunicação pública e governamental que persiste no Brasil.

Outra fotografia, de Joédson Alves, é dos atos golpistas de 8 de janeiro, data em que ele ainda não tinha sido contratado para trabalhar na EBC. Além disso, 31 imagens são de Lula Marques, Rafa Neddermeyer, Paulo Pinto e Joédson Alves, todos exercem cargos de chefia na EBC, assumidos este ano. Ou seja, vemos uma tendência a privilegiar os fotógrafos contratados, sem que esses tenham, necessariamente, produzido as imagens mais espetaculares do ano, em detrimento dos profissionais da casa, que tiveram apenas 21 fotos na retrospectiva e uma indicação ao maior prêmio de jornalismo do país, o Vladimir Herzog.

Quanto aos temas escolhidos, também prevalecem os atos do governo e dos poderes, com quase metade das imagens. Também aparecem fotografias de fatos como o afundamento do solo em Maceió, celebrações negras no Cais do Valongo e na Serra da Barriga, seca no Amazonas, incêndio no pantanal, onda de calor no Rio de Janeiro e em São Paulo e atos pró-palestina e pró-Israel. E fotos de eventos dos movimentos populares que contaram com apoio e participação do governo, como a Marcha das Margaridas e o Acampamento Indígena Terra Livre.

Chama muito a atenção, no sentido negativo, de as fotos escolhidas da emergência Yanomami serem justamente as de ações oficiais, com o lançamento de mantimentos pela Força Aérea Brasileira e o trabalho de agentes do Sistema Único de Saúde. Quando o trabalho em campo de Fernando Frazão foi premiado e finalista de concursos como Vladimir Herzog de Direitos Humanos, Justiça e Direitos Humanos e Mercosul. Mas essas imagens não entraram na retrospectiva da Agência Brasil.

A seleção também inclui uma imagem institucional, do programa de entrevista da TV Brasil Dando a Real com Demori. No caso, com o super astro do rock Roger Waters, mas não se trata de um fato jornalístico, como pressupõe o conteúdo de uma agência de notícias.

Confira abaixo prints da retrospectiva fotográfica da Agência Brasil. A seleção também foi disponibilizada no Flickr da Empresa Brasil de Comunicação.

 

 

 

 

 

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