Relato da segunda reunião do GT Participação Social

 

A segunda reunião do Grupo de Trabalho sobre Comunicação Pública e Participação Social, no âmbito da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ocorreu na terça-feira, dia 9 de janeiro, de forma virtual.

Participaram do encontro as diretoras da EBC Maíra Bittencourt, Geral; Antonia Pellegrino, de Conteúdo e Programação; Maria Aparecida Matos, de Jornalismo; Nicole Briones, superintendente de Comunicação Digital e Mídias Sociais; Ricardo Zamora, secretário-executivo da Secom; Marcelo Cafrune, chefe de gabinete da Secretaria-Executiva da Secom; Giulliana Valença, chefe de gabinete da Secretaria de Imprensa da Secom; Octávio Pieranti, assessor da Secretaria de Políticas Digitais da Secom; Pedro Rafael Villela, representante dos Sindicatos de Jornalistas; Alexandre D’Lou, representante dos Sindicatos de Radialistas; Akemi Nitahara, representante da Comissão de Empregados da EBC; Fernando Oliveira Paulino, representante da Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública; e os ex-conselheiros do Conselho Curador da EBC Ana Fleck, Ana Veloso, Murilo César Ramos e Rita Freire. Como convidadas, participaram a superintendente de Serviços da EBC, Flávia Filipini, e a assessora da deputada Luiza Erundina, Evelin Maciel.

Maíra conduziu uma apresentação sobre a EBC, com destaque para a TV Brasil (Confira a apresentação: EBC_PPT). Entre os dados apresentados, está o perfil dos telespectadores: 55% feminino, classes C e D, 60+ anos, um reflexo do próprio perfil do telespectador médio brasileiro como um todo. A estimativa é de 51 milhões de telespectadores alcançados pela TV Brasil. Sobre o projeto de expansão da Rede Nacional de Comunicação Pública, ela destacou que em janeiro do ano passado eram 62 de TV e agora somam 156. Sendo que 72 já estão em operação e 20 em implantação. nas rádios, são 43 em operação, 90 em implantação e 71 em negociação. Quanto à contribuição da rede com conteúdos, a quantidade passou de 140 horas em 2022 para 355 em 2023.

Antônia destacou separação efetiva da TV Brasil do Canal Gov ocorrida no dia 25 de julho e a nova identidade visual, sonora e institucional lançada em 1º de agosto, “anunciando os conteúdos que viriam em setembro”. Ela falou da estreia do novo Repórter Brasil no dia 7 de agosto, da campanha sobre o cinema brasileiro e da marca de 78% de conteúdos brasileiros exibidos pela TV Brasil no ano passado. A diretora destacou a estreia de conteúdos próprios, como a retomada do Partituras, a criação do Cine Resenha e o DR com Demori. Nos conteúdos da rede, foi criada a faixa Encontros com o Brasil, matutina, além da transmissão do Cozinha Amazônica. Ela informou que a EBC está retomando os contratos do Prodav TVs Públicas de 2018, com programas como Canal da Quebrada, além de novos filmes brasileiros, séries brasileiras, e interprogramas de conteúdos artísticos, como o Visita ao Ateliê, gravações feitas na Bienal do Livro e na Flup e uma série sobre animadores. Em outubro estrearam novos conteúdos na faixa infantil, incluindo o programa Thiago e Isis, do Prodav, além de conteúdos comemorativos dos 60 anos da produtora LC Barreto, com a contratação de sete filmes e um episódio do Cine Resenha. A diretora também anunciou a nova temporada do Canto e Sabor e a aquisição do Belas Raízes, programa da Bela Gil. Em novembro voltou à grade o Trilha de Letras, apresentado pela Eliana Alves Cruz, e estreou a novela Maria Madalena, além do musical em homenagem à Alcione e à Marielle Franco. Também destacou o especal do Dia do Samba, o documentário 100 anos da Rádio MEC e a ópera O Sonho de Edgard. A partir de janeiro tem a nova temporada do Meu Pedaço de Brasil, em fevereiro o novo Sem Censura, Caminho dos Viajantes e a cobertura do Carnaval.

Cidinha afirmou que foi difícil fazer a separação dos conteúdos públicos e governamentais no jornalismo porque “estava muito misturado”  e “os jornalistas ficaram treinados a fazer informe de comunicados do governo no lugar de jornalismo público”. Além da reformulação do Repórter Brasil Noite, com novo âncora – Guilherme Portanova -, Stadium e Mundo da Bola, informou que o Repórter Brasil Tarde deve passar de 12h para 13h. Disse que a equipe está sendo “bem sucedida” em construir linguagem e pautas de jornalismo público e que a participação da rede nos conteúdos aumentou.

Flávia Filipini ressaltou que a separação dos canais foi “bem difícil” para toda a empresa, que criou uma rede Gov com o canal, a agência e o fortalecimento da Rede Nacional de Rádio. Disse que a Agência Gov funciona hoje com seis pessoas e o canal com 170, conseguindo passar de um jornal de manhã de 15 minutos para 45 minutos. Ela destacou os programas Brasil em Pauta, semanal, e Brasil no Mundo, com Marcos Uchôa, além da retransmissão dos programas da Secom Conversa com o Presidente e Bom Dia Ministro, com participação de outras rádios. “O Canal Gov é um contrato da Secom, a gente tem que fazer a comunicação de governo”, afirmou. Flávia disse que a EBC Gov faz parte de vários GTs do governo, faz interprogramas e leva informação para a população. De acordo com ela, o serviço de distribuição de conteúdos para a imprensa passou de 510 downloads por mês para 2.500. Destacou também que a Voz do Brasil passou a fazer entrevistas com ministros para responder perguntas, a Rede Nacional de Rádio distribui 40 programas e o foram lançados no fim do ano o Site do Canal Gov e App, além de fazer coberturas especiais como do G20, COP 30, sobre empreendedorismo, um programa com o MST sobre reforma agrária e agricultura familiar e outro com a Secretaria Geral sobre participação popular.

Nicole explicou que a Sudin opera 32 perfis em diversas plataformas e que passou de 6 milhões de seguidores para 7,2 milhões. O carro-chefe são as transmissões ao vivo da TV Brasil e do Canal Gov.  De acordo com ela, as redes eram operadas de forma mecânica, com censura prévia e revisões, “isso matou os algorítimos”. Não tinha produção de conteúdo orgânico, era um espelho da programação sem a adaptação pras redes e agora foi desautomatizada a entrega desses conteúdos. Os seguidores do Instagram da EBC passaram de 22 mil para 1,2 milhões, depois que deixou de ser “quase um perfil de linked in, com destaque dos diretores”. Entrada no Telegram para fazer a disputa com a extrema direita e tem feito um trabalho de resgate do acervo da EBC, além de coberturas especiais como o Trem do Samba e o Festival Latinidades. “Precisamos trazer a cultura do digital para a EBC com inteligência”, afirmou.

Rita Freire agradeceu o esforço que a EBC tem feito para avançar no que é esperado para fortalecer a comunicação pública e destacou o peso que tem um projeto desse para a sociedade, porém, como ele é facilmente apropriado e desmontado conforme a situação política. Lembrou da importância de se pensar em estratégias de proteção para o projeto, que seja construído de forma consensuada, em diálogo da gestão com a sociedade e com a rede em expansão. De acordo com Rita, quando foi desmontado, o Conselho Curador estava em diálogo com entidades como a Fiocruz e a Universidade de Goiás, que queriam montar seus conselhos, bem como havia a intenção de levar o modelo do conselho para rádios comunitárias. “Que o instrumento da participação social seja efetivo na defesa do projeto da comunicação pública, inclusive trazendo as universidades, que foram imensamente atacadas no processo de desmonte do país e não tinham canal de diálogo com a sociedade”. Rita também acrescentou a necessidade de se discutir os conteúdos, como a discussão da própria comunicação na mídia pública e o uso da Reuters pela Agência Brasil, sem reprodução permitida.

Respondendo aos questionamentos de Rita, Maíra disse que os recursos para garantir a expansão da rede estão sendo negociados por meio de emendas parlamentares. Cidinha afirmou que já tem produtos jornalísticos na TV em parceria com as emissoras da rede, como a série Cientistas do Brasil e reportagens têm entrado nos jornais. Nicole garantiu que a equipe das redes sociais foi dividida para garantir a separação entre a parte governamental e a parte pública. Antônia ressaltou que a TV Brasil atingiu o quinto lugar na audiência durante a gestão Bolsonaro, então é necessário evitar movimentos bruscos na programação para não perder essa audiência conquistada. Como a novela Maria Madalena que, segundo a diretora, além de ser uma novela cristã, é sobre empoderamento feminino e dialoga com o público evangélico e feminino com mais de 60 anos.

O professor Paulino questionou a baixa participação que chega pela Ouvidoria da EBC, conforme descrito nos relatórios, e solicitou acesso aos dados do órgão, como os boletins com crítica da programação, os conteúdos previstos em lei e qual o direcionamento editorial pasado pela direção aos funcionários. E sugeriu a adoção de parâmetros de participação nos acordos da expansão da rede e a possibilidade de realizar audiências públicas.

Evelin se desculpou pela ausência da deputada Erundina e pediu mais explicações as produções fora do eixo Rio-Brasília-São Paulo que estão sendo transmitidas pela TV Brasil, para garantir diversidade, e que conteúdos da TV Brasil estão sendo entregues às populações das cidades cobertas pelas emissoras parceiras.

Alexandre sugeriu que a EBC resgate a ideia da Escola de Comunicação Pública, para fortalecer a discussão no corpo técnico da empresa, que, segundo ele, não acompanham de perto os debates sobre comunicação pública e têm como padrão de produção a comunicação privada. “Precisamos debater padrão de qualidade também, coerente com a capacitação dos funcionários, mas que seja justo com a sociedade”. Segundo ele, os técnicos nunca receberam um direcionamento sobre padrão de qualidade e o material que chega da rede vem com padrão baixo.

Pedro destacou a importância de se regulamentar os repasses da CFRP para ajudar na implantação dessa rede e questionou se há planos de expansão por emissoras próprias, já que retransmissores foram desligados nas últimas gestões. Também falou que há falta de planejamento para grandes coberturas jornalísticas, como no 8 de janeiro, e destacou a diminuição de funcionários do quadro da EBC, que passou de 2.300 em 2016 para 1.600 em 2023. “Não dá para reconstruir nada sem pessoal. Precisa avançar no concurso”. Também reforçou a importância do estabelecimento de parâmetros editoriais condizentes com a comunicação pública e novamente sugeriu a restituição do Comitê de Jornalismo, bem como da escola de formação em comunicação pública, já que a área exige formação permanente. Pedir que as reuniões do GT não ocorram apenas de forma virtual.

Giulliana falou da importância de se estruturar os conteúdos e pensar a comunicação pública como projeto, “de forma que seja um valor para a sociedade”, e para que não se passe outro ano apenas arrumando a casa. “Entendo que nesse projeto de comunicação pública e participação social, o conceito possa ser expandido na comunicação, distribuído a partir de uma construção coletiva que passe por identificar quem são os porta-vozes dessa comunicação pública, onde que a gente conta isso para além do conteúdo”. Destacou o desafio de não fazer dessa comunicação apenas governamental, mas mostrar que existe uma nova TV, com uma nova proposta de comunicação pública sendo continuada a partir de um projeto que existe há muito tempo.

Voltando a responder às questões, Maíra informou que está sendo feito um mapa on-line com todos os dados da expansão da rede e que no contrato existe a obrigatoriedade de exibição mínima de 10 horas da programação da TV Brasil, a critério das parceiras. A implementação das emissoras não será feita com recursos da CFRP, mas a contribuição pode ajudar na manutenção e produção de conteúdos no longo prazo. Sobre o ouvidor indicado pela gestão Bolsonaro, ela lembrou que o mandato termina em agosto.

Cidinha disse que tem prezado pela diversidade e o RBN estreou com uma apresentadora negra da casa, além do boletim Agência Brasil Agora e o Trilha das Letras, também apresentados por jornalistas negras. Lamentou não ter encontrado um jornalista indígena para fazer parte do quadro de apresentadores.

Nicole disse que considera os milhões de interações nas redes, em forma de comentários, como uma ouvidoria. “Tem muito hater, ainda tem um público residual do bolsonarismo, mas temos uma coleta de dados que dá para sentir o debate público, identificar fake news e ter insights para apresentar para a diretoria”. Ela informou que será fechado um contrato com a FGV para análise desses dados das redes sociais.

Rita reforçou a proposta de que as reuniões não sejam apenas virtuais e disse que o contato com o público bolsonarista aumenta a responsabilidade da EBC, já que é preciso “reverter o imaginário brasileiro”. “A mídia pública não está falando só para os convencidos da democracia”, afirmou.

Paulino solicitou que as perguntas sejam respondidas antes da próxima reunião.

Cafrune também solicitou o envio antecipado da documentação para as próximas reuniões e sugeriu que a relatoria encaixe as questões enviadas no cronograma das reuniões.

Encerrando a reunião, Maíra reiterou que não há previsão nem orçamento para a realização de outras reuniões do GT de forma presencial, apenas a última, em abril, para entrega do relatório. A próxima reunião será no dia 22 de janeiro, para tratar do Conselho Curador e da Ouvidoria da EBC.

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