Reunidos em assembleia na terça-feira dia 23 de novembro, os trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) decidiram entrar em greve a partir da sexta-feira daquela semana, dia 26. Segundo notícia publicada no site do Sindicato dos Jornalistas do DF, “a decisão foi motivada pela conduta recriminável da empresa, que desde o ano de 2020 não sinaliza para realização de uma efetiva negociação”.

“Durante a assembleia, os trabalhadores protestaram contra o descaso patronal, as sucessivas perdas salariais enfrentadas, a negativa da empresa em manter minimamente direitos que já constam em vários Acordos Coletivos de Trabalho e que representam conquista histórica da categoria”

Em negociação desde agosto de 2020, com data-base vencida desde 1º de novembro do ano passado, a categoria pede a manutenção dos direitos que já constam no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) e a recomposição das perdas inflacionárias. Mas a empresa, que ofereceu apenas 7% de reposição a partir de janeiro de 2022 e a imposição do banco de horas sem regulamentação prévia, retirou a proposta da mesa e anulou unilateralmente o ACT que vinha sendo prorrogado.

Com isso, direitos como o auxílio pessoa com deficiência, o adicional de local perigoso, a estabilidade para mães que retornam da licença maternidade e para quem está próximo à aposentadoria e a licença sindical remunerada, por exemplo, deixaram de existir na EBC.

A greve na empresa pública de comunicação foi notícia em diversos sites noticiosos, sindicais e especializados em comunicação, como Metrópole, Agência Pulsar, Brasil de Fato, CUT, Portal Comunique-se, Tela Viva, Portal dos Jornalistas, Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e Mundo Sindical.

Mas a greve não foi notícia nos veículos da própria EBC.

A única paralisação noticiada na Agência Brasil na semana em que se deflagrou a greve dos trabalhadores da EBC foi a dos aeronautas, anunciada para o dia 29. E, depois, o acordo que evitou o movimento paredista de pilotos e comissários.

Se o serviço é importante, a greve também é

Greves são o último recurso de pressão que os trabalhadores e trabalhadoras têm para pressionar o patronato e conquistar direitos ou, no caso, impedir a perda deles. Normalmente, greves de setores como transporte coletivo, saúde pública ou limpeza urbana são amplamente noticiados pela grande mídia, sempre pelo viés dos transtornos que a paralisação causa à sociedade.

Tradicionalmente, os veículos da EBC cobrem esses movimentos grevistas. Então, porque não noticiar a greve de seu próprio corpo funcional, já que é visível o prejuízo que a programação e o jornalismo sofrem com a falta dos trabalhadores e trabalhadoras que aderiram ao movimento paredista?

Durante a greve de 2015 na empresa, o tema foi debatido pela Ouvidoria da EBC. Na ocasião, a ouvidora Joseti Marques destacou que “noticiar greves, para a comunicação pública, é oportunidade para mostrar à sociedade as condições de trabalho de profissionais que desenvolvem atividades essenciais para a vida dos cidadãos, como a de médicos e professores, além de informar sobre os serviços que serão afetados pela paralisação, como forma de contribuir para a organização do cotidiano das pessoas”.

Sobre a greve da EBC, ela alertou que “não informar o cidadão sobre a greve na empresa pública de comunicação seria, por princípio, uma omissão. E estaríamos considerando, indiretamente, que o serviço prestado pela comunicação pública é irrelevante e que sua interrupção não causa transtorno à sociedade – afinal, noticiar greves tem como um dos objetivos principais prevenir os cidadãos sobre possíveis transtornos provocados pela interrupção dos serviços”.

Em 2017, nova greve dos trabalhadores da EBC ignorada pelos veículos da empresa. Novamente, a Ouvidoria chamou a atenção para o fato, destacando a falta que o Conselho Curador, extinto em 2016, faz para estimular as reflexões. Nas duas ocasiões, a Ouvidoria da EBC destacou mensagens do público que perceberam os prejuízos na programação e que não tinham sido informados da paralisação.

Agora em 2021, a EBC tenta mais uma vez esconder a própria greve. Na Agência Brasil, por exemplo, levantamos que foram publicadas na quinta-feira (25), véspera da paralisação, um total de 66 reportagens. No primeiro dia da greve, o número caiu para 51. Apesar de numericamente a diferença não ser tão grande, é importante notar que apenas 13 matérias publicadas no dia 26 tinham a assinatura de um repórter, algumas com a nítida impressão de serem “matérias de gaveta”, que são aquelas escritas anteriormente e guardadas para posterior publicação.

Outras sete eram reproduções de agências internacionais e 31 não estavam assinadas. Ou seja, 60% das publicações não tinham a chancela da apuração de um jornalista público, perfazendo reproduções de notícias de órgãos oficiais, os chamados releases. No decorrer dos próximos dias, quando as “gavetas” se esgotarem, a quantidade e a qualidade dos conteúdos publicados e veiculados pela EBC certamente vão cair ainda mais.

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