Assim como quem não quer nada, no meio do bloco de notícias internacionais do dia 17 de fevereiro no Repórter Brasil Tarde, telejornal vespertino da TV Brasil, o apresentador do jornal, Luiz Carlos Braga, repetiu a fala do presidente Jair Bolsonaro em declaração à imprensa em sua visita à Hungria: Deus, pátria, família e liberdade.
Assim, seco, sem contexto, sem explicação, a TV Brasil colocou no ar o lema fascista utilizado na Itália na década de 1920 e pelos integralistas brasileiros da década de 1930, além da ditadura salazarista de Portugal, que sobreviveu até a década de 1970. A “liberdade” é por conta do atual mandatário brasileiro.
A propaganda fascista pode ser vista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=XdVpO1uUHLg. Por volta dos 25 minutos, é colocada no ar uma nota coberta, como é chamada a notícia no telejornalismo em que o apresentador lê as informações enquanto são exibidas imagens referentes ao assunto. Braga informa que Bolsonaro disse considerar a Hungria um país irmão e que ele e o primeiro-ministro Viktor Orbán assinaram acordos de entendimento nas áreas de defesa, promoção de ações humanitárias e gestão de recursos hídricos, além de fazer troca de atos internacionais e uma declaração à imprensa.
Após a nota coberta, é apresentada uma reportagem sobre a Hungria, anunciada como importante parceiro comercial e país que pode apoiar o Brasil para o ingresso na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Nem uma palavra sobre o fato do “país irmão” mencionado por Bolsonaro ter como líder um político de extrema-direita, de um partido nacionalista e conservador e que tem implantado política contra imigrantes e contra a população LGBTQIA+, estando no cargo desde 2010.
Outros veículos não deixaram o fato passar em despercebido e destacaram o uso do lema fascista pelo presidente Brasileiro, como o Buzfeed e a Folha de São Paulo, que contextualizou a declaração:
“Não é a primeira vez que ele usou o mote, que tem origem no fascismo italiano das décadas de 1920 e 1930, sem a adição da ‘liberdade’. Foi adotado por fascistas brasileiros da Ação Integralista e pela mais longeva ditadura europeia do século 20, a comandada de 1933 a 1974 por António de Oliveira Salazar em Portugal.”
Seguindo a linha questionável do jornalismo declaratório, em que apenas se reproduz as palavras do governante, a TV pública acabou, querendo ou não, corroborando com o lema fascista de quase um século atrás. Sem ao menos mencionar o fato.