Um dos motivos para a criação desta Ouvidoria Cidadã da EBC foi o fato de a Ouvidoria da EBC ter deixado de cumprir o seu papel legal de exercer a crítica interna e externa da programação e conteúdos jornalísticos colocados no ar pelos veículos e agências públicos da empresa.

Parar sermos justos, percebemos que depois que foi lançado o primeiro relatório da Ouvidoria Cidadã, em dezembro de 2020, e com o trabalho permanente colocado no ar, as “Análises do Ombudsman” da Ouvidoria da EBC melhoraram, do ponto de vista da comunicação pública. Inclusive, isso deve ter influenciado a direção da empresa a censurar a Ouvidoria (https://ouvidoriacidadaebc.org/governo-e-direcao-da-ebc-censuram-a-propria-ouvidoria/), proibindo, a partir de maio de 2021, que as análises sejam publicadas nos relatórios bimestrais. Agora, essa parte do trabalho da Ouvidoria só é divulgado no relatório anual.

Portanto, só pudemos saber no fim de janeiro de 2022 o que a Ouvidoria da EBC considerou inadequado ou merecedor de elogios nos conteúdos da empresa ao longo de 2021. O relatório está disponível aqui: https://www.ebc.com.br/sites/_institucional/files/atoms/files/relatorio_anual_da_ouvidoria_2021.pdf

 

Análises do Ombudsman

A análise divulgada em janeiro tratou das interrupções na grade da TV Brasil para eventos com o presidente Jair Bolsonaro, assunto abordado também pela Ouvidoria Cidadã (https://ouvidoriacidadaebc.org/interrupcoes-da-grade-da-tv-brasil-para-eventos-com-bolsonaro-somaram-78h37-este-ano/). Porém, no lugar de denunciar o uso político da TV pública para a promoção pessoal do presidente da república, a Ouvidoria viu pelo outro lado da questão, afirmando que os telespectadores da NBR, que era a TV do governo federal antes da fusão com a TV Brasil, em 2019, ficaram sem opção para seguir as notícias do governo e agora a TV passa desenho animado. Ou seja, aborda a questão pelo lado da comunicação governamental, e não pública.

O relatório registra reclamações que chegaram do público sobre a linha editorial, tanto manifestações a favor como contra o governismo que tomou conta da empresa. Mas sem análise, dizendo apenas que a solução é o jornalismo isento e equilibrado.

O documento ressalta que a Ouvidoria tem feito atendimento personalizado, o que, segundo o órgão, “fideliza o público”. A maioria dos exemplos citados são dúvidas que nem cabem à EBC esclarecer, como o funcionamento de respiradores, novas vacinas e sobre imposto de renda. Algumas vezes, essas manifestações do público contribuem para complementar informações ou elaborar novas pautas.

Indo ao encontro do observado pela Ouvidoria Cidadã, a Ouvidoria da EBC registra a demora na publicação das matérias da CPI da Pandemia na Agência Brasil e falta de contextualização na TV Brasil e na Rádio Nacional (https://ouvidoriacidadaebc.org/cpi-sem-acusacoes/). E elogia a cobertura das Paralimpíadas (https://ouvidoriacidadaebc.org/paralimpiadas-na-tv-publica-a-experiencia-por-tras-das-cameras/). O documento também registra reclamações que chegaram de locais que não recebem o sinal da TV Brasil para acompanhar os jogos.

O órgão elogia a cobertura do Enem, destacando que as matérias incluíram a demissão dos servidores do Inep às vésperas da prova. Elogia também a cobertura “sem sensacionalismo” e “de serviço” sobre a pandemia, apesar da falta inicial de matérias sobre crise em Manaus em janeiro. A Ouvidoria Cidadã, por outro lado, destacou o pouco destaque dado aos trágicos números e à falta de humanização da cobertura dos veículos públicos (https://ouvidoriacidadaebc.org/600-mil-mortos-nenhum-remorso-nos-veiculos-publicos-da-ebc/).

O relatório anual traz muitos elogios à interrupção da programação da TV Brasil e das Rádios EBC, além de link na Agência Brasil, para a transmissão ao vivo da íntegra do discurso de Bolsonaro na ONU, em setembro. Bem como à cobertura do 7 de setembro, que considerou equilibrada por ter abordado os atos contra e a favor do governo, apesar de não menciona que os motes eram antidemocráticos (https://ouvidoriacidadaebc.org/o-7-de-setembro-na-ebc-flopou-ainda-bem/).

Sobre a entrevista exclusiva de Bolsonaro à EBC em julho, sobre a qual a Ouvidoria Cidadã fez uma checagem pelo tanto de “imprecisões”, governismo e negacionismo que o presidente falou (https://ouvidoriacidadaebc.org/exclusiva-para-palanque-e-negacionismo/), a Ouvidoria se orgulhou do feito, destacando o uso que veículos comerciais fizeram das declarações sobre o fundo eleitoral e o tanto que o conteúdo foi reeditado dentro da EBC.

Quanto à novela Os Dez Mandamentos, que apontamos como uma exibição inconstitucional (https://ouvidoriacidadaebc.org/exibicao-da-novela-os-dez-mandamentos-pela-tv-brasil-fere-a-constituicao/), a Ouvidoria informou que recebeu mais de 200 manifestações diretas sobre o conteúdo comprado de uma rede privada e religiosa de TV, além de outras 200 manifestações indiretas por questões relacionadas ao aplicativo da TV Brasil, que não disponibilizou corretamente todos os episódios. Houve desde pedidos de mudança de horário para as 20h, porque às 21h tem a (outra) novela bíblica Gênesis na Record, o que impedia de acompanhar as duas tramas. E também registrou questionamentos sobre a compra da nove religiosa. Em termos de crítica, a Ouvidoria aponta apenas que se trata de um conteúdo oneroso, porém, de interesse do público, merecendo mais atenção no horário de exibição e disponibilização correta no aplicativo.

A Ouvidoria também registrou elogios à entrada das emissoras da EBC na banda estendida da FM, porém, como a Ouvidoria Cidadã também registrou (https://ouvidoriacidadaebc.org/radios-nacional-na-banda-estendida-da-fm/), houve dúvidas sobre como sintonizar a nova faixa nos aparelhos de rádio.

Saudamos um registro merecido feitos pela Ouvidoria da EBC, mas que não foi objeto de análise pela Ouvidoria Cidadã: os 40 anos do Viva Maria, programete produzido por Mara Régia. Além de uma edição especial com duração estendida, o Viva Maria recebeu uma série especial na Agência Brasil sobre a importância que o programa teve para a transformação social de mulheres em todo o país.

 

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