A expressão “para inglês ver” surgiu no Brasil na primeira metade do século 19, quando a Inglaterra aboliu o tráfico escravagista e tentou impor os valores abolicionistas e liberais ao mundo. Pelas importantes relações comerciais que mantinha com a Coroa Britânica, o governo Regencial do Brasil, promulgou, então, a Lei Feijó, que declarava livres os africanos desembarcados em portos brasileiros a partir de 1831. Como sabemos, a lei “não pegou”, uma norma demagógica e mal feita que serviu apenas “para inglês ver”.
Para inglês ver é o que parece ser também o programa PR Sustentável, noticiado na Agência Brasil como medidas revolucionárias capazes de mudar os rumos da política ambiental do país (https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-05/programa-de-sustentabilidade-do-planalto-planta-ipes-em-estacionamento).
“Contratação de empresa especializada para gerenciamento de resíduos sólidos; plantação de 300 ipês; e capacitação, sensibilização e conscientização dos servidores do Palácio do Planalto”, anuncia o texto publicado na agência de notícias que deveria ser pública. A “matéria” parece um release divulgado para a imprensa, com falas apenas de secretário-geral da Presidência da República, general Luiz Eduardo Ramos, setor responsável pelo programa, além do secretário executivo da Secretaria-Geral, Mário Fernandes.
Por mais que a iniciativa seja louvável, o alcance é ínfimo, já que restrito apenas ao prédio do Palácio do Planalto. Não há, no texto, contextualização, falas divergentes nem ao menos menção às recentes decisões do Supremo Tribunal Federal que revogou decretos do governo na área ambiental, como o que retirava a participação popular do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Meio Ambiente (https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2022-04/stf-anula-decreto-que-alterou-composicao-do-fundo-do-meio-ambiente) e o que concedia licenças ambientais automaticamente (https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2022-04/licenca-ambiental-nao-pode-ser-concedida-de-forma-automatica-diz-stf).
Não é função da comunicação pública dar palanque para iniciativas pífias enquanto grandes problemas ambientais assolam o país, como o garimpo ilegal em terras indígenas (https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-12/operacao-yanomami-contra-garimpo-ilegal-apreendeu-111-aeronaves).