Para além da cobertura do ato na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) que levou este nome, neste 11 de setembro, que marcou os 50 anos do golpe militar no Chile e da morte do presidente Salvador Allende, a Agência Brasil preparou uma série de reportagens especiais.

O ato na ABI, organizado em parceria com a Fundación Salvador Allende, contou com a participação de Javiera Parra, neta da cantora Violeta Parra, e Isabella Thiago de Mello, nascida no Chile à época de Allende, filha do poeta Thiago de Mello. O texto traz um comovente depoimento do jornalista Eric Nepomuceno sobre os dias em que viveu clandestinamente no Chile após o golpe de Augusto Pinochet e como entrou para a lista de “inimigos do Chile”. O fato de Nepomuceno ser atualmente superintendente da EBC no Rio de Janeiro incomoda um pouco do ponto de vista do oficialismo, mas a entrevista é muito relevante para a data. Assim como as histórias de brasileiros exilados no Chile após o golpe militar de 1964 e que passaram por novo golpe no país andino em 1973, como o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc.

As matérias especiais, produzidas para a data pelo repórter Rafael Cardoso, foram publicadas logo cedo. Chile, 50 anos do golpe: a luta contra um passado mal resolvido traz fotos históricas da Biblioteca Nacional do Chile que enriqueceram ainda mais o texto. Uma verdadeira aula, a matéria conta a trajetória de Allende até a eleição, levando o socialismo ao poder pela primeira vez por meio do voto popular, sem o processo revolucionário. Além do contexto geopolítico interno e externo que levaram ao dramático golpe, com direito a bombardeio aéreo ao palácio presidencial e o suicídio de Allende (que não se rende), e como foram os 16 anos da sangrenta ditadura Pinochet, com estimativa de 40 mil pessoas torturadas, assassinadas ou desaparecidas, bem como o aumento da desigualdade social com a implantação de políticas econômicas neoliberais.

Um recado importante que a reportagem traz: “Relembrar o golpe e a ditadura, nesse contexto atual, é um exercício importante de memória e de resistência contra um passado que insiste em não ir embora. Seja no Chile, no Brasil ou no restante do mundo”.

A reportagem Canções por justiça: o movimento musical atacado pela ditadura chilena traz a história de luta, resistência e assassinatos enfrentado pelo movimento Nueva Canción Chilena, com destaques como Violeta Parra e Víctor Jara, que colocou a música como meio de intervenção política na sociedade. Murais de luta e esperança: a arte que resistiu à ditadura chilena mostra como a pintura de muros no país representou uma forma de resistência deste a décad de 1970 e que permanece até os dias atuais.

A última matéria especial para a data foi a entrevista feita pelo repórter Alex Rodrigues com o embaixador do Chile no Brasil, Sebastian Depolo Cabrera. Estado chileno promete assumir busca por desaparecidos na ditadura relata a retomada democrática no país andino, o que incluiu o traslado dos restos mortais de Allende e, mais recentemente, a instituição da busca pelos mais de mil desaparecidos como uma política de Estado. Além dos eventos para marcar os 50 anos do golpe.

O fotógrafo Evandro Teixeira também foi lembrado pela Agências em duas reportagens, sobre a exposição no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e outra no Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago.

 

TV Brasil

A data também foi lembrada pela TV Brasil, que exibiu no Repórter Brasil Noite uma reportagem com depoimento de pessoas que presenciaram o violento golpe, como os fotógrafos Fernando Rabêlo e Evandro Teixeira. Imagens do bombardeio e de Pinochet ilustraram a matéria, que enfatizou a participação do governo brasileiro na repressão chilena. Outra reportagem trouxe outras imagens históricas e o depoimento do chileno Rodrigo Tavalori, agente de viagens que tinha 17 anos no dia golpe, e de Jair Krischke, ativista de direitos humanos, que falou da atuação do Brasil na ditadura do Chile. O embaixador Sebastian Depolo Cabrera também apareceu na reportagem, explicando o projeto de busca aos desaparecidos. Eric Nepomuceno também deu seu depoimento à TV Brasil.

O telejornal também mostrou rapidamente o evento na ABI e imagens de Santiago mostraram as cerimônias no Chile, além de uma entrevista ao vivo com o professor da UFF Norberto Ferreira relembrando a importância da memória desses atos atrozes da humanidade para que não se repitam. No telejornal vespertino, Repórter Brasil Tarde, foram exibidos os protestos em Santiago que marcaram a data.

Já no Instagram da TV Brasil, chamou a atenção a postagem de um bicho preguiça se arrastando entre carros no asfalto e nada sobre o Chile.

 

Poderia ter seguido o exemplo da TV Pública da Argentina, que postou um vídeo com imagens históricas do golpe chileno e áudio de Salvador Allende.

Radioagência

Na Radioagência Nacional, encontramos apenas uma reportagem sobre o tema. Chile, 50 anos do golpe: a luta contra um passado mal resolvido traz um breve histórico sobre a ditadura chilena e indica a leitura das reportagens da Agência Brasil, uma boa iniciativa crossmidia. Porém, no texto que acompanha a publicação, o link está com erro.

Considerando a importância da data e a participação do Brasil nos eventos do Chile, tanto apoiando a ditadura na época quanto nas cerimônias de agora em Santiago, cabia à comunicação pública fazer uma cobertura mais intensa in loco. Ainda mais considerando que o tema foi preterido da mídia comercial. O principal telejornal do país, o Jornal Nacional da TV Globo, não dedicou um minuto sequer à efeméride ao dia 11 de setembro do Chile. Enquanto mostrou um memorial novo sobre o 11 de setembro de Nova York.

Observamos um esforço do jornalismo online em cobrir a efeméride à distância, com matérias importantes. Pontuamos, no entanto, a ausência de menções ao golpe em entrevistas, documentários, debates, programas especiais de rádio e de TV. A própria matéria sobre a Canção de Protesto Chilena poderia ter sido melhor aproveitada no rádio, se houvesse alguma integração, assim como a reportagem feita para a TV Brasil deveria estar nas redes sociais da emissora pública. Outros formatos, como interprogramas, tradição na emissora, poderiam ter sido pensados, inclusive, para inaugurar a discussão sobre os 60 anos do golpe no Brasil, que serão completados em 2024.

Esperamos que, com toda essa antecedência, em 2024 a EBC consiga ofertar conteúdo sobre a ditadura civil militar brasileira que nos leve a reflexão crítica, como é sua missão.

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