Mesmo com as proibições vigentes no período eleitoral de divulgação de atos de ocupantes de cargos públicos que sejam candidatos e desequilíbrio na cobertura jornalística, a TV Brasil insiste em privilegiar apenas Jair Bolsonaro em sua programação. As interrupções na grade para transmitir eventos ao vivo pararam de ser feitas em julho, já dentro do período eleitoral, mas permanece no ar o jornal Brasil em Dia, exibido de segunda a sexta-feira às 8h.

No dia posterior ao primeiro turno das eleições gerais, o noticioso foi o primeiro da emissora pública a dar o resultado da votação e colocou no ar duas “reportagens” dando amplo espaço para o atual presidente. A primeira focou na declaração à imprensa dada depois de definido o segundo turno entre Bolsonaro e Lula e a segunda matéria mostrou a votação do presidente no início da manhã de domingo, com direito a declaração na porta do colégio. Ganhador do primeiro turno, Lula foi apenas citado pela apresentadora como concorrente direto na segunda rodada de votação. Não foi mencionado o percentual de votos de cada candidato.

É mais um crime eleitoral cometido pela emissora pública. No site da EBC, o Brasil em Dia é descrito como “Programa jornalístico exibido pela TV Brasil de segunda a sexta, às 8h”. Não é mencionado o fato de o jornal exibir apenas “notícias” e divulgações do governo federal.

O jornal foi criado com a fusão ilegal das grades da TV Brasil com a NBR, em abril de 2019, que extinguiu a frágil separação que existia entre a comunicação governamental e a comunicação publica dentro da Empresa Brasil de Comunicação. A página do programa no YouTube é mais sincera: “Acompanhe, as principais notícias do governo federal e da presidência”, diz a descrição do vídeo.

A Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública levantou que no início do período de propaganda eleitoral, de 22 de agosto a 3 de setembro, a TV Brasil colocou no ar 27min41s de aparições de Jair Bolsonaro nos telejornais Brasil em Dia, Repórter Brasil Tarde e Repórter Brasil Noite. Isso excluindo as aparições em reportagens sobre agenda dos candidatos à Presidência.

A essa exposição privilegiada de um candidato, se somam as frequentes entrevistas de ministros no programa de rádio A Voz do Brasil, que é da comunicação governamental mas tem sido utilizado recorrentemente para abrir o telejornal Repórter Brasil. Como no dia 15 de setembro, em que Paulo Guedes passou 23 minutos elogiando as medidas econômicas do governo Bolsonaro.

O TSE já pediu explicações sobre o uso político da TV Brasil em favor de Bolsonaro, por causa da transmissão da reunião que o presidente fez com embaixadores na qual desacretidou o sistema eleitoral brasileiro, sem apresentar provas. Mas a prática continua.

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