Em pouco mais de um ano, a Radioagência Nacional conseguiu se consolidar como espaço de excelentes podcasts. Em fevereiro de 2023, destacamos aqui a primeira produção de grandes reportagens seriadas pelo veículo, com a primeira temporada do Histórias Raras.

Falamos agora de um trabalho primoroso. Neste mês de abril, está sendo publicada a série  Perdas e Danos: Futuro interrompido, sobre o Brasil que poderia ter sido se não tivesse ocorrido o golpe civil militar de 1964.

Com produção, reportagem e narração de Sumaia Villela e Eliane Gonçalves, além de uma grande equipe envolvida, incluindo trilha sonora de um artista da casa, o jornalista Nelson Lin, o primeiro episódio foi colocado no ar no dia primeiro de abril, quando se completaram 60 anos do golpe.

No áudio, é anunciado ser a primeira temporada da série, mas não se detalha quantas temporadas serão, nem quantos episódios cada uma terá. Isso prejudica um pouco o acompanhamento do trabalho como um todo, sem uma perspectiva de quanto tempo o ouvinte terá que dedicar à escuta da produção. Parte da informação está no texto publicado junto com o primeiro episódio:

“Golpe de 64: Perdas e Danos lança luz sobre os dias que antecederam o golpe de 1964. Batizada de Futuro Interrompido, a primeira temporada da série resgata os embates em torno das propostas do ex-presidente João Goulart que serviriam de estopim para que a direita se unisse e interrompesse o processo democrático. Em seis episódios, este documentário em áudio revisita registros históricos, ouve personagens que viveram este momento crítico e leva o ouvinte a refletir sobre o projeto de nação interrompido com o golpe que impediria Jango de levar adiante seu desejo de enfrentar problemas sociais crônicos que afetavam o país”.

O áudio detalha o que esperar do podcast: “que projeto estava sendo colocado em prática e foi interrompido? Quem não quis que esse projeto virasse realidade? E o que foi construído no lugar? Qual futuro foi interrompido antes do tempo?”

Com uma narrativa dinâmica, que mescla depoimentos, áudios históricos, leitura de notícias e entrevistas, o primeiro episódio descreve a tensão daqueles dias e as narrativas criadas para justificar o golpe. O segundo apresenta as tentativas de golpe no Brasil desde Getúlio Vargas, a batalha pela posse de João Goulart como presidente e como surgiram as reformas de base, pacote que pretendia fazer mudanças estruturais no país. No terceiro é introduzido o tema da reforma agrária.

Os próximos episódios serão publicados a cada quinta-feira, até o dia 9 de maio. Com cerca de 30 minutos cada, é um tempo bastante adequado para prender a atenção do ouvinte.

 

Podcast

Já não era sem tempo de a EBC se dedicar a esse formato jornalístico. Segundo o relatório DataReportal, o Brasil tinha, no início de 2024, 187,9 milhões de usuários de internet, uma penetração em 86,6% da população, com 144 milhões de usuários de redes sociais e 210,3 milhões de telefones celulares com conexão à internet ativos. O relatório aponta que, entre os usuários de internet na faixa etária de 16 a 64 anos, 71,5% ouvem podcast, com uma média de 1h04 por dia. No ano anterior, a pesquisa indicava 42,9% da mesma faixa etária como ouvinte semanal de podcast, com média diária de 1h17. Em 2020 o dado era de 36% e a informação não aparece no relatório de 2019.

Ou seja, bastante gente no Brasil, e a cada dia mais pessoas, têm o costume de ouvir narrativas em áudio sob demanda pela  internet. Claro que nem todos os podcasts ouvidos são jornalísticos, mas é um público considerável. Além do quê, o formato permite aprofundar temas e experimentar linguagens que não costumam ser encontradas nos espaços tradicionais de jornalismo, onde normalmente o espaço é reduzido e não permite grandes reportagens.

Importante lembrar que as primeiras empresas de mídia a incentivar os podcasts foram as emissoras públicas, com destaque para a NPR, nos Estados Unidos. Mas não só, a BBC, na Inglaterra, a CBC, do Canadá, e a ABC, da Austrália, lideram a expansão desses conteúdos nas plataformas, no chamado rádio expandido, e tornaram-se referência.

No Brasil, na EBC não ouvimos falar sobre “podcasts” até recentemente. O setor era incipiente até 2022, de acordo com a pesquisa apresentada ao Intercom “EBC e o (pouco) investimento na produção de podcasts”. Nela, investigadores das universidades federais de Ouro Preto (UFOP) e de Minas Gerais (UFMG) concluíram que a empresa “patina na produção de podcasts” entre as suas sete (!) emissoras públicas. Ainda bem que este panorama está mudando.

Na Radioagência, foram publicadas até o momento as seguintes produções, com formatos bastante diferentes cada uma:

Além da Radioagência estar escondida dentro do portal da Agência Brasil, outro aspecto técnico negativo é que ela não separa cada produção, portanto, todos os podcasts estão agregados no mesmo link https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/tags/podcasts-radioagencia-nacional, que pode ser acessado por meio de um quadro destacado na lateral direita da página inicial. O único que tem um quadro exclusivo na capa é o Crianças Sabidas, o que é válido tendo em conta que se pretende que seja um produto diferenciado. Mas, por enquanto, só há um episódio disponível. Essa configuração da capa da Radioagência é o que existe neste momento em que esta análise é escrita, já que os quadros destacados não são fixos.

Ao entrar em um episódio e buscar pela tag abaixo do texto, é possível encontrar a série completa agregada, mas não há nem ao menos um link em cada episódio para direcionar ao trabalho completo. Para melhorar a navegabilidade pelas séries e a visibilidade dos produtos, seria interessante criar uma página dentro da Radioagência para destacar os podcasts da casa, com uma outra página para cada produção. Onde poderiam ser publicados outros conteúdos relacionados, como por exemplo fotos, vídeos e áudios das entrevistas para quem quiser se aprofundar ainda mais nos temas.

PS. No dia 20/04 foi publicado um novo episódio do Crianças Sabidas, sobre os 60 anos do golpe militar de 1964.

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