Esta Ouvidoria Cidadã da EBC recebeu a reclamação de um telespectador da TV Brasil, que criticou o programa Parques do Brasil, em especial o episódio sobre o Parque Nacional das Emas, no Goiás. Para ele, a narração e o formato são muito antiquados. “Parece coisa de 30 anos atrás, o texto e a apresentação. Péssimo!”, afirmou o telespectador.
O programa estreou na grade da TV Brasil em junho de 2018 e é feito em parceria entre três instituições públicas: a Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, a TV Brasil/EBC e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Lembramos que naquela época, a EBC já passava por um duro processo de desmonte dos serviços públicos e os conteúdos veiculados tendiam a ser acríticos de uma forma geral e favoráveis ao governo.
Na sinopse do programa (disponível aqui: https://tvbrasil.ebc.com.br/parquesdobrasil), a emissora afirma que Parques do Brasil tem o objetivo de “promover a popularização do conhecimento científico sobre a biodiversidade nos parques nacionais e outras unidades de conservação brasileiras, enfatizando a relação entre o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida das pessoas”.
No episódio sobre o Parque Nacional das Emas não encontramos nenhuma informação sobre saúde nem qualidade de vida. Também faltaram informações práticas, como se o parque é aberto à visitação pública e que serviços oferece (ou não) para os visitantes.
Entre as informações que a sinopse da série promete estão “histórias sobre a fauna e a flora, os processos ecológicos, os serviços ambientais e o patrimônio histórico e cultural” das áreas retratadas. “Com belas imagens em alta definição, cada documentário será narrado como um diário de expedição”. “A natureza é a protagonista da série Parques do Brasil”, diz a sinopse do vídeo de apresentação do programa, que também está disponível pelo aplicativo para smartphones EBC Play.
As imagens são realmente belas, ou, de uma “beleza harmônica”, como narrado no episódio. Predominam as tomadas aéreas, intercaladas com planos detalhe nos bichos e flores, além de mapas e ilustrações que complementam as informações. Porém, o formato e a narrativa lembram os documentários do Discovery Channel sobre a vida selvagem, com a criação de situações humanizadas para os animais retratados em seu habitat natural, insinuando sentimentos como amor e ciúmes, que “nos deixa emocionados com aquela cena”.
O texto é muito descritivo, alternando entre o formato “diário de expedição” e informações científicas. Numa tentativa de ser poética, a narração fica hiperbólica e ufanista. Tudo enfatizado por uma trilha sonora instrumental dramática. Algumas frases utilizadas no episódio analisado: “Estamos num lugar que parece o berço de todos os outros lugares”; “tudo parece infinito, eterno, intocado pelo homem”; “uma calma aparente esconde uma natureza poderosa”; “somos tomados por sensações e experiências incomparáveis”; e “Formoso é pouco, este rio é deslumbrante”, se referindo ao Rio Formoso, que corta a área do parque.
Também há contradições no texto. No início fala que o ambiente parece “intocado pelo homem”, para depois mostrar as estradas que cortam e circundam o parque, as plantações de soja ao redor e o sistema de aceiros, que intercala áreas de vegetação e estradas para evitar incêndios de grandes proporções.
Outro exemplo de contradição é o “parece eterno”, para depois explicar que o chapadão foi “desgastado pelo tempo” e, por fim, afirmar que aquele ambiente corre o risco de desaparecer:
“Não foi sem razão que declararam este parque Patrimônio Natural da Humanidade. Um pedaço que restou de um mundo maravilhoso, ainda tão pouco conhecido, que pode desaparecer para sempre. Nós não podemos deixar isso acontecer”.
Consideramos a série um bom exemplo de conteúdo para a comunicação pública, com informações relevantes sobre a biodiversidade brasileira e belas imagens. Mas concordamos com o telespectador que enviou a reclamação: a narrativa é antiquada e desnecessariamente hiperbólica e ufanista.