Os Sindicatos dos Jornalistas do DF, SP e RJ cobraram explicações da direção da EBC pelo limitado número de profissionais dos veículos de jornalismo público enviados para o Rio Grande do Sul (RS), com vistas à cobertura da maior catástrofe ambiental da história do Brasil, iniciada no dia 29 de abril.
Julgamos que o tratamento dado pela empresa para a cobertura da catástrofe no RS é falha grave quanto à observância da missão constitucional e legal da EBC, e não visualizamos qualquer justificativa plausível para tal situação.
Inicialmente, o jornalismo da EBC só enviou o âncora do Repórter Brasil, Guilherme Portanova, e um cinegrafista para a cobertura in loco. A dupla seguiu para lá no dia 2 de maio, e somente no dia 10 de maio uma segunda equipe da TV Brasil foi deslocada. Durante todo este primeiro período, Portanova acumulou sozinho uma cobertura extremamente complexa e desgastante, com foco no telejornal Repórter Brasil Noite (RBN). Enquanto isso, os demais veículos públicos da EBC, que, vale lembrar, é um conglomerado de mídia, fazem praticamente uma cobertura à distância dos acontecimentos.
Também foi informado que, nos últimos dias, tenta-se enviar um repórter e um fotógrafo da Agência Brasil, o que, até o momento, não se efetivou (e, frisamos, ainda é insuficiente para a cobertura). Temos ainda o radiojornalismo (que fornece conteúdo tanto para as emissoras da Rádio Nacional como para a Radioagência Nacional) sem qualquer previsão de envio de equipe.
Causa espanto que não se tenha colocado enorme esforço para enviar um contingente muito maior de profissionais para a região. É óbvia a necessidade de um contingente profissional amplo, tanto em função do volume de notícias como das dificuldades de deslocamento, que impedem uma cobertura ágil feita por uma única equipe. A exaustão da mínima e insuficiente dupla que estava por lá desde o dia 2 só demonstra o quão inadequado foi o planejamento da gestão.
A Agência Brasil tem usado fotos da agência internacional Reuters, com quem possui contrato, para suprir a carência de uma cobertura in loco dentro do próprio país. E essas imagens só servem para ilustrar as notícias no site. Elas não cumprem o objetivo principal do veículo, que é a distribuição gratuita de conteúdo para a imprensa dentro e fora do país, gratuitamente. Soa algo inacreditável que a principal agência pública de notícias do Brasil dependa de uma agência estrangeira para fazer a cobertura de uma catástrofe ambiental sem precedentes e que ocorre em território nacional.
O que explica tantos dias de demora para enviar equipes para além do âncora do telejornal da TV Brasil? Por que não será enviado um repórter do radiojornalismo, até mesmo tendo em vista o uso do sinal de ondas curtas da Rádio Nacional da Amazônia, para uma cobertura mais qualificada dos eventos?
Diversas outras emissoras, incluindo as privadas e as emissoras por assinatura, mantêm diversas equipes desde o início dos eventos, numa cobertura detalhada e reforçada em vários pontos do estado.
A EBC, por lei, tem compromisso informativo com questões essenciais de cidadania, sobretudo em um momento de calamidade, onde o direito à informação torna-se essencial para a efetividade das ações do poder público e para a sobrevivência das pessoas. Isso se torna ainda mais relevante em um contexto de profusão de informações falsas, que atrapalham os trabalhos de resgate e acolhimento.
Falta de prioridade
Essa negligência é reflexo da falta de prioridade que a direção tem dado ao jornalismo público da EBC, haja visto o desmonte promovido no início do governo, com o corte de quase metade da estrutura de gestão dos veículos de jornalismo público; e a falta de cobertura in loco de outros eventos climáticos relevantes, como a seca no Amazonas no ano passado, por exemplo.
Consideramos que, pelo seu papel, a EBC deveria estar na linha de frente da cobertura jornalística sobre questões ambientais e mudanças climáticas, que fazem parte, inclusive, da agenda geopolítica central do Estado brasileiro na atualidade.
A alegada falta de verbas tampouco é motivo plausível, uma vez que contratos milionários continuam sendo celebrados e que os veículos governamentais seguem abastecidos com viagens e diárias que saem do orçamento da EBC.
Por todo o exposto, as entidades cobraram, em ofício, explicações sobre os motivos que justificam o não envio imediato de equipes de reportagem dos veículos de jornalismo público da EBC, contrariando a missão da EBC prevista em lei e inviabilizando a garantia do direito à informação gratuita e de qualidade para a população brasileira.
Sindicatos dos Jornalistas do DF, RJ e SP