Uma notícia publicada pela Agência Brasil no dia 18 de agosto nos chamou a atenção. O título causa estranheza: “Resultado de leilão aeroportuário deixa ministro muito satisfeito” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2022-08/resultado-de-leilao-aeroportuario-deixa-ministro-muito-satisfeito?fbclid=IwAR0IsBRf9cG6C8IxnL95WzZRKhdZLFUieBo9Q-kPwkpb9PDhmc_V04k8W3Y). O ministro em questão é o da Infraestrutura, Marcelo Sampaio.

Mas como assim “deixa ministro muito satisfeito”? Estamos falando de uma agência de notícias que deveria fazer comunicação pública! O título de uma reportagem deve refletir o que houve de mais importante no fato noticiado. O fato do ministro ter ficado “muito satisfeito” é o mais importante, em se tratando de um leilão de privatização de equipamentos de uso público?

Um título desse não é digno nem de blogs pessoais. Nem a assessoria de imprensa tratou o caso com tanta pessoalidade. O próprio Ministério da Infraestrutura deu para a mesma notícia um título muito mais atrativo e de interesse público: “Sétima rodada: Aena, XP e consórcio Novo Norte vão investir R$ 7,3 bilhões em 15 aeroportos brasileiros” (https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/noticias/2022/08/setima-rodada-aena-xp-e-consorcio-novo-norte-vao-investir-r-7-3-bilhoes-em-15-aeroportos-brasileiros).

As mesmas informações constam no texto da Agência Brasil, mas a agência de notícias preferiu enfatizar o estado de espírito do ministro do que o impacto que a concessão dos aeroportos trará aos usuários. Nenhuma das duas matérias contextualizou as privatizações ou ouviu movimentos contrários à entrega de equipamentos públicos para a iniciativa privada, mas apenas a agência que deveria ser pública preferiu enfatizar o ministro aos aeroportos.

 

Reunião

Numa linha parecida, a Agência Brasil publicou no dia 24 de agosto a notícia “Aras se reúne com ministro da Defesa e comandantes da Forças Armadas” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2022-08/aras-se-reune-com-ministro-da-defesa-e-comandantes-da-forcas-armadas). Além da falta de concordância de número, o título não chama a atenção para o motivo da reunião nem possíveis decisões que tenham sido tomadas nela. O lide é a própria reunião.

Nesse caso, nem informações adicionais foram apresentadas para justificar a publicação da notícia. Sobre o encontro, apenas que “segundo a PGR, na reunião foi discutido o papel das instituições”.

No final, duas linhas tentam contextualizar o fato, sem sucesso: “O Ministério da Defesa e representantes das Forças Armadas fazem parte da comissão externa que faz a inspeção dos equipamentos da urna eletrônica”.

Não há menção à tentativa reiterada do presidente Jair Bolsonaro em provocar desconfiança sobre o sistema eleitoral, com apoio de boa parte das Forças Armadas.

Lembramos uma regra bem básica do bom jornalismo: títulos devem trazer a informação mais importante da notícia. Importante para quem lê, e não para o personagem da notícia.

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