Por Luiz Ferreira
Publicado originalmente na coluna Papo esportivo, do Brasil de Fato Rio de Janeiro

 

Enquanto a grande imprensa insistiu em fechar os olhos, a TV Brasil fez uma transmissão de ouro

Os Jogos Paralímpicos de Tóquio foram oficialmente encerrados neste último domingo (5) com uma série de recordes e marcas históricas para os atletas do Time Brasil. Nossos atletas deixaram o país no honroso sétimo lugar no quadro de medalhas, com 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze (72 no total).

A certeza de que o paradesporto brasileiro está num ótimo caminho pode ser comprovada em modalidades como o atletismo, a natação, o goalball, o futebol de 5, o vôlei sentado, o parataekwondo e a paracanoagem.

Vimos a despedida de Daniel Dias, o maior medalhista paralímpico da história, o choro de Beth Gomes, recordista mundial no lançamento de disco, os golaços da Seleção Brasileira de Futebol de 5, a consagração de Carol Santiago nas piscinas com as suas três medalhas de ouro e muito mais.

E também vimos que a nossa TV pública cumpriu seu papel com louvor ao levar a emoção das Paralimpíadas para todo o país em sinal aberto com mais de 111 horas de transmissão em treze dias de competições.

O que vocês vão ler aqui é a experiência de quem esteve no meio das engrenagens durante todo esse período.

Os relatos de mais um funcionário público concursado que convive com as ameaças de privatização da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), da perda do seu emprego, da precarização do serviço público e que, mesmo assim, se doou de corpo e alma para que o papel de uma emissora pública de comunicação fosse cumprido ao máximo. Assim como todos os outros funcionários que trabalharam e contribuíram de alguma forma nas transmissões.

Não esperem um desabafo. Há gente muito mais capacitada do que eu para fazer isso. O que quero mostrar aqui é que as emissoras públicas de rádio e TV têm sim muita qualidade e merecem seu espaço.

Tudo começa no dia 24 de agosto. A TV Brasil foi a única emissora que disponibilizou a transmissão da cerimônia de abertura em sinal aberto para todo o país com mais de três horas de transmissão ininterruptas. E como mais uma das “engrenagens” desse processo todo, ver as mensagens que chegavam dos amigos (que eram avisados por meio das redes sociais da transmissão) era gratificantes e indicavam que estávamos no caminho certo.

As competições na natação e no atletismo trouxeram o glamour que toda Paralimpíada tem. E ainda temos os recordes obtidos pelos nossos atletas. Nas piscinas, nas pistas, nos campos, nas águas e nas quadras.

Falamos muito sobre deficiência. Mas a deficiência que existe no nosso raciocínio e na nossa percepção de todas as coisas maravilhosas que nossos atletas estavam fazendo lá em Tóquio.

Muito mais do que o ufanismo bem característico desta ou daquela outra emissora mais famosa, nos preocupamos em falar do que estava acontecendo, das adaptações realizadas em cada prova e do potencial de cada atleta que estava competindo.

A única “superação” mencionada era a superação do atleta em si. Superar suas marcas, ser o mais rápido, o mais forte e quebrar recordes. Talvez a principal missão da sua TV pública foi lembrar a todos que Daniel Dias, Carol Santiago, Beth Gomes, Ricardinho, Parazinho e vários outros são atletas de alto rendimento. E gente como a gente também.

Cada um com seu jeito de ser, a sua particularidade, seus problemas, conflitos, certezas e incertezas. E posso dizer que essa missão foi cumprida sim. Com todo o louvor de quem recebe uma medalha de ouro.

Existem problemas? Claro! Como em qualquer outra emissora de TV ou rádio. Como em toda casa, em toda família.

Há pessoas de dentro da empresa que jogam contra por pura mesquinharia ou inveja de quem se destaca no serviço, que usam o cargo para aparecer “bem na fita” para este ou aquele diretor e/ou político, que se aproveitam do sucesso da nossa transmissão para “vender seu peixe”. Que se esquecem de quem esteve por trás das câmeras, de quem esteve nos bastidores organizando tudo e de quem se preocupava em levar uma garrafa d’água para quem estava ralando em mais de seis horas de transmissão seguidas por dia.

Foram mais de 111 horas de transmissão de um dos maiores eventos esportivos do mundo e a certeza de que muita gente se encantou com os nossos atletas, que vibrou com as medalhas conquistadas e que chorou com eles quando o resultado não veio. Enquanto a grande imprensa insistiu em fechar os olhos para as Paralimpíadas e só colocava boletins no ar em pequenos pedaços da programação, a TV Brasil esteve firme. Mesmo com todos os problemas e dificuldades.

É lógico que os ataques à comunicação pública não vão cessar depois da transmissão da Paralimpíada.

Acredito até que eles aumentem, já que cada funcionário público concursado mostrou (pela milésima vez) que tem capacidade de entregar um serviço de qualidade altíssima mesmo com a falta de recursos e a estrutura mais precária do que outras emissoras comerciais.

Mas o que nenhum desses ataques mostra é que emissoras históricas como a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Rádio Nacional da Amazônia, as rádios MEC AM e FM e várias outras tiveram uma contribuição inestimável na formação de uma identidade nacional. E que cada uma delas ainda se faz muito presente no imaginário de cada cidadão brasileiro.

Não me refiro apenas às transmissões esportivas. Falo de música, de literatura e de mais uma série de coisas incríveis realizadas por cada uma dessas emissoras ao longo de quase um século. Nenhum desses ataques mostra que a TV Brasil tem uma excelente programação infantil, programas culturais dedicados à música brasileira de altíssima qualidade e que ainda cumpre a missão de levar competições como a Liga Nacional de Futsal e o Campeonato Brasileiro da Série D (completamente ignorado pela grande imprensa) para todo o país. Fora toda o trabalho realizado na Agência Brasil, nos sites e nas redes sociais.

A verdade, meus consagrados, é que a gente trabalha pra caramba!

Aos críticos e defensores da privatização da EBC, deixo apenas as imagens de Daniel Dias entrando na cerimônia de encerramento realizadas pela nossa câmera exclusiva e o suor, noites em claro, esforço, dedicação de cada funcionário que estava aqui ou em Tóquio. Concursados ou não.

Por fim, é preciso dizer que a transmissão das Paralimpíadas deixa uma pontinha de esperança em cada funcionário. Ainda que os problemas existam dentro e fora da EBC. Ainda que o fardo seja pesado. Ainda que tenha gente jogando contra sentando do nosso lado todos os dias.

Sigamos. A gente há de vencer mais essa.

 

Edição: Mariana Pitasse

Confira a publicação original: https://www.brasildefatorj.com.br/2021/09/08/papo-esportivo-paralimpiadas-na-tv-publica-a-experiencia-por-tras-das-cameras

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