No dia da divulgação do mais importante relatório sobre conflitos no campo, na última segunda-feira (18), foi ao ar, pela Radioagência Nacional, uma matéria que resultou do esforço de cinco profissionais, contando repórter, redação, edição e sonoplastia, sobre os 110 anos da chegada de sobreviventes do Titanic a Nova York. Considerável empenho.

Na TV Brasil, as chefias, avisadas, com antecedência, por repórteres que anteriormente produziram matérias sobre o assunto, também decidiram não abordar o relatório da Comissão Pastoral da Terra, que faz denúncias importantes, como sempre. O documento destacou que, em 2021, foram registrados 35 assassinatos e um total de 1.768 conflitos no campo, no Brasil.

Na Agência Brasil, diversas matérias frias, que poderiam ter sido apuradas, escritas e veiculadas em outro momento. Trataram da volta dos Doutores da Alegria em unidades de saúde do Rio de Janeiro, de cursos online oferecidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e vagas do Programa Petrobras Jovem Aprendiz (PPJA). Conteúdo de serviço, provavelmente encaminhado por assessorias de imprensa.

Aliás, na EBC, durante este governo, o que mais se aproveita é o chamado release, material elaborado e enviado por assessores de comunicação. Porém, depende. Se forem de organizações como a CPT, são absolutamente ignorados. Quase não se sai mais à rua para apurar informações, além de não haver mais reuniões de pauta com a participação de repórteres.

A edição deste ano do relatório da CPT foi, inclusive, apresentada em coletiva presencial, em Brasília. Para nós, da Ouvidoria Cidadã, significa que os bons jornalistas da EBC poderiam muito bem aproveitar a ocasião para apertar o governo federal, fazendo aos representantes da CPT perguntas consideradas inconvenientes pelas autoridades governamentais, cobrando responsabilidade. Uma delas, por exemplo, poderia ser relativa ao alto número de pessoas resgatadas de trabalhos análogos à escravidão, o maior visto desde 2013.

Perguntamos: até quando permanece a censura na EBC?

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