Apesar do título burocrático, “Quilombolas respondem pela primeira vez ao Censo Demográfico” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-10/quilombolas-respondem-pela-primeira-vez-ao-censo-demografico), a reportagem da Agência Brasil, escrita quase como uma crônica, retratou de forma sensível o trabalho que os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fizeram no dia 3 de outubro na comunidade quilombola da Pedra Bonita, dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Do ineditismo do levantamento, a emoção aflora na fala de dona Eulália Ferreira da Silva, 61 anos, a guardiã da história oral da comunidade:

“Nos dados e registros oficiais, nós não existíamos em mais de 150 anos. Por isso, é uma data tão importante e histórica. Estamos sendo reconhecidos como cidadãos brasileiros. Fomos esquecidos por séculos. Não podem nos tornar invisíveis e esconder uma história que é notória e que a gente tem registro em fotos e documentos antigos.”

Eulália Ferreira da Silva, referência religiosa local, no espaço de culto da comunidade quilombola de Pedra Bonita, no Alto da Boa Vista, região norte do Rio. Censo demográfico do IBGE identifica pela primeira vez a população e o território das comunidades quilombolas no Brasil. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O texto traz a história da comunidade, que se formou a partir de 1860, quando os primeiros moradores foram levados para a região para trabalhar no reflorestamento da área. Relata também as dificuldades que eles passam, como o acesso das crianças à escola e a prioridade para tomar a vacina da Covid-19, que não foi cumprida, além das ameaças de despejo desde a criação do Parque Nacional da Tijuca, em 1961. O reconhecimento da comunidade como quilombola veio apenas em junho do ano passado.

O fato de que o IBGE visitaria pela primeira vez as 5.972 localidades quilombolas já havia sido noticiada pela Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-08/ibge-inicia-censo-em-territorios-quilombolas) e outros sites, porém, não encontramos nenhuma outra reportagem que tenha acompanhado os recenseadores. Apenas as que republicaram o conteúdo da Agência Brasil. O trabalho da comunicação pública foi reconhecido pela própria comunidade da Pedra Bonita, como relatado no texto:

“A reportagem da Agência Brasil, que havia pedido autorização para acompanhar os trabalhos, também foi surpreendida com uma homenagem. Os quilombolas entregaram uma placa na qual agradeceram ‘pelo nobre trabalho de documentar a realização do primeiro recenseamento da história destas famílias, levando o conhecimento histórico que vincula a memória jornalística e a memória nacional’”.

Reconhecimento mais do que justo ao repórter Léo Rodrigues e à repórter fotográfica Tânia Rêgo.

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