Desde o dia 12 de junho de 2023, discursos e eventos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não interrompem mais a programação da TV Brasil. O anúncio, não oficial, veio pela voz do presidente da EBC, Hélio Doyle, em uma reportagem da Revista Piauí (https://piaui.folha.uol.com.br/menos-lula-na-tv-brasil/). A notícia é boa. Será que finalmente a TV Brasil vai voltar aos trilhos da comunicação pública?

As interrupções na grade da TV Brasil foram denunciadas por esta Ouvidoria Cidadã da EBC ainda em 2021 (https://ouvidoriacidadaebc.org/interrupcoes-da-grade-da-tv-brasil-para-eventos-com-bolsonaro-somaram-78h37-este-ano/) e também foi assunto de uma longa reportagem na mesma Revista Piauí em maio de 2022 (https://piaui.folha.uol.com.br/materia/irruuuu/). Diversos veículos da imprensa noticiaram a denúncia, em diferentes momentos.

Após a posse de Lula no dia 1º de  janeiro deste ano, apesar das promessas do gabinete de transição de fazer a separação entre as TVs pública e governamental, as transmissões do presidente persistiram e esta Ouvidoria Cidadão voltou ao tema no fim de janeiro (https://ouvidoriacidadaebc.org/cade-a-separacao-da-tv-brasil-publica-da-tv-governamental/). A promessa de separação foi reiterada em abril (https://ouvidoriacidadaebc.org/separacao-da-comunicacao-governamental-e-publica-e-volta-do-conselho-curador-continuam-na-promessa/). Levaram mais de cinco meses para tomar uma decisão simples, de não transmitir os eventos na TV pública, apenas na governamental. Antes tarde do que nunca.

 

Preocupações

Apesar dessa boa sinalização, outras declarações de Doyle na mesma reportagem trazem preocupação para a comunicação pública, como esta clara admissão de interferência governamental na EBC:

“A rigor, a EBC poderia ter acabado com as aparições de Lula ainda em janeiro. Mas havia, segundo Doyle, outro problema. ‘Essa compreensão da divisão [entre comunicação pública e governamental] não é universal nem mesmo no governo.’ Ele conta que, no começo do ano, ouviu uma reclamação de um aliado de Lula: ‘O presidente tá aparecendo na GloboNews, na CNN, na Record News, e a TV Brasil tá passando desenho animado?’ Segundo Doyle – que exibe em seu escritório fotos ao lado de Lula e Geraldo Alckmin –, o governo nunca soube separar bem as coisas. ‘A gente ficou meio amarrado.’”

Aqui, notamos ainda uma falsa simetria dos veículos, ao comparar três emissoras pagas all News – GloboNews, CNN e Record News – com uma emissora aberta generalista – a TV Brasil. O sistema de transmissão é diferente, o público é diverso, a construção da grade é outra. Não há que se comparar morangos com bananas.

Sobre a indicação da nova gestão de pessoas que eram chefes na EBC no governo Bolsonaro e operaram perseguições, censuras e desmonte da comunicação pública para continuarem com cargos, Doyle dá outra resposta que mostra sua vinculação com o governo:

“Os bolsonaristas que estavam aqui por indicação política, pessoas de fora do quadro, já saíram – ou porque quiseram, ou porque foram demitidos. Hoje, quem continua em cargos de confiança são empregados da empresa. E qual é nossa posição? O empregado público trabalha pra qualquer governo, não tem que escolher. Eles estão fazendo o trabalho normalmente.”

Ou seja, para Doyle, a EBC trabalha para o governo, e não para a sociedade, como preconiza a lei de criação da empresa, os princípios e objetivos da comunicação pública.

A data marcada para o lançamento da separação das duas TVs, com a TV Brasil 2 passando a chamar Canal Gov, é 24 de julho. Segundo a Revista Piauí. Aguardamos informações oficiais.

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